quarta-feira, 30 de abril de 2008

Coldplay - Violet Hill (2008)

Ontem, por volta do meio dia, Violet Hill chegou às rádios e à internet para download legal e gratuito. O single de avanço para o novo álbum dos Coldplay, Viva La Vida or Death and All His Friends, estará disponível durante seis dias, sem custos, no site da banda britânica.

Não consegui assistir à "estreia" com hora marcada, mas esta manhã sintonizei a rádio e lá estava Violet Hill. Por entre uma garrafa de iogurte, um par de brincos e outro de meias, lá ouvi o novo single. E não sei se foi das tarefas matinais, ou do recente despertar, mas a canção soou-me a cover. São primeiras impressões, bem sei. Mas a melodia parece-me conhecida, nada de novo. Gostei das guitarras, um pouco mais agressivas que nos anteriores registos. Depois temos uma letra a explorar. Há neve, frio de Dezembro... a merecer uma maior atenção.

Eu já fiz o meu download e prometo mais desenvolvimentos para breve.

Enquanto o disco não chega, faça também o seu.

Violet Hill, os Coldplay.

____

"I don't want to be a soldier
With the captain of some sinking ship
With snow, far below"

terça-feira, 29 de abril de 2008

Micro Audio Waves - Fully Connected (2004)

a quem ontem esperava música por aqui, as minhas desculpas.
a administração de doses musicais recomeça hoje.
porque uma música por dia nem sabe o bem que lhe fazia.

Há um filão riquíssimo de experimentalismo electrónico na música dos Micro Audio Waves.

Este criativo trio começou pelas mãos de Flak (Rádio Macau) e de C. Morgado, a quem se juntou, após o lançamento do álbum de estreia, a voz de Cláudia Efe.

Apesar de ser o mais experimental e alternativo, não foi com o álbum homónimo de estreia que os Micro Audio Waves se impuseram na cena musical. Só Fully Connected, single de apresentação para No Waves (2004) levou definitivamente o colectivo às rádios nacionais e internacionais.

O grande hit dos Micro Audio Waves é pop electrónica bem feita, criativa. Mas a cereja no topo deste bolo musical é, sem dúvida, a escolha certeira da voz. Cláudia Efe tem uma voz nasalada como poucas, fazendo lembrar a impessoalidade intimista de um altifalante de aeroporto. Em Fully Connected, este estilo assenta que nem uma luva.

Cantar um livro de instruções de um qualquer aparelho electrónico de forma sexy é possível.

A comprová-lo, Fully Connected, os Micro Audio Waves.

____

"Push down
gently
but firmly
until the body is fully connected

by touching a grounded metal surface
firmly
until the body is fully connected"

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Sérgio Godinho - Liberdade (1974)

A 25 de Abril de 1974 caía a ditadura e nascia a Liberdade. A de Sérgio Godinho e a de todos nós.

Aproveite o feriado para tomar a liberdade de fazer aquilo que sempre quis fazer.

Segunda-feira há mais música por aqui.

Até lá, Liberdade, por Sérgio Godinho.

___

"Viemos com o peso do passado e da semente
Esperar tantos anos torna tudo mais urgente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente
Vivemos tantos anos a falar pela calada
Só se pode querer tudo quando não se teve nada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só há liberdade a sério quando houver
A paz, o pão
habitação, saúde,
educação
Só há liberdade a sério quando houver
Liberdade de mudar e decidir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir"

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Adele - Chasing Pavements (2008)

Já aqui falei da ascenção das novas vozes soul que enchem o panorama musical internacional (mais britânico) desde o ano passado. Amy Winehouse, a grande revelação soul, seguida à sua distância por Duffy e também por Adele.

Winehouse é de longe a que tem mais espírito soul. Acompanham-na também excelentes músicos e produtores e as temáticas das canções, autobiográficas e maioritariamente "trágicas", fazem o resto do excelente trabalho.

Duffy parece saída da canção dos 50's / 60's. Voz nasalada, soul, temáticas mais voltadas para o amor, para as relações.

