quarta-feira, 29 de abril de 2009

The Bombazines - Sit Down (2009)

Duas conclusões para hoje:




  1. Não há nenhum EP que eu não goste, nesta primeira leva da Optimus Discos;

  2. Tenho que ver estes tipos ao vivo!

Estes tipos são, desde há dois anos para cá, os Bombazines. Para mim representam também o regresso da voz poderosa e carismática de Marta Ren, a vocalista dos Sloppy Joe.


The Bombazines não chega a ser uma viagem ao passado. É uma viagem intemporal e atemporal. A banda soube ir buscar ensinamentos importantes às sonoridades old school, sem ficar presa numa caixa bafienta. Os Bombazines são os funkers de hoje, com as influências de ontem e de hoje, e com um olho no futuro, porque não.


Os solos de teclados vintage são o máximo, cada faixa parece ter sido afinada ao pormenor até ao ponto extremo de ser completamente natural, e a dupla de vozes é deliciosa. Sim, porque a voz suja de Rui Gon (fantástica em Druks) partilha o microfone com Ren.


Se as cinco canções do EP homónino são o que são - uma sucessão de grandes momentos funk e soul, que parecem ter saído de algum recanto animado dos anos 60 ou 70 - nem quero imaginar o que é que os Bombazines são capazes de fazer ao vivo. Ou mellhor, não quero imaginar, mas ver.


Sit Down, vêm aí os Bombazines.


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"Girl, you may not like my way


You'd better watch out, I'm gonna stay."

terça-feira, 28 de abril de 2009

Madame Godard - Hardly Alone (2009)

Quando abri pela primeira vez o site da Optimus Discos, ouvir isto. Música festiva q.b., às vezes tropical, balcânica, às vezes pop, às vezes rock, às vezes samba, bossa-nova, jazz, outras vezes funk, outras ainda folk, mas sempre, sempre feliz. Os Madame Godard fazem isso mesmo: música feliz, música do mundo, vintage e moderna. É impossível não bater o pé, tamborilar na mesa ou na perna, fazer um trejeito qualquer ao ritmo contagiante de Aurora, o EP que antecede o já muito aguardado álbum de estreia da banda de Viana do Castelo.

Escolher um tema para hoje não foi fácil. Todos eles são obrigatórios (toca a fazer o download!), mas Hardly Alone acabou por ser a música do dia. Um samba-bossa-nova festivo em jeito de homenagem a todos aqueles que nos acompanham, de uma forma ou de outra. Com Marvin Gaye, Elvis, Luther King, Freud, Gilberto Gil, Jacques Tati, Gandhi ou Jack Kerouac quem é que está sozinho?

Hardly Alone, os Madame Godard.

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"You're never alone, take a flashback"

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Dj Ride - Beat Journey (2009)

Já não tenho nenhuma dúvida. Existem soluções - das boas - para a "indústria" musical. E não, as soluções não passam por cortar o acesso à internet a quem faz downloads ilegais. A solução não é inventar mais e melhores sistemas de protecção de dados. Aliás, o problema não é a internet nem o download. Aliás, a solução pode mesmo ser a internet e o download. O download gratuito e autorizado. Talvez este caso da Optimus Discos sirva de exemplo.

Eu também tinha os meus pudores em relação a estas iniciativas de marcas na distribuição e promoção da arte. Conversas aqui e ali fizeram-me pôr esse tipo de preconceito de lado e dar mais importância à qualidade artística do produto e não à marca, que não é nada mais nada menos que um mecenas. E quando o mecenas se rodeia de quem realmente entende do assunto, não há razão nenhuma para que as coisas não resultem.

A verdade é que, se por detrás da Optimus Discos não estivesse Henrique Amaro, o projecto seria mais um falhanço como o Rock Rendez Worten. Mas a iniciativa é boa, Amaro está lá a dar as coordenadas e as bandas escolhidas para esta primeira leva de EP's são, sem sombra de dúvida, parte da nata da música contemporânea portuguesa. O resultado não poderia ser outro: 6 EP's deliciosos, inquestionáveis, de uma qualidade estrondosa.

