segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Blasfemea - For You Darling (2008)

O nome já soava por aí, mas só agora, confesso, uma coisa me levou a procurar o MySpace dos Blasfemea. Rui Maia, o discreto homem por detrás das teclas dos X-Wife, passador de discos nos tempos livres, é o produtor de BLSFM, o primeiro Ep da banda.

Estes quatro rapazes vão beber da mesma fonte que o grupo de Maia e João Vieira, o electro-rock, electro-clash. Ainda não estão no ponto como os X-Wife, mas também a mais não são obrigados, estão a começar. E a julgar pela excelente amostra que têm no MySpace a coisa promete. Resta-me confirmar ao vivo.

Com menos "maquinaria" que os temas dos X-Wife, este For You Darling tem guitarras em despique como se quer, a bateria a pontuar o ritmo, a voz e a atitude que tem feito deste estilo um fenómeno hype nos últimos anos.

Eu, que estou a descobrir este (para mim) admirável mundo novo do electro-rock, gostei.

Confiram aqui.

Blasfemea, For You Darling.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Ella Fitzgerald - Have Yourself a Merry Little Christmas (1960)

Para todos os que lêem este blog, a swinging Christmas.
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Have yourself a merry little christmas
Let your heart be light
Next year all our troubles will be
Out of sight
Have yourself a merry little christmas
Make the yule-tide gay
Next year all our troubles will be
Miles away
Once again as in olden days
Happy golden days of yore
Faithful friends who are dear to us
Will be near to us once more
Someday soon, we all will be together
If the fates allow
Until then, we'll have to muddle through somehow
So have yourself a merry little christmas now.
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Feliz Natal

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

The Legendary Tiger Man - Fuck Christmas, I Got The Blues (2003)

Não há nada a fazer, eu adoro os blues.
Muitos dirão que os blues são o parente pobre do jazz. Como aqueles que um dia disseram que a música pop, no sentido de popular, deixava de ser música por isso. Música, só a erudita.

Na verdade os blues são estruturas musicais simples, das quais partem todas as canções, um pouco como no nosso fado. Há uma forma de cantar, de tocar a guitarra ou banjo, de entoar as notas, de construir os poemas que distingue qualquer blues à distância.

Nascidos nos finais do século XIX, pelas mãos calejadas dos imigrantes negros no delta do Mississipi, os blues são, como diz o especialista José Duarte, o principal afluente do grande rio do jazz. Sendo ao mesmo tempo inspirador e inspirado.

Não são um estilo muito flexível, com o qual se consigam fazer mil e uma experimentações e talvez esteja aí o encanto dos blues, na simplicidade, na honestidade.

É Natal e não posso deixar de sugerir este irónico Fuck Christmas, I Got The Blues, tema que deu nome ao segundo álbum de Paulo Furtado enquanto The Legendary Tiger Man.

As one-man-bands são outra coisa deliciosa. Um homem, uma parafernália de instrumentos. Marca o ritmo no pedal da bateria enquanto toca guitarra e harmónica. Tudo ao mesmo tempo.

Paulo Furtado recupera esse imaginário dos músicos pedintes, com a armação de metal ao pescoço, mini-bateria e guitarra às costas. Isso tudo aliado a uma imagem vintage soberba, fazem dele um dos músicos mais carismáticos da nossa praça.

Quem não estiver muito ligado nas tradições natalícias, aproveite o dia 25 para rumar à Galeria Zé dos Bois e assistir a mais uma edição das Fuck Christmas, I Got Something Weird Sessions.

The Legendary Tiger Man, Fuck Christmas, I Got The Blues.

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"Fuck Christmas, baby... I got the blues!"

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

The Velvet Underground & Nico - Sunday Morning (1966)

Não consta que Sunday Morning tenha sido escrita numa manhã de Natal que calhou a um domingo. Ainda assim, e para mim, esta é uma canção para a quadra.

Originalmente escrita a pensar na voz doce de Nico, acabou por ser cantada por Lou Reed na versão de The Velvet Underground & Nico, o álbum da banana. No último ano tenho-o consumido de forma quase compulsiva, e vezes houve em que julguei ser impossível tratar-se de Reed. É um registo completamente diferente do resto do disco. Está explicado porquê.

Isto de escrever sobre canções torna-nos devoradores vorazes de informação. Jornais, revistas, livros, blogs, sites, tudo. Descobrem-se coisas incríveis por detrás dos temas, outras coisas vêem por arrasto. Chega a ser assustador.

Talvez a sonoridade natalícia de Sunday Morning advenha da utilização do instrumento com o sugestivo nome celesta e da voz angelical de Nico, ao fundo. A verdade é que, quando o inverno se instala e Dezembro se aproxima, este tema entra obrigatoriamente nas minhas playlists. As do mp3 e as da memória.

Sunday Morning, os Velvet Underground, com Nico.
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“Sunday morning and I’m falling
I’ve got a feeling I don’t want to know
Early dawning, sunday morning
It’s all the streets you crossed, not so long ago

Watch out, the world’s behind you
There’s always someone around you who will call
It’s nothing at all”

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depois
do Natal vão aqui ouvir falar de Dj Ride. Ora espreitem.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Pearl Jam - Let Me Sleep (1991)

As minhas sugestões nos próximos dias vão ser canções para a quadra que se aproxima.
Não, não são canções de Natal. São canções para o Natal.

Há diferenças.

Para abrir escolhi este tema de um dos primeiros singles de Natal lançados especialmente para o clube de fãs dos Pearl Jam. Let Me Sleep, composto algures em Dezembro de 1991, é um tema melancólico, triste até. Conheci-o também num destes natais mais ou menos longínquos, quando no sapatinho alguém me pôs Lost Dogs, o álbum duplo de lados b e raridades da banda de Eddie Vedder. Não tinha reparado - ou não me lembrava já - que o tema era do início da carreira dos Pearl Jam, tão madura, tão sentida que soa.

Já aqui o disse, eles são mesmo a maior caixinha-de-surpresas do grunge. Lost Dogs é a prova mais flagrante disso.

O mais delicioso em Let Me Sleep... Ia dizer o som dos slit drums, um instrumento de percussão - vim a descobrir mais tarde - do tempo dos Aztecas, pelas mãos de Dave Krusen. Mas também poderia dizer a guitarra de Mike McCready, arrepiante. Ou a voz de Vedder, tantas vezes sumida.

Este é sem dúvida um dos temas para este e para todos os Natais. Cheira a Inverno, a frio, a luvas e a cachecóis e a gorros de lã. Cheria àquele momento, depois de todos termos deixado a árvore despida de presentes e a sala desarrumada de papéis e fitinhas coloridas, cheira ao momento em que recolhemos ao quarto da nossa infância e, pouco seguros do alto da nossa adultez forçada, dizemos: dantes é que era.

E adormecemos novamente enrolados como crianças na nossa cama de solteiros e pijama de ursinhos que já estão curtos nas pernas e nas mangas e sonhamos com bonecas, casinhas, carrinhos, aviões e pecinhas de lego.

Os mesmos que agora oferecemos aos nossos filhos no Natal.

Let Me Sleep, Pearl Jam.

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Oh, when I...
If I was a kid...
Oh, how magic it seemed...
Oh please let me dream it's Christmas time..."

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Nirvana - Love Buzz (1989)

Não resisti e aceitei o desafio. 1 música por dia faz bem à saúde - está provado - , várias então... são capazes de prolongar a vida um bom par de anos.

Por isso aqui fica um quiz musical bem simpático. Ah, e já agora, receito este outro medicamento, pelo menos uma vez ao dia.



Então é assim:



1. Colocar uma foto individual




(Ora cá está ela... Vamos a isto.)

2. Escolher um artista/banda
Nirvana

3. Responder às seguintes questões somente com títulos de canções do artista/banda escolhido:

- És homem ou mulher? Oh Me
- Descreve-te: About a Girl
- O que é que as pessoas pensam de ti? Smells Like Teen Spirit
- Como descreves o teu último relacionamento? Love Buzz
- Descreve o estado actual da tua relação: Heart-Shapped Box
- Onde querias estar agora? On a Plain
- O que pensas a respeito do amor? Endless, Nameless
- Como é a tua vida? Aero Zeppelin
- O que pedirias se pudesses ter só um desejo? Mexican Seafood
- Escreve uma frase sábia: Come As You Are

4. Escolher quatro pessoas para responder ao desafio sem esquecer de os avisar.

Tu que lês este blog.


Um balanço desta brincadeira musical: é mais difícil do que parece. Principalmente quando a banda que se escolhe tem um compositor tão maníaco-depressivo como Kurt Cobain. Era quase irresistível colocar Negative Creep como resposta à segunda questão... I'm a negative creep, I'm a negative creep and I'm stoned! Não pude deixar de ouvir este refrão ao ler a pergunta. Tudo isto para dizer que se podem fazer coisas bastante engraçadas com este simples quiz (basta ver a resposta 9...).

Agora sobre a música do dia: deste leque de respostas escolhi Love Buzz, um tema contagiante, muito punk, do primeiríssimo álbum dos Nirvana, Bleach. Adoro guitarra e o baixo, o tom completamente stoned de Cobain, num tema simples, de 3 linhas (como de resto praticamente todos os temas de Bleach), sobre um tipo que declara o seu amor de forma desajeitada. É um tema puramente punk, em sonoridade e atitude, tão delicioso quanto adolescente.

Love Buzz, os Nirvana

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"Would you believe me when I tell you you're the queen of my heart?
Please don't deceive me when I hurt you, just ain't the way it seems.

Can you feel my love buzz?"

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Amy Winehouse - Stronger Than Me (2003)

O meu amor (que é também um assíduo leitor destas linhas) ofereceu-me neste aniversário uma edição especialíssima da discografia de Amy Winehouse. Frank & Back To Black contém, como o próprio nome indica, os dois álbuns da cantora, com dois discos cada, que incluem remixes e temas tocados ao vivo, um pequeno livro com fotos, um texto e todas as letras. Mas a cereja no topo do bolo é a inclusão das demos originais de alguns temas. Quase sem arranjo, nestas gravações está apenas Winehouse acompanhada à guitarra ou ao piano. São raras as vezes em que nos são dados a conhecer os temas em bruto, o que é uma pena.

Já aqui falei de Amy Winehouse e os jornais, revistas, sites, blogs, estão sempre a fazer das tropelias dela notícia. Tenho pena que se fale menos na música propriamente dita e mais nas drogas, nos amores e no álcool. Estes cenários não são novos no mundo da música, por isso torna-se incompreensível tanto burburinho. A menos que justifiquemos esta vaga de fait-divers com o crescente voyeurismo e a sede crescente de escandaleiras.

Nos próximos tempos vou mergulhar na discografia de Winehouse. Gosto especialmente da atitude jazzy, por vezes soul que adopta. Continuo a dizer que os excelentes músicos que a acompanham fazem uma boa parte do trabalho, mas a verdade é que as demos originais mostram que Winehouse é bem mais que uma figura problemática, é bem mais que uma voz (que às vezes está em péssimo estado) ou que um bom arranjo e acompanhamento.