E depois temos Adele, 19 anos, grande voz soul, mas mais virada para as sonoridades pop. Muito jovem ainda, a britânica lança agora 19, o segundo trabalho, com composições insipiradas na vivência com o ex-namorado.

O primeiro avanço é este Chasing Pavements, que vos proponho hoje. Não tem a força de um Rehab nem de Mercy, mas é apesar de tudo uma boa canção de rádio.

Chasing Pavements, Adele.

___

"Should I give up
Or should I just keep chasing pavements
Even if it leads nowhere?"

terça-feira, 22 de abril de 2008

Xutos & Pontapés + Oioai - Pertencer (2008)

É de louvar a iniciativa da Associação UPA, Unidos Para Ajudar, de juntar em palco vários nomes da música portuguesa contra a discriminação das doenças mentais.

Para além da componente solidária do projecto, que promove concertos e a venda de música digital (cada faixa tem o custo que se quiser, desde que acima dos 0 euros) a favor de uma causa, existe também uma outra bastante interessante, a componente musical em si.

Se já é interessante juntar, por si só, Mariza a Boss AC, Camané a Dead Combo, Paulo Gonzo a Balla, entre outros, mais interessante ainda é vê-los em palco a partilhar um tema original, composto para a ocasião a partir de um tema proposto pela UPA.

Discriminar/Integrar foi o ponto de partida para Pertencer, a composição conjunta dos Xutos & Pontapés e dos Oioai no âmbito deste projecto.

Musicalmente, o tema não foge muito à sonoridade dos Xutos, embora a composição e a letra seja da autoria de Pedro Puppe, voz dos Oioai. A banda de Sushi Baby surpreendeu-me ao adoptar um estilo bem mais sóbrio.
Alguns versos deixam um pouco a desejar, mas no fundo a mensagem passou.

Vale a pena ficar atento aos próximos concertos e fazer os downloads das canções aqui.

Para já, proponho Pertencer, Xutos & Pontapés e Oioai, unidos para ajudar.

___

"O meu número é zero nesta democracia,
deixa-me pertencer, eu quero pertencer-te"

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Vinicius de Moraes - Samba da Bênção (1963)

Às vezes parece-me que existe um certo preconceito em relação à música popular brasileira, apesar de Portugal ter sido sempre dela um grande consumidor.

E apesar de, nos seus últimos trabalhos, muitos músicos portugueses se terem dedicado às sonoridades do Brasil. São disto exemplo JP Simões, Maria João, Teresa Salgueiro e até Maria de Medeiros.

E apesar de a brasileira bossa-nova ter intensas relações com o jazz e de ser considerada música "da elite cultural", quando apareceu, nos anos 50.

Contradições.

Portugal e o irmão Brasil vivem a vida sob pontos de vista diferentes. Pode dizer-se que um vive sob a alçada do fatalismo do fado, e o outro sob a alegria do samba. Mas nem tudo é assim tão linear. Até no mais pungente fado existe uma pontinha de sol e até no mais carnavalesco samba existem resquícios de tristeza.

É talvez isto que aproxima timidamente brasileiros e portugueses. Isto e também o facto de o cosmopolitismo da MPB estar na moda.

A verdade é que é melhor ser alegre que ser triste.

Propoho para hoje esta pérola de Vinicius de Moraes & Odette Lara, do álbum com o mesmo nome, de 1963.

Alegria e tristeza, neste Samba da Bêção, Vinicius de Moraes.

____

"Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não"

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Pearl Jam - 4/20/02 (2003)

Abril é o mês do luto para o grunge.

Em 1994, a 5 deste mês fatídico, Kurt Cobain era encontrado morto na sua casa em Seattle. Muita tinta correu, suicídio ou homicídio, não havia consenso. A nota de despedida encontrada ao lado do carismático líder dos Nirvana levou a melhor, e a versão suicídio foi oficializada.

O homem morreu, a obra ficou e o mito nasceu naquela dia.

7 anos depois, a 20 de Abril, o corpo de Layne Staley era encontrado já em avançado estado de decomposição. Não houve bilhetes nem armas, a causa da morte era clara como água: uma dose letal de heroína combinada com cocaína. Ironias, coincidências, acasos, as perícias mostraram que o vocalista dos Alice in Chains morreu por volta do dia 5 de Abril, tal como Cobain.