A música gratuita digital e autorizada, que salvaguarda os direitos e liberdades dos músicos é possível. Mas será que alguém ainda tem dúvidas disso? Para os coleccionadores, os amantes do suporte físico, haverá sempre o CD e o vinil, com edições especiais, limitadas e outras mais-valias associadas. O lugar das grandes editoras também não se extingue, porque há mercado para as duas formas de produzir e distribuir música.

Estas considerações ficam por aqui, por hoje.

E para hoje proponho uma Beat Journey, com Dj Ride. Às vezes nem sei o que dizer. Beat Journey, o EP com o selo Optimus Discos, vem reforçar o que todo nós já suspeitavamos: para além de exímio turntablist, Ride é um produtor genial. É ouvir para crer, como aos 23 anos alguém consegue fazer um trabalho tão maduro e consistente.

Dj Ride, Beat Journey.

terça-feira, 21 de abril de 2009

O Maquinista - O Silêncio é o Paraíso (2009)

O Sérgio Godinho tem razão. Isto anda tudo ligado.

Tenho andado cada vez mais embrenhada no mundo do spoken word. Que género fascinante! Está lá tudo, música, literatura, imagem, performace. Uma mistura que, quando bem feita, arrepia mesmo.
A palavra dita acompanhada por música e a chamada slam poetry não é coisa de hoje. Desde o final da década de 20 que muitos o fazem.
Lá fora os torneios espontâneos de slam enchem os clubes. Os espaços nocturnos enchem-se de poesia. Por cá, as coisas têm o seu tempo. E a seu tempo também a poesia vai invadir os clubes. O caminho já tem sido (bem) trilhado por alguns nomes de referência como Adolfo Luxúria Canibal, Wordsong, Rodrigo Leão, Tiago Gomes e Tó Trips ou, mais recentemente, João Branco Kyron, O Maquinista.

Ambientes musicais densos, uma voz quase sussurrada, cansada e poemas estonteantes. É assim o álbum anónimo d' O Maquinista. Inspirado em nomes como Kerouac ou Burroughs, João Kyron dá ênfase às palavras, envolve-as em música, transpira poesia.

É bom saber que ainda há gente que não tem medo das palavras, de as explorar até às últimas consequências.

(Mal posso esperar pelo silêncio de Junho... Acho que Lisboa não vai ser a mesma depois disto... Não depois de tanta poesia, de tanta palavra, de tanta música...)

Numa piscadela de olho ao que aí vem, O Silêncio é o Paraíso, O Maquinista.

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Eu queria ouvir as palavras entorpecidas pela fúria acumulada durante a minha longa ausência,
Mas ela só me olhava olhos nos olhos.
E o silêncio que havia sido o paraíso,
O silêncio era o abismo.

Eu só queria ouvir novamente o bálsamo contido na sua voz suave,
Mesmo sabendo que a ausência fora longa demais.
Mas ela imóvel olhava-me nos olhos.
E o silêncio que havia sido o paraíso,
O silêncio era o abismo.


O silêncio é o paraíso.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Lou Reed - Walk On The Wild Side (1972)

Hoje entrei numa casa-de-banho pública e estava a passar este Walk On The Wild Side. Parece um tanto ou quanto filmesco, mas aconteceu rigorosamente assim. A verdade é que a música está em todo o lado. Até num moderno wc de shopping.

(Agora que penso nisso, será que mais alguém no mundo presta atenção à música que passa nas casas-de-banho por esse país fora? E se de facto alguém mais repara, que impacto teria essa canção na vida do utilizador do wc? E apesar de saber que a maior parte dos leitores deste blog vai achar esta reflexão ridícula e despropositada, vou partilhar ainda mais este pensamento escabroso: e se alguém for apresentado a este tema mítico de Lou Reed numa casa-de-banho pública, entre uma descarga de autoclismo e outra? É bem possível que nem se aperceba do que isso representa).