Stronger Than Me, Amy Winehouse.

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"I'm not gonna meet your mother anytime
I just wanna rip your body over mine
So tell me why you think that's a crime

I've forgotten all of young love's joy
Feel like a lady, but you my lady boy"

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Romi Anauel - Waiting For You (2008)

Romi Anauel é uma das grandes revelações do ano. A voz dos Terrakota lançou-se agora numa deliciosa carreira a solo que deve culminar no início de 2009 com o primeiro álbum em nome próprio.

Enquanto que nos Terrakota assume um registo marcadamente reggae e afro-beat, mais festivo, mais interventivo - arriscaria mesmo, a solo Romi revela toda a sua sensualidade na voz ao mesmo tempo forte e delicada. Aqui a cadência reggae dá lugar a um down-tempo, ao nu-jazz, à soul. Romi não esquece as raízes africanas, e regressa a elas a cada tema. Dos Terrakota importa esse desejo de regresso e os ritmos bebidos aos quatro cantos do mundo

Dos temas disponíveis no MySpace, escolhi este Waiting For You, o mais jazzy de todos, diria mesmo que passa pelo nu-jazz a roçar os ambientes trip-hop. Criado com a cumplicidade do colega de banda Mó Francesco, Waiting For You revela uma maturidade interpretativa impressionante. Não que Romi fosse uma novata nestas coisas de fazer boa música. Afinal, basta ouvir os 3 álbuns dos Terrakota e comprovar.

Um projecto que promete.

Romi Anauel a solo, Waiting For You.

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"Waiting for you I found the truth..."

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Guns N' Roses - Welcome To The Jungle (1987)

Nos dias que correm, eu deveria estar aqui a falar de Chinese Democracy, o álbum que já era mítico antes de existir, o álbum que os fãs dos Guns N' Roses esperaram 14 anos para ouvir (com algumas escapadelas ilegais pelo meio...).

Quando soube que a banda de Axl Rose disponibilizaria o álbum na íntegra no MySpace antes de este sair para os escaparates fui a correr. Desde sempre que ouço falar em Chinese Democracy e, se me permitem o desvio, é com tristeza que constanto que 14 anos depois a ironia do título ainda faz todo sentido e ainda incomoda o país em questão.

Também é com alguma tristeza que passo os ouvidos (mais uma vez) pelos temas do disco. Não consigo ouvir os Guns ali. Em nenhum dos temas. Se eu não soubesse que aquelas eram canções de Rose e companhia (sem Slash), até diria que são canções rock competentes. Não são inovadoras, não são estonteantes, são temas razoáveis. Mas tratando-se dos Guns 'N Roses... o caso muda inevitavelmente de figura. Não reconheço em Chinese Democracy nenhuma das duas fases dos Guns. Nem a banda hard rock deste Welcome To The Jungle, nem a banda baladeira de November Rain.

É bom? É mau?

Nem uma nem outra, como convém. A verdade é que senti vontade de voltar a 1987, à selva descrita pelos Guns N' Roses no álbum de estreia Appetite For Destruction. O riff inicial começa tímido, intermitente, mas quando é agarrado não pára. Axl está na sua melhor forma, voz solta para brincar ("Watch it bring you to your shun n,n,n,n,n,n,n,n,n,n,n,n knees, knees"). Sem dúvida um dos temas emblemáticos da história dos Guns e do rock em geral.

Fico feliz por ver Chinese Democracy finalmente nas ruas, mas a sensação que fica é a de um prato insonso. Será falta de Slash?

Welcome To The Jungle, os Guns N' Roses.

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"You know where you are
You're in the jungle baby
You're gonna die
In the jungle
Welcome to the jungle
Watch it bring you to your shu n,n,n,n,n,n,n,n,n,n,n,n,n knees, knees"

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Dapunksportif - Teenage Headbanger (2008)

Acabo de "descobrir" os Dapunksportif.
Uma banda de Peniche, já com 2 álbuns de originais, o último deles Electro Tube Riot, lançado este ano. Não posso dizer que a dupla traga uma sonoridade inovadora, mas traz com certeza um rock musculado e visceral, com duas guitarras muito interessantes, e um estilo que vai beber ao punk, ao stonerock, e ao próprio rock 'n' roll. As disponíveis no MySpace são boas canções rock, muito competentes. Estou curiosa para vê-los ao vivo, estou certa de que a força dos Dapunksportif se mostra é ali, em cima de um palco. Gosto da atitude, da voz, e da preponderência das guitarras. Ao vivo, os Dapunksportif convidam músicos de luxo, como Kalú, Filipe Valentim ou Pedro Gonçalves.

Escolhi para hoje este Teenage Headbanger, talvez a canção mais easy do álbum. Não se deixem enganar pelo título, este não é propriamente um tema teen, é mais um flash de memória de um jovem melómano. Daqueles em que todos nós nos revemos.

Não é um mau cartão de visita.

Vale a pena descobrir, Teenage Headbanger, os Dapunksportif.

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"Do you remember when
we used to bang our heads
And play the air-guitar
Spending hours listening
To our favourite bands..."

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Rednex - Cotton-Eye Joe (1994)

Eu e o Tiago temos um casal amigo com quem sair é uma experiência alucinante.

Ontem lá fomos, rumo ao restaurante japonês. Entrámos todos no carro e é aí que tudo começa. Entrar naquele Alfa Romeo é como entrar numa máquina do tempo que nos teletransporta de imediato para uma década mais ou menos longínqua. Geralmente lá vamos nós a caminho dos anos 80, via Whitesnake ou Extreme. Somos todos uns grandes fãs da cultura dos 80's. Música, filmes... tudo. Mas ontem a viagem (musical) foi mais longa e fomos atrás no tempo até aos anos 50, com direito a interpretações efusivas e tudo. Em menos de nada passámos em revista 4 décadas. 60's, os 70's dos Bee Gees e as suas dentaduras impecavelmente brancas, a inevitável década de 80 e... pela primeira vez desde que nos conhecemos, chegámos aos anos 90. Mas não aos anos 90 do grunge, mas à década da pop-carrinho-de-choque.

Nos anos em que Kurt Cobain e companhia andavam a revolucionar, a partir de Seattle, a história do rock mundial, uma verdadeira explosão de música pop altamente viciante e dançável acontecia. Saturday Night, de Whigfield; Cotton Eye Joe, dos Rednex; All That She Wants, dos Ace Of Base; The Rythm Of The Night, de Corona; What is Love, dos Haddaway; Scatman, do Scatman John, mais tarde o Blue, dos Eiffel 65 e tantos tantos outros... enchiam as compilações Dance Power e afins.

Todos nós que íamos naquele carro ontem, aos pulinhos, a imitar as coreografias dos 90's, a acertar em quase todas as letras, a fazer os sons de feira característicos, todos nós crescemos a ouvir isto.

De um acervo de centenas de hits dos anos 90, escolhi este Cotton-Eye Joe, na versão da banda sueca de techno-country (!) Rednex.

É que os guilty pleasures devem soltar-se de vez em quando. Tenho que confessar que soube bem, mas que já voltei ao normal durante o dia de hoje (o meu emprego afinal, ainda não está em risco...).

Para consumir com moderação, Cotton-Eye Joe, Rednex.

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"If I hadn't been for Cotton-Eye Joe
I'd been married long time ago.
Where did you come from,
Where did you go,
Where did you come from, Cotton-Eye Joe?"

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à Diana, ao Milton, ao Oliveira e ao meu amor...
Para onde vai ser a viagem da próxima vez? ;)

domingo, 16 de novembro de 2008

AC/DC - Thunderstruck (1990)

O meu irmão mais novo, de17 anos, anda a ouvir essa grande instituição do hard rock que são os AC/DC. Houve tempos em que temi pelo gosto musical dele, os "miúdos" ouvem cada coisa... Mas já não há perigo e posso dormir descansada.
Não sei se foi assim ou não, mas, no meu íntimo orgulho de irmã mais velha, gostaria que a minha melomania tivesse sido a influência, a razão pela qual o meu irmão não sucumbiu à geração D'zrt.

Está lá tudo. Os álbuns que fizeram dos AC/DC a mítica banda que hoje é. Estão lá, arrumadinhos numa pasta no pc, os ficheiros Mp3 de You Shook Me All Night Long, It's a Long Way To The Top If You Wanna Rock 'n'Roll, Highway To Hell, Back in Black, este arrepiante Thunderstruck e muitos mais.

A explicação aqui está: um gajo lá da turma que também ouve estas cenas! A T.N.T é demais e se fores ao YouTube, está lá o Thunderstruck, o gajo com aquela roupinha - fatinho de calções e chapéu - e os dedos dele, na guitarra... espectacular!

O gajo do fatinho é Angus, um dos irmãos Young, a dupla fundadora dos AC/DC. Baixinho, magro, mas sempre irrequieto, é um dos grandes guitarristas de todos os tempos. A voz é de Brian Johnson, uma das vozes mais sujas da história do rock.

Que diria Angus Young, a quem o fenómeno do download de músicas ainda faz impressão, deste interesse de miúdos da idade do meu irmão (e da minha também, que nasci um ano depois de os AC/DC lançarem o seu... 11º álbum...)? Não se ralaria muito. It's only rock 'n'roll and we love it. (conferir a entrevista de Angus à Blitz deste mês).

A minha sugestão para hoje faz-me lembrar aquele programa da velhinha Rádio Cidade, o City Rock, lembram-se? Ia para o ar aos fins-de-semana à tarde, se bem me lembro, e passava as grandes malhas do hard rock. Nesse tempo a Rádio Cidade não era a extensão radiofónica dos Morangos Com Açúcar. Era uma rádio comercial, é certo, mas que me encantava por ter programas tão diversos como o madrugador Naftalina (sim, com os grandes êxitos dos 70's e 80's...), o City Rock e o Cidade By Night.

Voltando a Thunderstruck... Um dos temas que marcou a carreira dos AC/DC, e que hoje arrepia qualquer um que goste de uma boa malha hard rock. Basta começar a ouvir o riff inicial, e o coro mais arrepiante da história do rock faz o resto.

A banda dos irmãos Young está aí com álbum novo. Na verdade, Black Ice é a prova que o rock 'n'roll não morreu, que há ainda quem faça boas canções rock, sem pretensiosismos, just to have some fun.

É o que a crítica tem dito e é aquilo que vou comprovar nos próximos dias, quando ouvir o álbum na íntegra.

Até lá, Thunderstruck, os AC/DC.

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"I was caught
In the middle of a railroad track (Thunder)
I looked 'round,
And I knew there was no turning back (Thunder)
My mind raced
And I thought what could I do? (Thunder)
And I knew
There was no help, no help from you (Thunder)

Sound of the drums
Beatin' in my heart
The thunder of guns!
Tore me apart
You've been... thunderstruck!"

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Rui Maia - Go (2008)

Ando às voltas com isto e não consigo largar.