Já aqui falei de Lost Dogs, o disco de raridades e lados B, que é uma pérola na discografia dos Pearl Jam. O álbum de 2003 incluía 4/20/02, a faixa escondida no disco 2. Quem deixar correr Bee Girl vai encontrar, algures aos 6 minutos, a canção que Eddie Vedder gravou no dia em que soube da morte do amigo Staley.

É um tema arrepiante, não só por ser uma homenagem póstuma, mas sobretudo pela forma como é interpretado. É Vedder, sozinho com a sua dor e raiva, à guitarra. Às cordas imprime um tom às vezes triste, às vezes enraivecido. As palavras são duras. Eddie Vedder faz acusações, recrimina o uso prolongado de drogas, fala directamente a Layne Staley, livra-o de culpas (afinal poderia ser qualquer um de nós), sente-se ofendido.

É de uma brutalidade desmedida ouvir 4/20/02. Arrepia e não é pouco, a quem é fã do grunge e a quem não é. Durante algum tempo - confesso - não consegui pôr a faixa escondida de Lost Dogs a tocar.

4/20/02, os Pearl Jam em homenagem a Layne Staley.

____

"lonesome friend, we all knew
always hoped you'd pull through
no blame, no blame
no blame, it could be you
using, you can't grow old using"

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Balla - Outro Futuro (2008)

É de louvar a iniciativa da BMG ao disponibilizar 5 temas dos Balla para download gratuito legal, como comemoração dos 20 anos de carreira de Armando Teixeira.

As canções fazem parte de Resumo 2000/2008, e apresentam-se aqui com uma nova roupagem, mais minimalista mas sempre Balla.

Este Outro Futuro, a minha proposta para hoje, originalmente incluído n' A Grande Mentira (2006), apresenta-se apenas com voz, piano e contrabaixo.

Canções despidas, para descobrir aqui.

Outro Futuro, os Balla de Armando Teixeira.

____

"Eu nunca dei um passo atrás
Que não fosse capaz de um dia o emendar"

quarta-feira, 16 de abril de 2008

The Offspring - The Kids Aren't Alright (1998)

Esta dose musical chega um pouco atrasada, mas o importante é que chega.
Porque uma música por dia - ou duas ou três - nem sabe o bem que lhe fazia.

1998: começava a minha melomania a sério e os Offspring lançavam Americana.

Esta conjugação de factos faz com que hoje tenha de incluir o 5º disco da banda na discoteca que é a minha vida e que começou a ganhar forma mais ou menos por essa altura.

Corriam os tempos em que as visitas de estudo eram pretexto para um convívio musical mais intenso. Não era todos os dias que os mais novos partilhavam o espaço minúsculo de um autocarro por várias horas com o pessoal mais velho, que ouvia coisas verdadeiramente estranhas.
E lá íamos nós do Algarve a Lisboa ou a Espanha, bandeira dos Guns ‘n’ Roses no vidro grande de trás da camioneta, um grupinho mais arrojado com o seu rádio ao ombro, alguns com walkman, outros já com o discman.

Para além da bandeira de pano que pertencia a um tipo tresloucado apaixonado por Axl Rose, as viagens de estudo trazem-me à memória a febre que foi Americana naquele ano. Por aqueles dias todos cantavam em coro, como que em protesto, Why Don’t You Get a Job?

E depois havia Issues, a história comico-trágica de um tipo farto da miúda com quem estava, a velocidade estonteante de Walla Walla (faziam-se até concursos para ver quem conseguia dizer a introdução mais rápido – one and two and three and four and one and two…) e de No Brakes e as guitarras eram algo contagiante. Have You Ever tentava sonhar com um mundo melhor e aqueles gritos e guitarras foram uma certa lição. As histórias de Americana não poderiam ir mais de encontro ao que eram as preocupações próprias da idade.

Paradigmática era The Kids Aren’t Alright, a canção que escolhi para hoje. Aqui os Offspring cantavam a consciência do no future apregoado pelo punk. Sonhos desfeitos, ruas que roubam inocências. Que mais queríamos ouvir?

