Eu devia estar aqui a escrever sobre o maravilhoso disco do Kurt Vile ou o do Mazgani, ou então de todas aquelas coisas boas que tenho ouvido ultimamente e que estão em lista de espera. Mas teve de ser. Bom ano para todos os que vão passando por aqui e, para aqueles que voltam e que uma vez e outra não encontram nada novo, saibam que por aqui há sempre música todos os dias. Quer cá esteja em palavras, quer não. :)
Quando comecei a ouvir Pearl Jam, Wishlist era aquela canção de que eu menos gostava. Ouvia- a na rádio e ficava incomodada, inquieta. Se passava enquanto dormia, sobressaltava-me, perturbava-me. Talvez não compreendesse completamente a mensagem (há coisas que só os anos nos dão) e a sonoridade não era a clássica da banda de Seattle. Não sei se era por isso, mas pode ter sido.
Quando comecei a ouvir Pearl Jam, Wishlist era aquela canção de que eu menos gostava. Ouvia- a na rádio e ficava incomodada, inquieta. Se passava enquanto dormia, sobressaltava-me, perturbava-me. Talvez não compreendesse completamente a mensagem (há coisas que só os anos nos dão) e a sonoridade não era a clássica da banda de Seattle. Não sei se era por isso, mas pode ter sido.
Um dia – um qualquer dia – ouvia-a de outra maneira. E a canção que outrora eu passava à frente ou fingia não ouvir quando ia no carro, passou a significar outras coisas. Na verdade, passou a significar, ponto. Nesse ano - também nos últimos dias desse ano – fiz a minha wishlist, com excertos da música e desejos meus. Eram centenas. De todos os feitios, uns fáceis, outros difíceis de concretizar. Coisa de adolescente, o objectivo era riscar cada sonho à medida que fosse sendo cumprido. Com data e a cor diferente e tudo. Dobrei as folhas e guardei-as dentro de um livro. Durante alguns anos lá ia eu, a cada conquista, riscar a frase correspondente ao desejo realizado. Depois, como todas as coisas de adolescente, também a wishlist foi ficando esquecida. Há anos que não risco nada naquelas páginas, apesar de os últimos anos me terem dado bons motivos para isso.
Mais um ano chega ao fim e voltei a lembrar-me de Wishlist, já, e merecidamente, no saco das grandes canções. Há uma versão de que eu gosto particularmente: a tocada ao vivo, no Madison Square Garden, em Agosto de 2003. “I believe.”, começa por dizer Eddie Vedder, e depois começa o inesquecível riff de guitarra. Por cima do público há uma bola de espelhos. Arrepio-me sempre que ouço a guitarra de Vedder a distorcer. Leva as mãos à cabeça, estala os dedos, volta para a guitarra límpida e solta um estonteante “Fuck the pessimists. Fuck ‘em!”. O público aplaude. “This proves that dreams could be a good thing”, continua o vocalista, e agradece aos Buzzcocks, companheiros da noite. Incita o público a cantar.
“That’s fuckin’ beautiful”. Eu também acho, e por isso é que esta é a música do dia, do último dia do ano.
As canções são coisas vivas quando as bandas fazem delas coisas vivas.
Wishlist, os Pearl Jam no Madison Square Garden.
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“And it feels so real I can feel it, and it tastes so real I can taste it, and it sounds so real I can hear it… But why can’t I touch it?”