quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Alice In Chains - Last Of My Kind (2009)

Dei comigo a pensar, durante toda a semana, sobre as bandas que "substituem" membros. Geralmente o resultado desilude. Lembro-me da reunião dos Queen sem Freddie Mercury ou dos Doors sem Jim Morrison ou até dos Guns 'n' Roses sem... toda a gente menos Axl Rose.

Mas nem sempre é assim. Os AC/DC, por exemplo, souberam continuar sem o malogrado Bon Scott, e Brian Johnson quase fez esquecer o anterior vocalista, tal foi a simbiose perfeita com a banda. Sei que ainda é cedo, mas é mais ou menos esta a sensação que tenho quando ouço Black Gives Way To Blue, o novíssimo álbum dos Alice in Chains. O 1º sem Layne Staley. William DuVall acenta que nem uma luva na sonoridade do grupo, muito embora a herança de Staley, a importância e o carisma do eterno líder dos AiC, seja insubstituível. Para mim, os Alice in Chains são e sempre serão a banda de Layne Staley e Jerry Cantrell. Infelizmente, o primeiro já cá não está. Mas está DuVall para homenageá-lo, para dar continuidade, em respeito, ao seu trabalho.

Não estava à espera de encontrar todos os pontos característicos da sonoridade dos AiC no álbum, muito embora A Looking In View, o primeiro single desse a entender que assim seria. Estão lá as guitarras distintivas do grunge impregnado de metal, estão lá as letras, está a voz de Cantrell a ajudar, a introdução de Check My Brain não me sai da cabeça (como antes tinha acontecido com Again ou We Die Young), a melancolia de Your Decision agarra-se à pele, Acid Bubble é uma canção cheia de camadas por descobrir, Black Gives Way To Blue é quase um Down in a Hole mais reconciliado e o refrão deste Last Of My Kind é qualquer coisa...

É talvez nas canções menos agitadas que se sente mais a falta que faz o carisma, a voz inconfudível de Layne Staley. De resto, Duvall é um vocalista competentíssimo para os Alice in Chains. Todo o disco cheira a homenagem. É um conceito um pouco difícil de explicar. Não sei em que é que Jerry Cantrell estava a pensar. Não sei como as coisas se deram. Mas ao ouvir Black Gives Way To Blue não sinto qualquer pudor, qualquer medo de trair a memória de Staley, sinto sim um enorme respeito por um trabalho de anos, que marcou muita gente.

Marcou-me a mim, seguramente. E é bom sentir isso de novo.

Dizia um jornalista, há tempos, que, onde quer que estivesse, Staley estaria com certeza a sorrir. Também não tenho dúvidas nenhumas disso.

Last Of My Kind, os Alice in Chains.

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"Trapped in the cold outside
There ain't no shelter
They wanna force my hand
Until I...

Take what I wanted, and
Break all the lies that they
Feed the fuckin' liars...
Smash all the temples, and
Crawl through the rubble, and
Cry to the fallen

I'm the last of my kind still standing
I'm the last of my kind still standing down the law"

domingo, 4 de outubro de 2009

The Legendary Tigerman & Cláudia Efe - Light Me Up Twice (2009)

Há já alguns meses que ando a ouvir Femina, ainda que inacabado, por conta de um trabalho que fiz. E só Deus sabe o esforço que fiz para não começar a falar aqui das brilhantes canções do novo álbum do alter-ego de Paulo Furtado, uma por uma.

Depois de alguns atrasos, aquele que é mais que um simples disco de duetos com mulheres, chegou no dia 28 aos escaparates. A Fnac do Chiado encheu nessa segunda-feira e o Lux também, na quarta, para ver o (cada vez menos) solitário homem-tigre.

Desde os primeiros minutos que Femina me deixou rendida. A ideia é brilhante, mas mais brilhante ainda é a forma como é executada. A escolha das vozes femininas que povoam o disco foi improvável mas certeira. Podia ter-se ficado por meia dúzia de clichés, podia ter explorado apenas e só a fórmula mágica do dueto, mas é claro que Paulo Furtado não queria ir por aí. Sou fã confessa do trabalho do músico de Coimbra, ainda assim surpreenderam-me, sem excepção, todos os temas. Gostei das sonoridades (mesmo das mais ovni) diferentes que Tigerman escolheu em função das convidadas, adorei as letras, as cumplicidades que se criaram e que se ouvem. Arrisco-me a dizer que este é um dos álbuns nacionais do ano, senão mesmo o álbum do ano.

Life Ain't Enough For You podia não ser o single óbvio, à primeira vista. Acaba por ser tanto mais óbvio quanto mais se conhecer a história por detrás de Femina e que tem como "musa principal" Asia Argento. As minhas primeiras audições puseram no meu top 5 & Then Came The Pain, com Phoebe Kildeer: um tema forte, com um diálogo tenso e umas guitarras de cortar o fôlego. Depois apaixonei-me por Becky Lee e o seu pé bêbedo de I'm in Love With An Old Fashioned Man, mas principalmente por culpa de No Way To Leave on a Sunday Morning, em que acompanha um Paulo Furtado num registo delicioso. Em She's a Hellcat, Peaches contribui com o seu "pequeno rap", Furtado aventura-se por outras sonoridades. Maria de Medeiros dá a These Boots Are Made For Walkin' uma inocência para lá de deliciosa (embora não ache o tema merecedor de honras de 2º single...), e My St0mach is The Most Violent Of All Of Italy mostra uma Asia Argento bem diferente da do 1º avanço.

Ao vivo as coisas ganham sempre outra dimensão, para mim (e calculo que para os artistas ainda o seja mais) é quase como fazer uma prova dos 9 em presença. No Lux, Lisa Kekaula pôs o público em alvoroço com uma presença desarmante. 20 horas de viagem para encher aquele palco durante os pouco mais de 2 minutos irrepreensíveis de The Saddest Thing To Say, o tema mais soul do álbum. Apesar de me ter parecido a colaboração mais apagada no disco, ao vivo Rita Redshoes surpreendeu-me. Mais com o deslumbrante (e agora revelado) Hey, Sister Ray do que com a cover para Lonesome Town. Apaixonei-me completamente pelo vozeirão de Cibelle, cujo trabalho conhecia pouco, e que ainda não tinha ouvido com Tigerman. Esperei ouvir Radio & TV Blues, o tema que Paulo Furtado diz - e eu também concordo - ter o melhor verso de todo o álbum: "Give me some red poison mixed with LSD, 'cause it makes me feel so much better than fuckin' MTV".

Outro dos grandes versos de Femina é o que abre este Light Me Up Twice, com Cláudia Efe. Para confirmar. The Legendary Tigerman & Cláudia Efe.

(Ah, e escusado será dizer que este é um álbum mais que obrigatório. É vital.)
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"God is everywhere. Under a woman's skirt and inside a man's pants."