O cliché do tempo que passa aplica-se a mim, aos músicos, a si que lê este blog. Os Offspring mudaram, eu mudei, o mundo mudou. Ouvir Ixnay On The Hombre (1997) não é como ouvir Americana (1998) ou Conspiracy Of One (2000). E ouvir estes álbuns hoje não é o mesmo que ouvi-los na época em que foram lançados.

Lapaliçadas à parte, serve isto para dizer que olho para Americana com nostalgia. Por aqueles anos, por aqueles Offspring.

Permitam-me esta recordação, The Kids Aren’t Alright, The Offspring.

___

"Jamie had a chance, well she really did
Instead she dropped out and had a couple of kids
Mark still lives at home cause he‘s got no job
He just plays guitar and smokes a lot of pot
Jay committed suicide
Brandon OD‘d and died"

terça-feira, 15 de abril de 2008

Dead Combo - Canção do Trabalho (2008)

Foi em 2001 que conheci Tó Trips. Foge de Ti, primeiro single para o álbum com o mesmo nome, chegava às rádios e eu chegava aos Lulu Blind. Era rock do bom, puro e duro. A voz arranhada de Trips, temas difíceis, ambientes áridos, letras improváveis. Foge de Ti, o álbum, era um objecto estranho na minha estante adolescente. Donuts no céu...

Depois, os Lulu Blind acabaram. O álbum de cartão branco com aquela espécie de anjo astronauta ainda lá está, e de vez em quando salta da estante.

Em 2006 voltei a encontrar-me com Tó Trips, em Vol.2 - Quando a Alma Não é Pequena, o segundo álbum dos Dead Combo. No primeiro, Vol.1, tinha passado por mim despercebido.

Não quis acreditar que se tratava da mesma pessoa. Mas era ele, Tó Trips, que integrava os Dead Combo, com o contrabaixista Pedro Gonçalves.

Não poderia haver melhor regresso. Perdeu-se uma banda da velha guarda rock mas ganhou-se o projecto mais estimulante que a música portuguesa hoje tem para oferecer. Uma mistura de portugalidade, de fado, de calçada lisboeta com filmes western, com ritmos latinos e tudo o mais que lá couber. É jazz, é improviso, é música de todas as ruas do mundo. Pode ser Havana, pode ser Paris, é Lisboa. É onde se quiser ir.

Ontem os Dead Combo apresentaram Lusitânia Playboys, o terceiro disco de originais, a quem quis passar pela Fnac do Chiado. Eu fui, não vi nada e gostei do que (não) vi: Um espaço repleto de gente a mostrar que os fóruns da multinacional estão a ficar demasiado apertados para quem quer aplaudir tamanho talento.

E não pude deixar de sentir uma coisa estranha ao ouvir a voz de Trips no entretantos das canções e lembrar-me de Heroína...

O melhor lançamento do ano.

Os Dead Combo, aqui com Canção do Trabalho.

_____

A não peder

a apresentação de Lusitânia Playboys, dia 6 de Maio, no Lux.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Clã - Competência Para Amar (2004)

Que os Clã são nomes seguros do pop-rock nacional já sabíamos. Que a banda de Manuela Azevedo conseguiria dar à luz um disco tão peculiar como Rosa Carne (2004), dificilmente desconfiaríamos.

Devo explicar: os Clã sempre nos habituaram a boas canções e bons discos. Dançar na Corda Bamba, mais rockeira, H2Homem, com uma componente visual muito forte, Problema de Expressão e Sopro do Coração a revelar toda a sensualidade da voz de Azevedo. Mas Rosa Carne surpreende, não pela qualidade - essa já estava bem associada ao nome Clã -, mas pela coerência, maturidade e - porque não dizê-lo? - inspiração. No álbum de 2004, as canções sucedem-se com elegância feminina, espreitam para os quartos dos casais através de cortinas semi-transparentes. É o universo da mulher, em tons rosa-carne, as suas vivências, a sua sensualidade/sexualidade/erotismo, o amor também.