A aventura a solo do homem por detrás das teclas e de toda a maquinaria dos X-Wife é simplesmente viciante. Dá vontade de rumar até ao Porto, ao Armazém do Chá, para ouvir um set deste passador de discos.

Acabadinho de chegar, pela mão da britânica Untracked Records, o EP Cantonese Man mostra um produtor de mão cheia, um punhado de originais e a versão para Cantonese Man, de Hot Coin.

Confesso que só agora estou a entrar nestas areias movediças da electrónica. Sons sintéticos raras vezes me atraem... Mas no últimos tempos tenho encontrado algumas coisas deveras interessantes.

Uma delas, Rui Maia, daquelas pessoas que não imaginaria num projecto deste tipo, muito menos a passar música em sítios tão distintos como o Lux ou o Plano B. Maia recupera um certo estilo vintage, e quem o vê, discreto nas teclas e programações dos X-Wife, firme na sua estética retro, jamais despertaria estas atenções.

A discrição faz mesmo parte do trabalho de Rui Maia, na banda e a solo. Pouco se sabe sobre ele e o projecto Cantonese Man. Na sua página do MySpace, há ainda outro véu por levantar: Social Disco Club & Maia - The Way You Move 12".

Go, a minha proposta para hoje, tem um ritmo contagiante, faz qualquer um, no mínimo, ensaiar uma mini-dança com o pé direito ou com a cabeça. Confiram. É uma excelente versão, mais dançável, da canção de 1984 dos Tones On Tail, projecto paralelo de Daniel Ash dos Bauhaus.

Ah, e já não acredito quando Rui Maia diz que é um mero passador de discos.

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"Living it up. It's a big kick
It's good for you
Watch the big freeze slip
Crack the jackpot, get out of control
If you put yourself down
You'll never win, get out of that hole
Keep your mind open, your head up
You'll never ever get old"

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Elis Regina - Como Nossos Pais (1976)

Este sábado ouvi pela primeira vez Como Nossos Pais, de Elis Regina. Fora a bossa nova, a música brasileira não me tem atraído, mas como em tudo, há sempre um momento, um momento decisivo que nos introduz neste ou naquele estilo, na obra deste ou daquele músico.

Ouvi o tema de Falso Brilhante pela primeira vez na voz da Luanda Cozetti. Posso dizê-lo agora, um animal de palco tão grande e tão forte quanto a própria Elis. De improviso, acompanhada apenas ao piano, quase sem ensaio, a parte feminina dos Couple Coffee brilhou numa noite já de si especial. Outra coisa não seria de esperar.

Uma interpretação tão intensa que me fez querer ouvir o original, a letra, de Belchior, é de arrepiar. Como Nossos Pais é MPB, com a força dos melhores temas rock, guitarras e, sobretudo, um sentimento que se sente na voz, na expressão, em tudo.

A mensagem, essa, é uma tomada de consciência. Daquelas que marcam a passagem de uma fase da vida para outra, mais madura talvez. É uma mensagem tão bela quanto dolorosa. Cabe a cada um interpretá-la. E rever-se ou não nela.

Quem ainda não ouviu, que ouça. Apesar de ser dura, é obrigatória.

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"Não quero lhe falar,
Meu grande amor,
Das coisas que aprendi
Nos discos...
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
[...]

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais..."

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Nouvelle Vague - I Melt With You (2005)

Pode uma banda de covers cheirar a novo a cada tema, a cada palavra, a cada acorde, com a frescura de quem acabou de inventar melodias e sons completamente novos?
Os Nouvelle Vague podem.

A banda francesa pegou em temas punk e new wave dos anos 70 e 80, deu-lhes a todas roupagens de bossa nova, uma cadência quase inexprimível, uma naturalidade fresca e luminosa. Regressou ao Brasil dos anos 60, às sonoridades jazz da mesma década e da seguinte, e o resultado é uma coisa deliciosa.

As melodias às vezes são tão suaves como brisas, como neste I Melt With You, outras vezes inclivelmente samba, como na versão para Too Drunk Too Fuck, dos Dead Kennedys. O clássico Dancing With Myself ganha às mãos desta Nouvelle Vague contornos de jazz cantados em bicos de pés, e com estalares de dedinhos.

Não sei como pude estar alheada deste mundo novo por tanto tempo. Agora, a pretexto da vinda da banda a Portugal para dois concertos, decidi passar pelo Myspace e ouvir o que por lá havia. Amanhã tenho de sair da Baixa com um disco na mala. Dê por onde der.

A minha proposta para hoje é um doce nestas noites que começam a ser frias. Uma voz tão engraçada de desajeitada, como por vezes tão certinha, uma voz que se arrasta em algumas palavras, de tão deliciosamente inocente. Às vezes lembra-me Nico. Algumas melodias, as mais minimalistas, os próprios Velvet Underground.

Seja como for, está na lista das coisas obrigatórias de ouvir.

I Melt With You, Nouvelle Vague.

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"The future’s open wide
I’ll stop the world and melt with you
You’ve seen the difference and it’s getting better all the time
There’s nothing you and I won’t do
I’ll stop the world and melt with you"

domingo, 26 de outubro de 2008

Pedro Abrunhosa - Não Tenho Mão em Mim (1994)

Senhoras e Senhores, a revelação do ano é... um tal de Pedro Abrunhosa.

No início era o funk. Quando em 94 o músico portuense começou a fazer discos não dispensava o saxofone, as letras provocatórias, o estilo que balançava entro o puro funk, o jazz rock e os blues. À parte grandes baladas como Se Eu Fosse Um Dia o Teu Olhar ou Lua eram assim as canções de Pedro Abrunhosa & Os Bandemónio. Mas os últimos álbuns do artista puseram de lado toda essa irreverência e começaram a entrar noutros registos, com mais preponderância para o piano, para as letras introspectivas e para um melodia - arrisco dizer - um tanto monótona.

Ontem tive a oportunidade de ver e ouvir outro Abrunhosa, o bluesman. Convidado especial do projecto Reservoir Dogs, super-grupo que revisita a banda-sonora dos filmes de Quentin Tarantino, Pedro Abrunhosa surpreendeu a grande maioria da plateia do MusicBox. Os Oh não... que se soltaram quando o músico apareceu em palco deram lugar a expressões de surpresa, e aos poucos o público começou a render-se a uma interpretação inflamada. Confesso: quando soube que um dos convidados dos Reservoir seria Abrunhosa... fiquei (erradamente) desiludida. E o mesmo deve ter acontecido com uma audiência tão alternativa como a que ontem encheu o espaço do Cais do Sodré. Poucos ali gostarão do Abrunhosa-cliché de Momento.
A verdadade é que Pedro Abrunhosa parece muito mais autêntico ao soltar a voz num blues, a improvisar por cima de It's a Man's Man's Man's World do rei do funk James Brown, do que nas baladas.

Em nome da melhor actuação da noite de ontem, recordo aqui Não Tenho Mão Em Mim, do primeiro álbum de Pedro Abrunhosa, Viagens. Está lá o saxofone, o funk, o ritmo e tudo aquilo que lhe fica bem.

Não Tenho Mão Em Mim, Pedro Abrunhosa.

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"Qualquer dia esfumo-me em vapor.
É que isto é mesmo assim,
Sou só uma ilusão,
Nao tenho mão em mim,
É uma maldição!"

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Zé Pedro dos Xutos - Desatinei (2008)

Primeiro foram os Pontos Negros, depois a Deolinda, com o seu Movimento Perpétuo Associativo, candidato a hino nacional, agora estes tipos, os Zé Pedro dos Xutos.
A Internet dá azo a estas coisas. E que seríamos de nós sem eles?

Zé Pedro dos Xutos - a banda, não o próprio - é folcore, é musicomédia, é a verdadeira galhofa musical! Sentido de humor não lhes falta, nem no nome que escolheram.
Só me apetece dizer uma coisa: haja alegria!

Muitas vezes esquecemo-nos dessa parte fundamental da vida, de encarar as coisas com optimismo, com a leveza que a todos faz falta. Na vida, e na música, temos todos tendência para a seriedade e, quando aparece um projecto assim mais galhofeiro, há sempre quem se insurja. Como aconteceu com o grupo de Ana Bacalhau por estes dias. Uma petição on-line a pedir a substituição de A Portuguesa por um tema de Canção ao Lado causou celeuma na Internet. Então não é que algumas pessoas não compreenderam a ironia? Às vezes, para as coisas irem para a frente, para que o movimento perpétuo associativo seja efectivo, um país tem que se rir de si próprio. Não raras vezes a consciência vem daí.

Por isso é que hoje proponho este Desatinei, dos Zé Pedro dos Xutos. Pode ser que assim Portugal dê um passo em frente e promova a igualdade e a liberdade de uma vez por todas.
É que, já dizia o outro, ridendo castigat mores, que é como quem diz, a rir se corrigem os costumes.

Desatinei, o Zé Pedro dos Xutos.

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"À beira rio, perguntou-me o meu tio:
O que lá aconteceu?
Na capital, onde só existe o mal,
No jornal diz que leu:
Uma velhinha
assaltada - coitadinha -
Por um estudante
Disse-lhe: tio, para aprenderes a ser Doutor
Tens de ser ignorante"

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

X-Wife - Fireworks (2008)

Se alguma dúvida restava, ela deixou de existir com Are You Ready For The Blackout?, o terceiro álbum dos portuenses X-Wife, acabadinho de chegar aos escaparates.
O trio já caiu nas graças de James Murphy (LCD Soudsystem), tem aberto para grandes bandas da cena indie internacional, actua para rádios em Nova Iorque, integra colectâneas um pouco por todo o mundo.
Poucos poderão dizer o contrário: os X-Wife são a banda electroclash nacional, ao melhor nível do que se faz lá fora.

Conversar com João Vieira, Fernando Sousa e Rui Maia é descobrir um grupo sem grandes pretensões, apesar do brilhante percurso que têm feito. Podiam ter o rei na barriga, mas não o fazem. Honestidade é a palavra certa.
Vieira (a.k.a Dj Kitten) eleva a voz em falsete com uma facilidade estonteante, de tão natural. São dele também as letras, desta vez um pouco mais dark, como já tinha ouvido por aí. "Estados de espírito", apressa-se a justificar.
Às teclas e na programação está Rui Maia, de postura equilibrada e rosto afável. Também ele é um "passador de discos", como gosta de dizer. Mas só de vez em quando.
Fernando Sousa está de corpo e alma nos X-Wife e isso vê-se e sente-se ao vivo. Com uma energia quase espasmódica, agarra as linhas de baixo e vibra com elas, do princípio ao fim.
Desde há um ano que Nuno Oliveira se junta ao trio. Mas ao vê-lo atrás da bateria, podia dizer que sempre fizera parte do colectivo.

Are You Ready For The Blackout? mostra uns X-Wife cada vez mais coerentes, um trio que faz música claramente por prazer. Música tão actual como intemporal. E do melhor que se faz por cá.