Como já devem estar carecas de saber, The Velvet Underground & Nico mudou a minha vida. Enquanto melómana, pelo menos. Posso até dizer que para mim há um A.VU. e um D.VU. Duas eras distintas marcadas pela minha descoberta desse álbum e dessa banda seminal dos finais dos anos 60, e que Lou Reed liderava.

Curiosamente, comecei a ouvir os trabalhos de Reed a solo antes de descobrir os Velvet Underground. Coisas de quem nasceu já na segunda metade dos anos 80... Havia qualquer coisa na música dele que me atraía como um íman, uma subversão, uma transgressão qualquer que eu só viria a perceber cabalmente depois de ouvir pela primeira vez o álbum da banana. Ali estava a resposta.

Se nos Velvet Underground a sonoridade é, de certa forma, mais frenética, cheia de distorção e feedback, em Reed a solo a transgressão, a inovação, é outra. É a forma descomprometida com que debita umas coisas, umas histórias, uns acordes minimalistas, é a forma como (não) canta, como arrasta as palavras.

Neste Walk On The Wild Side isso ouve-se. Haverá coisa mais genial? Uma canção sobre droga, transsexualidade, homens que depilam as pernas, sexo, prostituição e uma Nova Iorque selvagem e frenética, enrolada numa sonoridade pouco comum, com linhas de baixo bem marcadas, um leve escovar, um coro delicioso de doo doo doos e, para terminar em beleza, um saxofone que se desfaz num fade out memorável.

Isto é que é dar uma volta pelo lado selvagem.

Walk On The Wild Side, pela mão de Lou Reed.

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"Little Joe never once gave it away
Everybody had to pay and pay

A hustle here and a hustle there
New york city is the place where they said
Hey babe, take a walk on the wild side
I said hey Joe, take a walk on the wild side

Sugar Plum Fairy came and hit the streets
Lookin' for soul food and a place to eat

Went to the Apollo
You should have seen him go go go
They said, hey sugar, take a walk on the wild side
I said, hey babe, take a walk on the wild side
All right, huh"

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Iron Maiden - Heaven Can Wait (1986)

This is a song about sudden death.

Acabei de passar pelo Ípsilon on-line. Ao que parece Prince já tem os três álbuns deste ano prontos e disponíveis no site lotusflow3r.com. Mas para ouvir as novas canções, é necessário desvendar uma charada logo à entrada. Sempre a surpreender, este Prince.

Também por lá encontrei a notícia sobre a exibição em sessão única e "infernal" de Iron Maiden: Flight 666, o documentário que acompanhou os grandes senhores do heavy-metal britânico na tournée do ano passado. Os bilhetes - que custam uns irónicos 6 euros e 66 cêntimos! - já estão à venda. Vou ter de garantir o meu, dê por onde der. E é já dia 21.

Tenho muita música nova para ouvir, talvez as mini-férias da Páscoa dêem para isso. Por agora, recordo Heaven Can Wait, de um ano de grandes colheitas (!), a canção que, apesar de não ter sido single, é o cartão de visita para Somewhere in Time, o 6º (!) álbum de originais dos Iron Maiden.

Se for possível manter a consciência na altura exacta em que o coração deixa de bater, não tenho a menor dúvida que o sentimento é este que Steve Harris descreveu.

Heaven Can Wait, Iron Maiden.

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"Can't understand what is happening to me,
This isn't real, this is only a dream,
But I never have felt, no, I never have felt this way before,
I'm looking down on my body below,
I lie asleep in the midst of a dream,
Is it now could it be that the angel of death has come for me?
I can't believe that really my time has come,
I don't feel ready, there's so much left undone,
And it's my soul and I'm not gonna let it get away.

Heaven can wait,
Heaven can wait,
Heaven can wait,
Heaven can wait till another day."