Numa altura em que Cintura (2007) já deu vários singles às estações de rádio, recuo àquele que foi considerado por muitos o melhor álbum dos Clã. Não que Cintura seja inferior, não o é seguramente, mas é menos uma surpresa. Tira a Teima é um bom single sem surpreender, Sexto Andar já recupera algum intimismo ao antecessor.

Competência Para Amar, tema de apresentação para Rosa Carne, é elegância em forma de canção. Estão lá as palavras de Carlos Tê, o eterno letrista, a voz arrastada de Manuela Azevedo e todo um ambiente musical envolto em fumos e transparências. E até excertos de canções de Amália. Delicioso.

Os Clã, Competência Para Amar.

___

"Essa pose cansada,
tão despida de emoção,
de quem já viu tudo
e tudo é uma imensa repetição"

quinta-feira, 10 de abril de 2008

James Brown - Georgia On My Mind

Os meus ouvidos andam cheios de ritmo. Por isso hoje a música do dia chega pela voz do pai do funk, James Brown.

O Padrinho da Soul, foi uma das grandes figuras musicais do século XX, mas não consensual. Ao mesmo tempo que militou pelos direitos dos negros e dos pobres, numa América ainda muito desigual, também trilhou um caminho de crime que o levou à prisão por seis anos.

Chegou a ser acusado de sexismo, por culpa de It's a Man's Man's World.

Inigualável era a sua energia em palco e extraordinária capacidade de improviso. São deles grandes hits como I Got You (I Feel Good) e o muito samplado Get Up (I Feel Like Being a Sex Machine).

Num hino à terra que o viu crescer e morrer, revisitou o clássico de Ray Charles.
Este Georgia on My Mind, James Brown.

Porque todos temos um lugar.

O fim de semana chega mais cedo a este cantinho. Segunda feira há mais música. Porque uma por dia não sabe o bem que lhe fazia.

_____

"I said Georgia,
Ooh Georgia, no peace I find
Just an old sweet song
Keeps Georgia on my mind"

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Camané - Sopram Ventos Adversos (2003)

Para mim, Camané é o mais seguro dos fadistas contemporâneos. É uma estrela discreta, trabalha ao seu tempo, e imprime de serenidade e simultânea expressão as canções. As suas e as daqueles que revisita.

Escolhe cantar os poemas de que gosta e tem o prazer de trabalhar, desde logo, com grandes nomes, grandes inspirações.

É o caso de José Mário Branco, companheiro de lides musicais, a quem pede emprestado este Sopram Ventos Adversos.

Em 2003 interpreta este clássico da música portuguesa com os Xutos & Pontapés, na série de concertos acústicos reunidos no álbum Nesta Cidade. E é esta versão a que proponho para hoje.

Fadista, certamente, mas sobretudo um artista, é comum vermos Camané a cantar com músicos de todas as escolas musicais. Mais improvável é vê-lo cantar em casas de fado.

Sempre de Mim, o novo trabalho, marca o regresso do fadista aos originais já a 21 deste mês.

Até lá, Sopram Ventos Adversos, José Mário Branco revisitado por Camané.

_____

"Nos mastros que vão quebrar
Soltas velas de cambraia
E é cada remo a tentar
menos um barco no mar
mais um cadáver na praia"

___

Para apontar na agenda

Camané ao vivo, dia 16 de Maio no Coliseu de Lisboa.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Blasted Mechanism - Power On (2005)

Eles já andavam por aí há algum tempo, mas foi em 2003, com Namaste, que esse OVNI musical que são os Blasted Mechanism aterrou de uma vez por todas nas nossas vidas. Are You Ready?, perguntavam estes seres de estranha aparência a quem com eles se cruzava. Se estávamos preparados para aquela fusão de rock com electrónica, e dos dois com o funk e com o reggae e com África e com o Oriente. Nunca a expressão world music tinha sido tão bem aplicada num colectivo nacional.

Por debaixo daqueles fatos futuristas, dos sons quase extra-terrestres, os Blasted Mechanism mantêm fortes as raízes ao tradicional e à Terra. Inventam novos instrumentos, novas linguagens, novos conceitos de tribo e comunidade. Têm uma forte consciêcia ambiental, social e política, à sua maneira. Apregoam a união na música e na luz e a paz para todos os seres.