Escolhi Fireworks de um álbum comprovadamente de boas canções, apesar de ser uma das canções mais pop, porque o registo vocal de João Vieira é completamente viciante. Um bocadinho mais que em Headlights.

Good Times também é uma surpresa engraçada. E desta vez não é Freddie Mercury que está lá atrás num plasma a servir de inspiração. É Prince.

Parece-me que vou voltar a Are You Ready For The Blackout? mais uma ou outra vez. Por enquanto fica esta sugestão, Fireworks, X-Wife.

Ready or not... um disco mais que obrigatório.
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"Until the night is gone
I hear fireworks...
Strange things seem to happen when you're sober
Just like the rope breaks when you're not pulling any harder"

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Margarida Pinto - Apontamento (2005)

Hoje de manhã lembrei-me deste Apontamento, do álbum com o mesmo nome, o primeiro a solo de Margarida Pinto.
A partir da poesia de Fernando Pessoa, mas não só, a vocalista dos Coldfinger deixou por uns tempos o ambiente trip-hop da banda que partilha com Miguel Cardona e aventurou-se numa pop mais leve mas de bom gosto.
Na altura os Coldfinger estavam menos activos, Supafacial só chegaria aos escaparates dois anos depois desta aventura a solo.
Muitas vezes esquecidos, Coldfinger e Margarida Pinto são nomes a reter no panorama musical português.

E talvez seja esta postura tão discreta e ao mesmo tempo tão segura que faz de Margarida Pinto uma intérprete tão interessante. Nos Coldfinger mais sofisticada, a solo num registo mais naïf, mas sempre muito competente.

Obrigatório espreitar o Apontamento, de Margarida Pinto.

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"Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
O que era eu, o que era eu?
Um vaso vazio
O que era eu, o que era eu?"

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Pearl Jam - Off He Goes (1996)

Durante esta semana tenho voltado aos Pearl Jam. Talvez seja do Outono que já começa timidamente a instalar-se.

E tive aquela sensação que se tem quando regressamos a um sítio que adoramos passado muito tempo ou quando comemos aquele bolo de frutos secos delicioso que não provávamos desde o último Natal: isto é mesmo bom. E continua bom passados todos estes anos.

É assim com os Pearl Jam. A banda de Eddie Vedder encabeça as minhas preferências musicais desde que me lembro de gostar de música. Juntamente com os Nirvana e outros grupos do movimento grunge, eles marcaram a minha adolescência.

Se me perguntarem porquê, provavelmente vou engasgar-me a responder. A verdade é que Vedder é um líder carismático, precisamente por o não querer ser. Stone Gossard e Mike McCready são dois guitarristas de mão cheia. Jeff Ament e Matt Cameron compõem uma das bandas mais maduras de toda a história do rock.

Maturidade é talvez a palavra chave.

Este Off He Goes de No Code não é dos temas mais carismáticos da banda. Aliás, pu-la por "engano" no leitor de Mp3. Estava com vontade de ouvir Pearl Jam, mas as canções mais enérgicas.

Foi no entanto uma boa escolha, e esta manhã dava comigo a cantá-la baixinho enquanto trabalhava.

Contam que Off He Goes é autobiográfica. Que Eddie Vedder é o homem de que se fala, pulled and tense like he's riding on a motorbike in the strongest winds.

São estas pequenas histórias, mais ou menos trágicas, mais ou menos felizes, que fazem dos Pearl Jam a grande banda que conhecemos.

São histórias simples. São as histórias de cada um de nós.

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"So I approach with tact, suggest that he should relax
But he's always moving much too fast
Said he'll see me on the flipside
On this trip he's taken for a ride
He's been taking too much on ...
There he goes with his perfectly unkept clothes
There he goes..."

sábado, 27 de setembro de 2008

Projecto Fuga - Hermeticamente Fechado (2008)

Protagonista exímio de anedotas bem portuguesas, região onde as taxas de suicídio são elevadas, são muitos os clichés sobre o Alentejo. Encontrar nele nova música não foi fácil, quem o diz é JP Simões, o editor e "pesquisador" do KM0. Não foi fácil, mas valeu bem a pena.
A edição de hoje do programa transmitido pela RTP2 convenceu-me a olhar com mais atenção para o Projecto Fuga, bastante aclamado pela crítica.
Fuga é um projecto como poucos, é pop, alternativa, com toques de electrónica, de soul... de tudo. As participações especiais, do próprio JP a Adolfo Luxúria Canibal, passando pela brasileira Fernanda Takai, dos Pato Fu, dão a 01, o álbum de estreia, uma diversidade enriquecedora, um gostinho diferente a cada audição. Ao vivo a voz é sempre de Rosete Caixinha, uma voz para lá dos holofotes sintéticos dos programas de televisão.

O Alentejo é realmente uma caixinha de surpresas. Já o tinha percebido noutras ocasiões, vejo-o agora também na música. Para além do Projecto Fuga, a edição de hoje de KM0 introduziu-me à dupla Oxalá que, instalada num deserto monte alentejano, isolada de tudo, produz uma música chill out de horizontes bem abertos.

Proponho para hoje esse exercício poético que é Hermeticamente Fechado, um dos temas do primeiro álbum do Projecto Fuga. Suave, melódico, um arrastar de palavras simplesmente delicioso.

Projecto Fuga, Hermeticamente Fechado.

Obrigatório.

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"Será que um dia
alguém vai abrir o que se fechou
e descobrir
o que alguém deixou
hermético, sintético,
poético, magnético...
Coração."

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Chauffeur Navarrus - Juca Camaleão (2008)

Recebi hoje no e-mail mais um tema a incluir no primeiríssimo álbum dos Chauffeur Navarrus, Estradas Locais, que deve estar mesmo a rebentar nos escaparates.

Juca Camaleão é blues do melhor que se faz em português. Bom swing, a harmónica de João Coutinho com um protagonismo merecido e o trombone de Guida Costa a dar um toque big-band muito interessante. O resto é de uma competência de que nunca duvidei: Paleka, para mim o grande bluesman do Chauffeur - com direito a chapéu e tudo - , está em forma; o baixo sempre a pontuar, e a voz de João Navarro cada vez melhor. Os coros como sempre magníficos, uma verdadeira party track, como lhe chamaram, com palmas e gritos.

E depois há esta história de um tipo vigarista como muitos que encontramos por aí, que vai de Marrocos ao Japão, vender todo o tipo de coisas mesmo as que não interessam a ninguém. Até o fornecedor engana.

Venham daí essas estradas locais, que estamos a precisar de uns caminhos novos e menos congestionados por onde andar.

Juca Camaleão, pelo Chauffeur Navarrus.

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"Vendes óculos escuros, carros, esquemas e seguros,
és um artista!"

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

JP Simões & Luanda Cozetti - Se Por Acaso (Me Vires por Aí) (2007)

Sento-me ao computador com uma alegria quase adolescente, apesar do inchaço do lado direito da cara (um dente extraído...) e do saco de legumes a servir de compressa de gelo. Hoje conheci JP Simões, conheci mesmo. Já aqui falei do músico que descobri ser de Coimbra. Várias vezes até. A propósito do primeiro álbum a solo, 1970, e do programa que edita e apresenta aos sábados na RTP2, KM0.

Camisa branca, calças de ganga - magríssimo -, vejo-o entrar. O vai e vém por aquelas bandas é grande e não reparo, apesar de já estar à espera dele. Quando abre a boca para dizer Olá, boa tarde, aí reconheço-o. Não é o João, como teima em apresentar-se. É o JP Simões.

O que talvez não pareça óbvio, a julgar pelas suas canções, é o fantástico sentido de humor do músico. Conversar com ele é coisa de outro mundo.

Hoje proponho aqui Se Por Acaso (Me Vires Por Aí), na versão especialíssima em dueto com Luanda Cozetti, do excelente projecto Couple Coffee, aquando do lançamento de 1970. Dois músicos fantásticos, num tema tão simples - de travo a canção clássica - quanto belo.

É uma ode - arrisco dizê-lo - à vida citadina, à solidão que atravessa os corações cosmopolitas. Pelo menos vejo-a assim. Uma canção sobre encontros e desencontros, onde alguém diz "Quero que saibas que cago no amor, / Acho que fui sempre assim...", como quem diz ama-me, encontra-me.


Se Por Acaso (Me Vires Por Aí), JP Simões & Luanda Cozetti para ouvir.

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"Se por acaso me vires por aí
Vamos tomar um café
Diz qualquer coisa, telefona, enfim
Eu ainda moro na Sé"

terça-feira, 16 de setembro de 2008

The Legendary Tiger Man - I Got My Night Off (2006)

The Legendary Tiger Man é seguramente um dos projectos mais interessantes na já de si muitíssimo interessante cena musical portuguesa. Uma one-man-band que parece ter vindo das décadas de ouro dos blues, da brilhantina, do rockabily...

Femina, o aguardado novo álbum de Tiger Man, deverá estar nos escaparates em Março próximo. A voz de Peaches já está confirmada e outras vozes femininas deverão dar o seu contributo. Uma escolha que a mim me deixa ainda mais curiosa.

Este I Got My Night Off é de Masquerade, o último álbum de The Legendary Tige Man.
Enquanto Femina não chega, aproveite a sua noite de folga para ver e ouvir um dos mais estimulantes músicos da nossa praça.

The Legendary Tiger Man, I Got My Night Off.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Peltzer - The Great Ladder (2008)

A edição deste sábado de KM0 foi mais uma agradável viagem pelo que de melhor se faz nas salas de ensaio improvisadas por esse país fora.
Dizia-me alguém na semana passada que em Portugal, em música, pouco se faz e o que se faz não tem grande qualidade. Como o meu amigo está enganado, apeteceu-me dizer-lhe.

A minha proposta para hoje vem directamente de Tomar, à boleia de JP Simões. Chama-se Peltzer, e é um projecto de um só homem. Se fosse rock seria com certeza uma one man band. Não sendo, é estranho utilizar o termo. Não posso evitar comparações com Moby, por se movimentar nas estradas da electrónica e por decidir fazê-lo sem companhia. Boas canções, uma voz interessante (talvez até mais do que a do próprio Moby, não querendo esgotar aqui as comparações...), e, sobretudo, uma impressionante consciência da fase que a indústria musical atravessa por estes dias.

Foi essa lucidez que mais me impressionou no discurso de Peltzer. E é por estas razões que programas como KM0 não deveriam desaparecer das grelhas das televisões. Para além de divulgar a música, dar espaço para que os músicos expressem as suas opiniões e preocupações sobre o mundo discográfico é vital. Temos todos muito que aprender com isso.

Tem-me também impressionado um certo factor de "interioridade", apenas passível de ser apreendido quando se viaja de terra em terra. Este conceito de "interioridade" aplicado à música entende-se nas palavras de Peltzer quando diz que houvesse mais sítios para tocar ao vivo, Tomar seria palco da nova cena electrónica portuguesa. E o pior é que Tomar não é o único sítio onde as coisas fervilham sem que se lhes consiga dar vazão.

Para hoje, Peltzer, The Great Ladder.

