Hoje entrei numa casa-de-banho pública e estava a passar este
Walk On The Wild Side. Parece um tanto ou quanto
filmesco, mas aconteceu rigorosamente assim. A verdade é que a música está em todo o lado. Até num moderno
wc de
shopping.(Agora que penso nisso, será que mais alguém no mundo presta atenção à música que passa nas casas-de-banho por esse país fora? E se de facto alguém mais repara, que impacto teria essa canção na vida do utilizador do wc? E apesar de saber que a maior parte dos leitores deste blog vai achar esta reflexão ridícula e despropositada, vou partilhar ainda mais este pensamento escabroso: e se alguém for apresentado a este tema mítico de Lou Reed numa casa-de-banho pública, entre uma descarga de autoclismo e outra? É bem possível que nem se aperceba do que isso representa).
Como já devem estar carecas de saber,
The Velvet Underground & Nico mudou a minha vida. Enquanto melómana, pelo menos. Posso até dizer que para mim há um A.VU. e um D.VU. Duas eras distintas marcadas pela minha descoberta desse álbum e dessa banda seminal dos finais dos anos 60, e que Lou Reed liderava.
Curiosamente, comecei a ouvir os trabalhos de Reed a solo
antes de descobrir os Velvet Underground. Coisas de quem nasceu já na segunda metade dos anos 80... Havia qualquer coisa na música dele que me atraía como um íman, uma subversão, uma transgressão qualquer que eu só viria a perceber cabalmente depois de ouvir pela primeira vez o álbum da banana. Ali estava a resposta.
Se nos Velvet Underground a sonoridade é, de certa forma, mais frenética, cheia de distorção e feedback, em Reed a solo a transgressão, a inovação, é outra. É a forma descomprometida com que debita umas coisas, umas histórias, uns acordes minimalistas, é a forma como (não) canta, como arrasta as palavras.
Neste
Walk On The Wild Side isso ouve-se. Haverá coisa mais genial? Uma canção sobre droga, transsexualidade, homens que depilam as pernas, sexo, prostituição e uma Nova Iorque selvagem e frenética, enrolada numa sonoridade pouco comum, com linhas de baixo bem marcadas, um leve
escovar, um coro delicioso de
doo doo doos e, para terminar em beleza, um saxofone que se desfaz num
fade out memorável.
Isto é que é dar uma volta pelo lado selvagem.
Walk On The Wild Side, pela mão de Lou Reed.
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"Little Joe never once gave it awayEverybody had to pay and payA hustle here and a hustle thereNew york city is the place where they saidHey babe, take a walk on the wild sideI said hey Joe, take a walk on the wild sideSugar Plum Fairy came and hit the streetsLookin' for soul food and a place to eatWent to the ApolloYou should have seen him go go goThey said, hey sugar, take a walk on the wild sideI said, hey babe, take a walk on the wild sideAll right, huh"