Do segundo álbum, Avatara, escolhi Power On: uma canção positiva que é um apelo à acção, à ousadia de ir para lá dos limites mais óbvios. Um bom exemplo de como futurismo e tradição podem estar juntos numa mesma música. A ajudar está Maria João que lhe empresta exotismo.

Agora com um novo vocalista, os Blasted Mechanism preparam o sucessor de Sound In Light (2007), cujo lançamento está previsto para 2009, pondo fim aos rumores que anunciavam o fim do projecto.

Aqui ainda com Karkov, Power On, os Blasted Mechanism. Para ouvir.

____

"joined up taste of querosene, ecstasy, mescaline
get the picture, check the scene
we're ridding on your wildest dreams"

segunda-feira, 7 de abril de 2008

The Beatles - Lucy in the Sky with Diamonds (1967)

Lucy in the Sky with Diamonds... LSD.

Pode parecer estranho, mas para mim este clássico dos Beatles era apenas e só a história de uma rapariguinha de olhos caleidoscópicos chamada Lucy. Regada com todo o simbolismo do filme I am Sam, o drama de Jessie Nelson com Sean Penn, o significado da canção ficou preso naquela primeira ideia. E mesmo conhecendo aqueles anos 60, os do psicadelismo e das drogas alucinogéneas, dificilmente repararia que as iniciais do título formam a palavra LSD.

Os próprios Beatles negaram a intencionalidade da coisa. A canção tinha nascido a partir de um desenho do filho de John Lennon que representava uma colega de escola, Lucy, in the sky with diamonds.

Mas enquanto John Lennon atribuía a "inspiração" para escrever Lucy in the Sky With Diamonds à escrita de Lewis Carroll e não ao ácido, McCartney acabaria por admitir que a presença do LSD era bastante óbvia.

Se a brincadeira do título foi ou não propositada, nunca saberemos ao certo.

Certo é que Lucy in the Sky with Diamonds é um bom exemplo da abertura dos 4 de Liverpool aos ambientes psicadélicos.

Faits-divers à parte, Lucy in the Sky with Diamonds, os Beatles (ainda) para redescobrir.

____

"Cellophane flowers of yellow and green,
Towering over your head.
Look for the girl with the sun in her eyes,
And she's gone."

____

Em boa hora

a Blitz resolveu apostar novamente em textos próprios. O que inspirou esta música de hoje é de Rui Miguel Abreu.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Rita Redshoes - Choose Love (2008)

Ontem não houve música por estes lados, mas há hoje. Porque uma música por dia, nem sabe o bem que lhe fazia!


Com um sorriso nervoso, quase inocente, entra em palco. Ajeita o cabelo (está muito calor e a sala é pequena), o vestidinho preto de lã e pega na guitarra. Parece uma estreante nestas coisas da música, mas não é.

Aos 14 anos já dava voz aos Atomic Bees, banda-cometa que não sobreviveu ao álbum de estreia. Aprendeu piano, guitarra, baixo. Habituámo-nos a vê-la enquanto pianista na banda que acompanha David Fonseca. Com ele gravou um dueto para Our Hearts Will Beat As One, e aquela voz feminina de Hold Still soube a pouco. Chegamos a 2008 e Rita Reshoes sai detrás do piano e assume o microfone, em nome próprio.

Golden Era, o álbum de estreia a solo, é pop fresquinha, fresquinha. Tem alguns travos de jazz também. As 12 canções originais são pequenas histórias, fragmentos de coisas, de pensamentos, ela própria o diz. Contra todas as intenções, a temática do disco gira muito em torno do amor.

Ao vivo as faixas adquirem uma expressividade ainda maior. Para além daquela forma peculiar de articular as palavras, deliciosa, Rita acompanha as canções com gestos e entoações, dando uma componente teatral muito engraçada ao espectáculo.

No showcase de ontem (Fnac Chiado), Rita Redshoes começa à guitarra. Vira-se depois para o teclado que toca em pé, às vezes só com uma mão. Vai desfiando temas, dos mais populares Dream On Girl e Hey Tom a este Choose Love.