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Ando há dias para perguntar isto:
por que é que toda gente deu agora para ouvir música nos telemóveis, sem phones?

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Ella Fitzgerald & Louis Armstrong - Dream a Little Dream of Me (1950)

Sentei-me do lado da janela, embora este em nada seja diferente do lado do corredor. Afinal, estava no metro. Da janela, nada para ver.
Sentei-me e um pensamento acorreu automaticamente, como aqueles "pensamentos mágicos" que formulava em criança, quando queria muito saber a resposta a uma coisa que tardava, quando queria, de certa forma, antecipar o futuro. Se o telefone tocar neste preciso momento... Se a próxima música a passar na rádio for cantada em português... Se... aquilo que queria realizava-se.

Esta manhã quando me sentei no metro tive um feeling. E, brincando um pouco com aquela ideia que me preencheu a infância, fiz uma espécie de "promessa". Dream a Little Dream of Me seria a canção do dia aqui no estaminé. Mas só se...

Ora, o se aconteceu mesmo, e aqui está uma vez mais, a grandiosa dupla do jazz, Ella Fitzgerald e Louis Armstrong. Promessas são promessas, por mais infantis que sejam.

Já nem sei o que dizer mais de Satchmo e da First Lady Of Song. Todos os que frequentam esta casa conhecem a minha admiração por eles. Dream a Little Dream Of Me começa com o trompete de Armstrong muito bem acompanhado pelo scat delicioso de Fitzgerald. Ella continua, desta vez com palavras, o trompete sempre a pontuá-la, depois é a vez de Louis Armstrong pegar nas palavras, arrastá-las. Fitzgerald acompanha-o num improviso e continua. Scat de Armstrong, scat de Ella. Os dois em coro. Uma simbiose perfeita.

É assim em Dream a Little Dream of Me. Ella Fitzgerald e Louis Armstrong.

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"Sweet dreams...
Till sunbeams find you
Keep dreaming...
(You gotta keep dreaming...)
Leave your worries behind you...
But in your dreams,
Whatever they be,
You gotta make me a promise:
Promise to me you'll dream...
Dream a little dream of me..."

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Bem, diria que começa aqui uma nova era para a pessoa que tem estado atrás do balcão deste estaminé.
Coisa que afectará o estabelecimento em si - parece-me - de forma positiva.
Pode demorar um bocadinho mais em algumas alturas, mas vai continuar a haver sempre por aqui uma música por dia! Pelo menos!

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Coldplay - Don't Panic (2000)

- Já ouviste isto?

- É o quê?

- Chamam-se Coldplay. Tens de ouvir.



E deu-me um dos phones para a mão. Foi assim que, numa viagem qualquer, me deram a conhecer a banda de Chris Martin. Uns tipos britânicos faziam um rock introspectivo, agri-doce, e lançavam o primeiro álbum, Parachutes.



Os singles não tardaram a passar em todas as rádios. Yellow, o primeiro avanço, pôs o nome Coldplay no mapa, apesar de, para mim, não ser o tema mais interessante do disco. Depois vieram Shiver, Trouble, Sparks e este Don't Panic, estas sim, grandes canções.



Já aqui falei da mais recente aventura dos Coldplay nos registos de estúdio, Viva La Vida or Death And All His Friends, disco que ainda não me convenceu totalmente. Violet Hill e o mais recente Viva La Vida já me soam melhor quando com eles me cruzo na rádio, mas falta-lhes aquele quê mágico que me fez gostar da sonoridade dos britânicos à primeira audição.



Por isso é que há pouco ouvir Don't Panic ao passar inadvertidamente pelo 30 Minutos da RTP soube-me a uma boa lembrança, como um pôr-do-sol esquecido.



Para recordar (já lá vão uns inacreditáveis 8 anos!), Coldplay, Don't Panic.



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"Bones, sinking like stones

All that we fought for,

Homes, places we've grown,

All of us are done for."

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Montecalvo146 - O Camponês Viu o Mar (2008)

A música de hoje é uma sugestão vinda directamente da edição deste sábado de KM0. Perto de Santa Maria da Feira, em Montecalvo, no número 146, JP Simões e equipa descobriram... os Montecalvo146.

Donos e senhores de uma interessante sonoridade experimental e electrónica, aliada a uma poesia do canto falado, os três músicos lançaram este ano o primeiro CD promocional, Chaves de Casa.

Nele, Cristiano Moreira, Lionel Fernandes e Ricardo Raimundo juntaram experiências em forma de faixas. Umas mais electrónicas, outras mais melódicas, umas mais bem conseguidas outras menos. Chaves de Casa, disponível para download no MySpace da banda, inclui até uma revisitação do clássico tema de Carlos Paião Cinderela, a que deram o nome de Cinderela Nulla Vita, na minha opinião o menos inspirado dos 4 temas de apresentação.

Canção tocada ao vivo para o KM0 e para mim o melhor tema de Chaves de Casa, O Camponês Viu o Mar é um grandioso cartão de visita para os Montecalvo146. Poesia em palavras e sons, samples muito bem escolhidos, o tema é um grande exercício de inspiração e vai-me fazer seguir de perto o percurso da banda de Santa Maria.

Ao ouvi-los não posso deixar de associar-lhes algumas sonoridades, muito embora não tenha ideia se sejam ou não efectivas influências. Ricardo Raimundo faz-me de alguma forma lembrar o estilo de Pedro D'Orey nos Wordsong e também, mas mais vagamente, o de uns Mão Morta mais calmos e electrónicos. Meras suposições.

Os factos são estes: Montecalvo146 é uma localização a reter.

Para hoje e para começar, O Camponês Viu o Mar, Montecalvo146. Obrigatório.

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"Ouve lá, já viste o mar?
Dizem-lhe o infinito,
Dizem que toca ao longe o céu
E que dele se torna
Indistinto.

Dizem que é de um azul imenso
E dizem também,
Para espanto meu,
Que não é dele a cor azul
Mas da vontade do céu."

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Michael Jackson - Beat It (1982)

Todo o dia estive indecisa sobre a minha proposta para hoje. Indecisa entre um otoverme que se alojou nos meus ouvidos de manhã e azucrinou-me (no melhor dos sentidos) até há pouco e a continuação da descoberta da obra de um grande senhor.

Ora, não me decidi nem por um nem por outro. Ficam para próximas ocasiões.

Michael Jackson faz hoje 50 anos. Mas não foi propriamente para assinalar a efeméride que escolhi Beat It para hoje. Na verdade já andava para falar de Jackson há algum tempo.

Beat It é a música do dia porque andei a espreitar o top das 50 melhores guitarradas de sempre organizado pela Blitz e o tema aparece no nº 42 da contagem. No site da revista, a lista é completada com vídeos e neste, de 1982, ao vivo, Michael Jackson, com uma ajudinha do grande Eddie Van Halen faz um brilharete.

O tema do incontornável Thriller é uma sábia mistura de soul e rock, de pesadas guitarras e do ritmo funk que torna o velho Jackson inconfundível, como se diz e bem no número deste mês da Blitz.

Para juntar à lista daqueles prazeres (in)confessáveis que é toda a década de 80. Michael Jackson, Beat It.


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"They're out to get you, better leave while you can
Don't wanna be a boy, you wanna be a man
You wanna stay alive, better do what you can
So beat it, just beat it"

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Não posso deixar passar isto em branco: João Cabeleira, o mestre à guitarra, dá uma rara e extraordinária entrevista neste número especial Rock Puro e Duro da Blitz. Rui Miguel Abreu é sem dúvida um jornalista feliz e feliz é também a forma como Cabeleira se descreve. "Pode-se dizer que sou um guitarrista tranquilo". Mais palavras para quê? Soberbo.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Louis Armstrong - La Vie En Rose

A crítica já tinha avisado: Wall.E não é apenas mais um filme de animação. É o E.T. dos novos tempos. Aqui e ali já se ouve que esta história é o mais recente clássico da Ficção Científica.

Eu vi e apaixonei-me.

Quem não viu pode perguntar-se: afinal que tem Wall.E de tão espectacular? Quem já viu responderá certamente: tudo.
Para além de ser uma belíssima história de amor, das mais simples e comoventes que já vi, tem um excelente enredo, ao bom estilo da Ficção Científica mais clássica. Visualmente é surpreendente. É certo que estamos a falar da Pixar, mas conseguir expressões tão humanas em robôs é obra, mesmo para os mestres da animação.

É esta humanidade que o filme transpira que o torna tão delicioso. A banda sonora escolhida para Wall.E também foi certeira: desde Hello Dolly, o musical a que o pequeno robô assiste todos os dias e que tenta desajeitadamente imitar, até este La Vie en Rose.
Sei que sou suspeita, mas o jazz clássico parece-me, cada vez mais, assentar que nem uma luva ao universo Wall.E.
Talvez não tão óbvia como o amor e a solidão, a temática do regresso a uma humanidade perdida é outro dos pontos fulcrais desta história. E Andrew Stanton e restante equipa souberam transmitir esse desejo com a ajuda da banda-sonora e de outros pormenores como os objectos que Wall.E colecciona, sendo o mais paradigmático a cassete de vídeo que revê vezes sem fim.

Sem dúvida, um filme apaixonante. Indispensável.

Parte da banda-sonora do filme, aqui fica em jeito de homenagem, a versão que Satchmo fez para o clássico de Edith Piaf.

Louis Armstrong, La Vie en Rose.

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"When you kiss me heaven sighs
And tho I close my eyes
I see la vie en rose"

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Akira Yamaoka - Tears Of... (1999)

Descobri toda uma nova dimensão musical ao ouvir a banda sonora da série Silent Hill, o videojogo.

Não sou muito de bandas-sonoras, nem de filmes, nem de séries, nem de jogos. Nunca tal me tinha passado cabeça, poder gostar daquelas faixas que vão aparecendo enquanto jogamos um jogo qualquer para passar o tempo. Até que me apresentaram a obra de Akira Yamaoka, o músico japonês que compõe todas as músicas e efeitos sonoros para os jogos Silent Hill.

O jogo em si é de uma riqueza ambiente muito forte, principalmente no que diz respeito ao som. Não sou especialista em videojogos, mas não me parece que esteja a dizer uma grande asneira: com a ajuda de Akira Yamaoka, Silent Hill é o jogo de terror.

A música propriamente dita, é difícil de enquadrar num género, muito embora se possa dizer sem problemas que é ambiente ou industrial.

Tears Of..., o tema que escolhi para hoje, é um bom exemplo daquilo que mais me impressionou na obra de Yamaoka: o cuidado com que compõe, apesar de o fazer para um videojogo.
Um pormenor delicioso nesta faixa de Silent Hill 1: o crepitar característico dos discos de vinil, apesar de toda a música de Akira Yamaoka ser já em formato digital.

Akira Yamaoka, Tears Of...

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Talking Heads - Once in a Lifetime (1980)

A minha incursão habitual pelo Planeta Markl levou-me a Once in a Lifetime, talvez a mais paradigmática canção dos Talking Heads.

Não sou fã devota da banda de David Byrne, mas os 80's são os 80's. A década de ouro desses guilty pleasures que são canções como a que proponho hoje.

Once in a Lifetime tem todo o kitsh musical a que os anos oitenta nos habituram: um ritmo frenético, tão desengonçado quanto a figura de Byrne em palco, um refrão do mais orelhudo que há, pontas de um humor sarcástico acentuadas pelo estilo inconfundível de entoar as palavras.

Hoje, uma música tão improvável como dar consigo ao volante de um automóvel topo de gama ou do outro lado do mundo.

Once in a Lifetime, os Talking Heads

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"And you may ask yourself
What is that beautiful house?
And you may ask yourself
Where does that highway go?
And you may ask yourself
Am I right? ... Am I wrong?
And you may tell yourself
My god!...what have I done?"

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Xutos & Pontapés - 1º de Agosto (2000)

Esta música chega com uns dias de atraso. Estamos em Agosto, e em Agosto o mundo parece que abranda todo um bocadinho. Nada acontece e os dias sucedem-se quentes e monótonos.
Quentes como este tema de 1º de Agosto no Rock Rendez-Vous, a prova de que a simplicidade em música pode ser sinónimo de uma grandeza emocionante.

1º de Agosto é mais que um hino ao verão e ao tempo de descanso que esta altura representa para grande parte dos portugueses. É uma inexplicável sensação de regresso, de liberdade, de frescura.

Esqueçam tudo o que sabem sobre as tradicionais canções de verão. 1º de Agosto é outra coisa.


Para conferir, de Agosto, os Xutos e Pontapés, ao vivo no mítico Rock Rendez-Vous.

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"Adoro ver a praia dourada
O estranho brilho da areia molhada
Mergulho verde nas ondas do mar
Procuro o fundo para lhe tocar

Estendido ao sol, sem nada dizer,
sorriso aberto de puro prazer
Todos os anos em praias diferentes
Se buscam corpos sedosos e quentes"

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Nirvana - Come As You Are (1991)

O bebé Nirvana é um fait-divers. Mas um fait-divers que não passa ao lado dos fãs da mítica banda de Seattle.


Falo da notícia que correu esta semana. O bebé que aparece na capa do épico Nevermind já tem 17 anos. Foi uma feliz coincidência. Precisava-se de um bebé para fazer a capa do álbum e os pais de Spencer Elden lá aceitaram atirá-lo para a piscina para fazer umas fotos. Receberam 200 dólares por isso e, digo eu, estariam longe de imaginar que o filho seria a imagem de um dos álbuns mais influentes da história da música mais recente. O álbum que poria definitivamente o grunge no mapa da música mundial.


Spencer, o bebé Nirvana, é um ícone acidental. Diz que até gostava de ter vivido os seus 17 anos na década de 90. Gosta dos Nirvana, mas nunca chegou a conhecer nenhum dos membros. O grunge não lhe desperta tanto interesse como o tecno, mas conserva em casa o disco que o mostra como veio ao mundo, perseguindo uma nota.


Para além de se ver aqui e ali, numa t-shirt, num poster, num disco, a fama não o rala. Mas, aqui para nós, ser a imagem de um álbum que marcou várias gerações, é uma responsabilidade e, de certa forma, um orgulho.


É que Nevermind é tão-só o disco de pérolas como este Come As You Are ou Smells Like Teen Spirit, o grande single.


Hoje proponho aquela que, a cada audição, me parece cada vez mais indiscutivelmente, a canção de Nevermind. Tudo me soa a perfeição. Tudo. Do início, arrepiante, ao fim. Cada instrumento a entrar no tempo certo, da forma certa. Uma excelente composição. Do mais inspirado que há na discografia da banda de Kurt Cobain.


Para hoje, para sempre, Come As You Are, os Nirvana.




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"Take your time,

Hurry up,

choice is yours don't be late"

terça-feira, 29 de julho de 2008

The Guys From The Caravan - You Love You Commit Suicide (2008)

Estreou no passado dia 26 o tão esperado KM0, o programa de divulgação musical apresentado por JP Simões.

Ainda não eram 19:30h e já me sentava confortavelmente no sofá da sala dos meus pais à espera da estreia. O chef Henrique Sá Pessoa e o seu Entre Pratos é que ganharam comigo mais uns pontinhos de audiência... Não queria perder um segundo do programa.

A fasquia estava alta. Por um lado, a produção, a cargo da BUS, já tinha ganho a minha admiração com o programa Câmara Clara, também transmitido pela RTP2. Por outro, temos a coordenação e a apresentação de um dos músicos mais estimulantes do momento, JP Simões. A estes dois factores de peso juntamos o objectivo e o lema de KM0: percorrer Portugal e ir de encontro àqueles que, no escuro das suas garagens e estúdios improvisados, dão dinamismo à cena musical portuguesa.

As minhas expectativas eram altas, mas KM0 ainda conseguiu surpreender. Está lá tudo, uma excelente produção, um excelente formato, dá voz aos músicos, mostra as suas influências, o seu local de trabalho e - a cereja no topo do bolo - mostra a música gravada ao vivo.

Neste primeiro programa, JP e a equipa de produção rumaram a Norte e visitaram Man&Bellas, um simpático grupo que ressuscitou a sanfona; Anaquim e estes The Guys From The Caravan, duas bandas presentes nos Novos Talentos Fnac 2008.

A minha proposta de hoje é de um grupo que define o seu estilo como rocklore. Os Guys From The Caravan são folk bem disposta, risonha. Este You Love You Commit Suicide foi-me apresentado via KM0. E enquanto não chega o primeiro álbum, que vai começar a ser gravado em meados de Agosto e produzido por Flak, aqui fica a sugestão. É música fresquinha, da época.

You Love You Commit Suicide, The Guys From The Caravan.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Silence 4 - Blackbird (2000)

Dou comigo a pensar no que representam as covers. Esta é dos Silence 4, para um tema dos Beatles, do épico White Album.

Gosto do Blackbird de David Fonseca e companhia. Aliás, tanto nos Silence 4 como a solo, o músico tem feito boas versões, sobretudo quando se apresenta ao vivo. São grandes momentos. Mesmo quando os temas revisitados não são os maiores êxitos da banda "homenageada".

Assim, há versões de que gosto bastante, que são segundas-vidas para o tema original. Outras há que são meras cópias, sem valor acrescentado. Como é que as distinguimos? Não sei, nem me parece que isso seja fundamental.

Cada um terá as suas razões para gostar ou não de determinada cover. Para mim o essencial, o que me faz realmente gostar de um tema não original, é a forma como é interpretado e sobretudo sentido. Quando o músico se lança no desafio de revisitar uma canção, das duas uma: ou é fã do original ou procura algum tipo de "consagração" através da banda revisitada.

Confesso que a versão de Alanis Morissette para Crazy, uma excelente canção de Seal, me deixou particularmente perplexa. A minha mulher-ídolo do início dos anos 90, em quem em distinguia uma criatividade musical interessante, revisitava um tema sem lhe acrescentar absolutamente nada. Nem uma nova roupagem, nem sentimento, nem interpretação. Com que objectivo? Também não sei.

Para hoje proponho Blackbird, na versão dos Silence 4, incluída no DVD gravado ao vivo no Coliseu dos Recreios em 2000. Um tributo aos Beatles bastante bom.

Silence 4, Blackbird.

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"Blackbird singing in the dead of night
Take these sunken eyes and learn to see
All your life
You were only waiting for this moment to be free"

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Culture Club - Karma Chameleon (1983)

A Gigwise fez no seu site uma galeria com fotos de músicos antes e depois do consumo de drogas. O resultado é impressionante. Por lá desfilam figuras como Elvis Presley ou Amy Winehouse, passando por Pete Doherty, Courtney Love ou Kurt Cobain. Alguns mais desfigurados que outros, mas todos apresentam sinais físicos bem visíveis dos efeitos de anos de consumo de drogas pesadas.

Aquele que mais me chocou foi Boy George. Quem não se lembra do excêntrico músico, muito branco e de rosto efeminado, quase sempre de chapéu? Com os Culture Club, banda que integrou durante os anos 80, entoou êxitos como Do You Really Want To Hurt Me e este Karma Chameleon.
Lembram-se?























Boy George aparece na minha memória assim, como se mostra nestas fotografias. Entretanto os anos 80 passaram, e nunca mais me lembrei do vocalista dos Culture Club, a menos que encontrasse algum dos seus hits na rádio. Nunca vi nenhuma imagem dele mais recente. Ou se vi, dificilmente o reconheceria.
E você, consegue ver o Boy George dos 80's nesta outra foto, tirada aquando do cumprimento de uma pena de trabalho comunitário por posse de drogas?





















Eu não.
Por isso prefiro recordar Karma Chameleon, o hit de Coulour By Numbers, o segundo álbum dos Culture Club, com uma imagem do jovial e quase infantil Boy George do chapéu e lábios vermelhos.
Karma Chameleon, Culture Club.
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"I'm a man without conviction
I'm a man who doesn't know
How to sell a contradication
You come and go
You come and go"

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Coldplay - Viva La Vida (2008)

No final de Abril tinha prometido voltar a Viva La Vida Or Death And All His Friends, o novo álbum dos Coldplay. Esta manhã ouvi o segundo single, Viva La Vida, e achei que estava na hora de cumprir a promessa.

À primeira audição, o primeiro avanço, Violet Hill, não me convenceu. Pareceu-me completamente desenquadrado, talvez pelas referências a Dezembro e à neve e ao frio. Não é que as canções devam estar em sintonia com as estação do ano, no entanto isso pode influenciar a predisposição dos ouvintes para receber um single novo.

Não sei se foi esse facto ou não que me fez reagir a Violet Hill com alguma estranheza e até desilusão. Hoje, a canção já me soa melhor, embora ainda me deixe dúvidas. Todos os outros singles lançados pelos Coldplay têm em mim um impacto definitivo. Ou gosto ou não gosto. Neste caso não foi assim.

Viva la Vida, o segundo tema single, é bem distinto do primeiro, embora a mim me surja envolto no mesmo cepticismo. Não, também ainda não me convence. Parece-me mais solarengo que o primeiro, mas pouco "brilhante".

Apesar de tudo isto, e tendo em conta o que as opiniões valem em si, o álbum tem tido uma boa recepção por parte dos fãs e da crítica. Eu é que ainda não tenho vontade de ouvir o disco todo.

De qualquer das formas, aqui fica a sugestão: Viva La Vida, Coldplay.

(outra coisa que me parece desenquadrada é o título... as letras também não dão grandes pistas... Acho que vou demorar tempo a montar este puzzle).

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"For some reason I can not explain
I know Saint Peter will call my name
Never an honest word
But that was when I ruled the world"

terça-feira, 22 de julho de 2008

João Gilberto - Corcovado (1960)

Estes quentes finais de tarde merecem música a condizer. Quando as pessoas regressam às suas casas, carregadas de sacos de compras e suor no corpo, o sol a preparar-se para se esconder atrás dos prédios nos subúrbios da cidade.