É música optimista, para sonhar, para ver o lado bom da vida. Às vezes soa a David Fonseca. Mas só às vezes. Podem partilhar a mesma escola musical, mas o ex-Silence 4 não conseguiria fazer canções tão leves e desprendidas.

Mais do que recomendável, este Golden Era é um rebuçado para os ouvidos. Os sapatos de Let's Dance são vermelhos, mas os de Rita Redshoes bem podiam ter todas as cores do arco-íris.

E porque na vida há caminhos, há escolhas a fazer, Choose Love, diz Rita Redshoes. Always love, acrescento eu.

Bom fim de semana.

___

"Choose love, choose love
Choose love, choose love"

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Midnight Juggernauts - Into The Galaxy (2007)

Desenganem-se aqueles que achavam que Austrália estava longe da corrida espacial.

Dystopia, o álbum de estreia dos australianos Midnight Juggernauts, podia bem ser um foguetão.

Esta estranha nave e os seus tripulantes não exploram planetas convencionais, mas galáxias musicais, do indie à electrónica, do synth-rock ao psicadelismo.

Into The Galaxy é uma excelente canção pop, perdida entre os idos de 70 e 80 e um futuro familiar à ficção científica. O refrão é para lá de orelhudo. No site oficial da banda, os Midnight Juggernauts definem este primeiro trabalho assim: "it's the future - past and present - all rolled into one"
Uma viagem através do tempo e do espaço, é o que promete este trio que já conquistou o país natal, prepara-se agora para conquistar o resto mundo e, não tarda, o universo.

Parece que depois do grande revivalismo punk assistimos agora ao regresso das sonoridades electrónicas dos finais da década de 70, inícios de 80, e aos temas sci-fi. Na linha da frente vai Dystopia, ou não tivesse já sido considerado um dos melhores álbuns do ano.

Imparáveis, os Midnight Juggernauts, nesta viagem Into The Galaxy.

____

"United nations
Interrelations
A declaration
Of hypertension"

terça-feira, 1 de abril de 2008

Dinah Washington - Nobody Knows The Way I Feel This Morning (1962)

Ouvir as grandes divas do jazz e dos blues fez-me pensar no papel da mulher na música ao longo dos tempos.

Quando as vozes de Billie Holiday, Ella Fitzgerald ou Dinah Washington se mostraram ao mundo ainda a revolução do soutien estava longe. Todas tiveram infâncias difíceis, umas mais que outras é certo, e vidas errantes.

E é essa a grande componente dos blues e que faz deste um género musical muito particular. E se o mundo conheceu muitos e bons bluesmen, a verdade é que as mulheres também deram cartas neste estilo do jazz. Dinah Washington, a Rainha dos Blues, disso é exemplo.

Para quem casou sete vezes ao longo dos seus (curtos) 39 anos de vida, Nobody Knows The Way I Feel This Morning bem podia ser a banda sonora dos seus dias e noites. A desventura amorosa, popularizada depois por Aretha Franklin, mostra uma mulher amargurada pela traição. Amargurada mas não resignada. Uma mulher que mandaria o marido para o cemitério mais próximo, se pudesse. Uma mulher que empenha os anéis de ouro para fugir de combóio. E que ainda avisa aos outras mulheres: não se deixem ir em cantigas.

Hoje as mulheres já não esperam o homem atrás da porta com o rolo da massa, de madrugada. Já não fogem para não mais voltar. Preenchem os papéis para o divórcio.
Tudo mudou.

Hoje o papel da mulher na música está diferente, menos interventivo, mas talvez mais igual.
E depois também há a mulher que vende o corpo disfarçado de música.
Há também mulheres que tentam quebrar esse esteriótipo, como Beth Ditto, a vocalista dos Gossip, que se despe em palco para mostrar que a beleza é subjectiva.

Para hoje, Nobody Knows The Way I Feel This Morning, uma grande canção blues, por Dinah Washington.

____

"I'm leaving here on a southboud train
And nothing's gonna bring your sweet baby back here again
'Cause nobody knows the way I feeel this morning"