A bossa nova, talvez por vir de terras quentes, é a banda-sonora ideal para os fins de tarde de verão. Não tenho abastecido o meu leitor de Mp3 com música há algum tempo, muito por culpa do livro que me tem absorvido as horas, mas que já terminei. De volta à música, ontem passeei-me pelas rádios, deixei-me ficar numa delas onde João Gilberto cantava este Corcovado que hoje vos proponho. A canção, com letra de Tom Jobim, faz parte de O Amor, o Sorriso e a Flor, da discografia do pai da bossa nova, lançado em 1960.

João Gilberto criou o estilo parente do jazz, desenvolvendo o ritmo do samba e o canto falado. Uma cadência que a mim me agrada muito.

Corcovado é um tema paradigmático do movimento bossa nova. Ao longo dos anos conheceu várias versões. Percorreu o mundo em português por várias vozes, incluindo a de Elis Regina, em inglês por Frank Sinatra e até em francês, por um músico fascinado pela bossa nova, Pierre Barouh, que não resistiu e incluiu a tradução de Corcovado no seu álbum de 2006.

Também não resisto.

Corcovado, a letra de Tom Jobim cantada por João Gilberto, é a minha proposta para hoje e para todos os fins de tarde de verão. Ou de Inverno. Ou quando se quer fazer feliz a quem se ama.

João Gilberto, Corcovado.

Que lindo!

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"Quero a vida sempre assim com você perto de mim
Até o apagar da velha chama
E eu que era triste
Descrente deste mundo
Ao encontrar você eu conheci
O que é felicidade, meu amor"

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Xutos & Pontapés - No Quarto de Candy (1997)

Ando a ler compulsivamente um livro. Há muito, muito tempo que não lia assim. Tenho dedicado a maior parte do meu tempo livre à música e, por incrível que possa parecer, ao trabalho.

Nestes últimos tempos tenho esquecido o leitor de mp3 naquela bolsinha pequena da mala, e carregado comigo, todos os dias, uma pasta com o tal livro, para que todos os momentos livres (5 minutos aqui, 10 ali) possa pegar nele e entregar-me àquelas páginas.

Trata-se do segundo livro do jornalista de investigação espanhol, Antonio Salas (pseudónimo), que se infiltrou durante um ano no mundo das máfias da prostituição.

À conta de Um Ano no Tráfico de Mulheres, vejo por todos os lados prostitutas, proxenetas e putanheiros. Traficantes, bruxos e bruxas. Aquela menina muito loira e muito branca que desmaiou esta manhã no metro poderia bem ser uma das raparigas traficadas do leste europeu que Salas descreve a páginas tantas. Aquela negra de formas generosas que encontro todos os dias no autocarro à ida para casa, poderia bem ser a Susy ou a Mery ou a Loveth da verídica história do jornalista infiltrado. O homem de aspecto asqueroso, de suspensórios, que trabalha na mesma empresa que eu poderia bem ser o putanheiro veterano Jesús ou Paulino. E Sunny, o horripilante pugilista nigeriano e traficante de mulheres, que Salas ajudou a prender, poderia ser aquele homem de ar ameaçador que se encosta ao muro da casa em frente.

É, sem dúvida um livro marcante. Não tanto pelo estilo de escrita que é, em alguns momentos repetitiva e pouco criativa (Salas é jornalista, não escritor), mas pela experiência em si e pela realidade que traz à luz do dia. Uma realidade que nos passa completamente ao lado.

Esta minha leitura fez-me lembrar de No Quarto de Candy, tema de Dados Viciados, o álbum mais "temático" dos Xutos & Pontapés. É que, apesar de não ter a certeza que a Candy da canção é uma prostituta, sempre a identifiquei como tal. O filme de 2006 com Heath Ledger, Candy, pode também ter contribuído subliminarmente para esta minha ideia.

No Quarto de Candy é uma balada com o seu quê de trágico, muito rock, de guitarras densas. Chega a ser arrepiante a forma como Tim por vezes se demora nas palavras.

Por isso, aqui fica a sugestão, os Xutos & Pontapés No Quarto de Candy.

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"Se quiseres entrar
No quarto de Candy
Vais ter de pagar
A ternura de Candy

E ela é tão doce
Candy

E eu fico á espera
Que se apague a luz
No quarto de Candy

Quando ela aparece
E sorri bonita
Sabe que quero ser o seu herói

E eu quero-te tanto
Nunca te vou deixar partir
Darei tudo, tudo o que tenho
Para tu seres minha esta noite"

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Pearl Jam - Gimme Some Truth (2003)

Ontem voltei a pôr Live at The Garden, dos Pearl Jam, no meu leitor de DVDs. É o registo de um excelente concerto que sempre que posso revejo. Para além dos inevitáveis êxitos, o DVD duplo tem ainda surpresas como a presença de Ben Harper (que constitui um grande momento) e alguns extras simpáticos.

Lembrei-me entretanto da versão de Eddie Vedder para You've Got to Hide Your Love Away, presente na deliciosa banda sonora de Iam Sam. E não pude deixar de rever o filme, que de resto me leva sempre às lagrimas, e que ainda repousava, selado, na estante da sala.

Iam Sam tem mais que ver com música do que à partida se possa pensar. Sam, personagem brilhantemente interpretada por Sean Penn, é um fã incondicional dos Beatles, e exemplo de como a música pode ser central na vida de uma pessoa.

Este Gimme Some Truth não faz parte da banda sonora do filme, toda composta por temas re-arrranjados dos Beatles, mas é a minha proposta para hoje por uma feliz coincidência. Eu conhecia o tema de Live At The Garden, mas nunca imaginei tratar-se de um original de John Lennon. O tema que constitui um dos mais belos momentos deste concerto dos Pearl Jam faz parte de Imagine, álbum de 1971 do qual saiu o single que se tornou hino com o mesmo nome.

Por tudo isto, por Lennon, que teve uma das mais incompreensíveis mortes da história da música, pela excelente interpretação dos Pearl Jam e, sobretudo, pela mensagem que passa, Gimme Some Truth é a música do dia.

Ontem por Lennon, hoje por Vedder, Gimme Some Truth.

Porque.... We can handle the truth!
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"I'm sick and tired of hearing things
From uptight, short-sighted, narrow-minded hypocritics
All I want is the truth
Just gimme some truth
I've had enough of reading things
By neurotic, psychotic, pig-headed politicians
All I want is the truth
Just gimme some truth"

sexta-feira, 11 de julho de 2008

JP Simões - 1970 (Retrato) (2007)

Não se tem falado noutra coisa, e com razão.
Finalmente a televisão portuguesa em sinal aberto vai ter um programa de divulgação musical.
Chama-se KM0, é uma produção da BUS para a RTP2, e vai ser apresentado pelo músico JP Simões.

Ingredientes de luxo que deixam adivinhar uma produção de qualidade. Durante vários meses, JP e a equipa de produção percorreram o país à procura de bandas de garagem e talentos escondidos. O ponto de partida foi a plataforma MySpace, espaço que permite às pequenas e grandes bandas divulgar o seu trabalho.

Para celebrar, hoje proponho 1970 (Retrato) primeiro single para o primeiro álbum a solo de JP Simões. Se eu já admirava o trabalho deste músico, de projectos como Pop Dell'Arte, Belle Chase Hotel ou o mais jazzy Quinteto Tati, este trabalho a solo veio consolidar aquilo que eu já suspeitava: JP Simões é um nome a reter.

Dos anos que passou no Brasil, trouxe influências notáveis da bossa nova para a sua música. 1970 (Retrato) tem muito dessas influências no ritmo, na composição, na letra.

Um tema sobre uma geração que é a sua, mas que o músico já não reconhece. Uma geração que se calou, casou, mudou, desapareceu, morreu. Acabou.

Um excelente exercício de lirismo. 1970 (Retrato), por JP Simões.

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"A minha geração é toda a minha solidão, é flor de ausência, sonho vão.
aparição, presságio, fogo de artifício, toda vício, toda boca
e pouca coisa na mão."

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para apontar na agenda....

KM0 estreia dia 26 deste mês, às 19:30h, na 2.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Queen - It's A Hard Life (1984)

Hoje acordei 2 minutos antes do despertador cumprir a sua função.
No rádio tocava este It's a Hard Life, dos Queen.

E realmente, àquela hora da manhã a vida é sempre dura. Acordar para trabalhar, ainda por cima com aquele céu cinzentão.

Apesar de este tema pertencer ao álbum The Works, de 1984, a vida dura de que fala Freddie Mercury nada tem a ver com acordar cedo para trabalhar. It's A Hard Life versa sobre um amor não correspondido e como é tramado manter uma relação.

Pouco importa. A vida é dura por muitíssimas outras razões e uma delas é sem dúvida acordar cedo para trabalhar no que não se gosta.

Quanto aos Queen, tudo já foi dito. Um dos líderes mais carismáticos do mundo da música, temas imortais reconhecidos em todo o mundo, muitos deles tornados hinos. Uma mistura de estilos, um estilo inconfundível.

It's a Hard Life é também uma lição de amor. Como tudo o que é feito com amor vale a pena.

Por hoje é tudo.

It's a Hard Life, Queen.

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"It's a long hard fight
But I'll always live for tomorrow
I'll look back on myself and say I did it for love
Yes I did it for love - for love - oh I did it for love"

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Iron Maiden - The Number Of The Beast (1982)

Sobe hoje ao palco do Super Bock Super Rock, a lenda viva do heavy-metal mundial.

É de fazer uma vénia, senhoras e senhores, Iron Maiden.



Este é um dos grandes acontecimentos do ano, do cada vez mais apetitoso menu de festivais de verão. Como se não bastasse, a vinda dos britânicos vai ser ainda mais memorável, já que - ouvi esta manhã na rádio - a banda vai usar pela última vez o palco da tournée de Powerslave, com motivos egípcios.



Para me redimir pelo facto de não poder estar presente, aqui fica esta recordação, The Number Of The Beast, os grandes, grandes Iron Maiden.



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"Let him who hath understanding
reckon the number of the beast
for it is a human number
its number is six hundred and sixty six."

segunda-feira, 7 de julho de 2008

The Offspring - Kick Him When He's Down (1992)

Não deve haver muitos casos destes na história da música. Kick Him When He's Down foi single para Ignition, três anos depois de este ter saído para o mercado.

Tenho andado a revisitar os primeiros anos de carreira dos Offspring, quando a banda de Dexter Holland era verdadeiramente punk. Nota-se, à medida que os anos passam, que a música vai ficando mais melódica, menos agressiva, a explorar mais recantos do rock.

Gosto deste Kick Him When He's Down sobretudo pela linha de guitarra, completamente viciante, e pela bateria, muito competente. Não é dos temas mais punk da discografia dos Offspring, mas não admira que, mesmo tanto tempo depois, tenha sido o único single de um disco esquecido.

Para conferir, Kick Him When He's Down, os Offspring.

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"Awake in a dream, get up and go to work
But I'm feeling like such a jerk
Like I said before
Little men come when everything goes"

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Louis Armstrong & Ella Fitzgerald- Basin Street Blues

Tem feito parte do meu trabalho, neste últimos dias, telefonar para aqui e para ali. Telefonemas daqueles em que nos põem invariavelmente em espera. Eternidades. Às vezes a chamada cai, outras vezes somos nós que desistimos.

Nos entretantos, ouvem-se conversas indesejadas, ruído, silêncio, e ocasionalmente música.
Num destes telefonemas ouvi Basin Street Blues, a canção que Louis Armstrong gravou em 1929 e que eu adoro ouvir em dueto com Ella Fitzgerald.

Um belo momento que me fez pensar como seriam bem mais agradáveis todos os escritórios de todas as empresas por este mundo fora, se se ouvisse jazz como música ambiente. Também se podiam ouvir outras coisas. Ter música durante o horário de trabalho parece-me sempre positivo. Positivo mas nem sempre concretizável. Não na empresa onde trabalho.

Este clássico do jazz é uma homenagem à rua de New Orleans, no Louisiana. Um local mítico para este género musical. Quanto a mim, este blues é também um hino à amizade, ao reencontro.
Afinal, Basin Street is the street where the best folks always meet.

Duas grandes vozes, Ella e Armstrong em dueto é a minha proposta para hoje. No final ainda temos direito a um scat, pelo mestre do improviso.

Basin Street Blues, Louis Armstrong com Ella Fitzgerald. Divino.

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"Won't you come along with me
to the Mississippi
we'll take a boat to the land of dreams
Steam down the river, down to New Orleans"

terça-feira, 1 de julho de 2008

Couple Coffee - Menino D'Oiro (2007)

Num dia qualquer de Maio ou Junho do ano passado, tive o prazer de partilhar um café com um simpático casal. Ele mais tímido, pouco falava, ela mais conversadora, transbordante de cor na saia e nas palavras.

Enquanto ele preparava o baixo (não traziam mais nada), ela pediu-me um café, falou-me dos filhos, das obras que tinham em casa, daquele cheiro a tinta e da bagunça. Depois falámos de música, de rádio e de Zeca Afonso. Nunca um sotaque tão brasileiro tinha em si tanta portugalidade. Contou-me que nunca chegara a conhecer José Afonso, mas era como se o conhecesse, por intermédio das histórias que contava um familiar seu amigo, talvez o avô, já não me lembro com precisão.

Norton Daiello continuava a afinar as cordas. Luanda Cozetti explicava-me o porquê de gravar Co'as Tamanquinhas do Zeca, um discos de versões do músico português.

Apaixonei-me de imediato pela música dos Couple Coffee, esta dupla fascinante de brasileiros a viver em Portugal.

Você já ouviu o Puro? Perguntava-me Luanda. Não, não tinha ouvido. Mas que bom título para um álbum de estreia!

Seguramente dois dos músicos mais marcantes que passaram pela rádio onde trabalhava na altura. O resultado só podia ser uma conversa muito agradável e os momentos musicais, ao vivo, voz e baixo apenas, mágicos.

Este ano os Couple Coffee regressam aos registos, com a banda alargada que os acompanha, em Young and Lovely, álbum de tributo à bossa nova.

Uma sonoridade incrível, de todos os recantos do jazz, uma intensa experiência musical.

Fica aqui a sugestão, Menino D'Oiro, de Zeca Afonso, pela mãos dos Couple Coffee.

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"Venham altas montanhas, ventos do mar
Que o meu menino, nasceu p'ra amar."

segunda-feira, 30 de junho de 2008

David Bowie - Rebel Rebel (1974)

Ontem a minha tarde encheu-se de glam-rock. Descobri Best Of Bowie, o DVD, a um preço convidativo, uma óptima oportunidade para vaguear pela carreira singular de um dos grandes ícones da música mundial.

Organizado cronologicamente, o DVD mostra as diferentes facetas de David Bowie, os seus alter-egos e estilos. Apesar de não ser um objecto de culto (o DVD mostra apenas vídeos e, aqui e ali, uma ou outra aparição em programas de televisão), Best Of Bowie é um bom documento para conhecer esta figura tão bizarra quanto incontornável.

O mais interessante destas quase cinco horas de música e imagem, é ver a evolução ao longo do tempo. E se David Bowie marcou a história da música, prinicpalmente a partir da década de 70, é curioso como, anos e anos depois, a sua música, a actual, soe ainda tão inovadora, agora mais no campo da electrónica.

Rebel Rebel, a minha proposta para hoje, marca o fim da era glam (a minha preferida) e a entrada definitiva de Bowie na história da música. Single para Diamond Dogs, Rebel Rebel apresenta um dos riffs mais orelhudos de todos os tempos, rivalizando com Satisfaction, dos Stones.

O fato justo, vermelho, e a pala no olho compõem a figura do ícone.

Rebel Rebel, David Bowie.

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"And I love your dress
You're a juvenile success
Because your face is a mess
So how could they know?
I said, how could they know? "

terça-feira, 24 de junho de 2008

Ella Fitzgerald - (I Love You) For Sentimental Reasons (1947)

Já andava para falar em (I Love You) For Sentimental Reasons há algum tempo. Hoje proponho aqui a versão de Ella Fitzgerald, que tenho muito bem embalada no volume dedicado à "First Lady Of Song" da colecção BD Jazz.

Este conjunto de mini-livros de BD com CDs, lançado pela editora francesa Nocturne, é uma boa forma de apresentar os grandes nomes do jazz, através de uma pequena biografia em banda-desenhada e de dois discos com gravações mais ou menos reconhecidas. Infelizmente, já não apanhei quase nada da colecção, que a FNAC foi recuperando de tempos a tempos, mas sempre incompleta. Fiquei com os volumes de Ray Charles e Ella Fitzgerald.

O de Fitzgerald é o que roda mais no meu rádio. O CD1 com temas mais scat, mais enérgicos, com algumas parcerias. O CD2 é o meu disco de eleição para ouvir quando o sol já se pôs, em noites de insónia ou quando a rádio teima em passar, ao sábado à noite, música de discoteca de trazer por casa. É lá que se escondem os temas mais clássicos, as baladas acompanhadas de big band, como este (I Love You) For Sentimental Reasons.

Este tema da tradição jazz, popularizado por Nat King Cole, é uma canção simples, serena, que sabe muito bem ouvir pela noite fora, até que a manhã entre pela janela. Na versão de Ella, o coro masculino no final abre caminho à sua improvisação única: I really love you, really, I do.

Para ouvir, e sonhar, (I Love You) For Sentimental Reasons, na voz de Ella Fitzgerald.

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"I think of you every morning
Dream of you every night
Darling, I'm never lonely
Whenever you are in sight"

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Clã - Eu Ninguém (2005)

"Eu ninguém comigo só
posso ser
travesti de quem quiser
Manequim de bazar,
ou rainha do lar
Madame Butterfly
Barbie, Suzie, dolly, Polly Pocket"


Manuela Azevedo poderia ter sido advogada. Conhecida apenas por aqueles que contratariam os seus serviços jurídicos. Com escritório num qualquer prédio podre das grandes cidades, nas caves, nas ruas estreitas de calçada. Ou poderia ter sido outra coisa qualquer. Para o nosso bem, Manuela Azevedo deixou-se de advocacias e entregou-se à música nos Clã.

Esta sexta-feira encontrei uma verdadeira pechincha nas lojas Valentim de Carvalho. Entre outros títulos, pude levar para casa Gordo Segredo, o concerto de apresentação de Rosa Carne no Olga Cadaval, por dois euros e noventa e nove. Como me dizia alguém, até custa dar tão pouco por um trabalho tão bem conseguido como este. Talvez nunca, como hoje, se veja arte tão acessível.

Este Gordo Segredo, para além de ser o melhor disco da carreira dos Clã ao vivo, é uma peça especialmente interessante pela maneira como foi filmada. Realizado por Pedro Cruz, não vemos neste DVD, um típico concerto. A escolha das luzes, dos planos, a opção pelo preto e branco quase até ao final, mostra uma outra noite no Olga Cadaval. Uma noite de pormenores que passaram despercebidos àqueles que por lá estiveram efectivamente.

E depois temos o carisma transbordante de Manuela Azevedo. E é de cabelo curto, de cara limpa, que apresenta o mais feminino e sensual álbum da carreira dos Clã. Soberba. A energia, a expressividade com que desfia canções dramáticas, fortes, por vezes dolorosas e outras, alegres, contagiantes no ritmo.

Em Gordo Segredo os convidados são também parte essencial. Arnaldo Antunes, o músico brasileiro responsável por algumas das letras de Rosa Carne, junta a sua voz à de Manuela Azevedo nalguns dos temas. Também ele com uma presença muito carismática e peculiar em palco. Mas o convidado mistério da noite era Paulo Furtado, a.k.a The Legendary Tiger Man, que faz a sua aparição em Topo de Gama, envolto em fumo. Um dos momentos mais alucinantes da noite. Sem dúvida, a escolha acertada.

O DVD tem alguns mimos interessantes, como o documentário Aqui Ninguém Nos Ouve e a opção de concerto comentado.

De uma noite cheia de boas canções, escolhi este Eu Ninguém, com letra de Arnaldo Antunes.
A razão? Sei lá, sei lá.

Os Clã, Eu Ninguém.

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"Tudo bem
Mas eu posso ser também
Emanuelle
Lady, miss, mademoiselle,
Num harém, meretriz
Ou apenas actriz
O espelho me diz
Gueixa, Vénus, Eva, dama, virgem, mãe"

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Skunk Anansie - Good Things Don't Always Come To You (1999)

Parece que regressei, talvez pela primeira vez em anos, aos tempos da minha adolescência.
Voltei a ouvir Americana, o álbum dos Offspring que marcou a minha entrada nesse mundo complexo. Nessa altura os discos marcavam definitivamente uma pessoa. Parece que agora a nossa "condição adulta" teima em intelectualizar demasiado a música que ouvimos. Isto soa àquilo, esta composição é assim, esta linha de guitarra ou baixo é assado... As bandas-sonoras das vidas compõem-se na adolescência, está visto. A partir daí, a música ganha toda uma outra dimensão.

Nesta maré de regressos ao passado, descobri, já muito gasto e com a caixa meia partida, Post Orgasmic Chill, o último álbum de uma das grandes bandas da minha adolescência. Os Skunk Anansie foram para mim uma das descobertas mais importantes à época, um som completamente novo, ousado, transgressor. Mas foram também um dos meus maiores desgostos musicais. Quando o meu quarto de adolescente (que continua intacto desde essa altura) começou a encher-se de posters devotos à banda de Skin, eis que os Skunk Anansie decidem separar-se.
O álbum de Lately e Secretly tinha sido o derradeiro.

Post Orgasmic Chill enchia-me as medidas. Era um rock muito criativo e denso. Tanto era politicamente interventivo (On My Hotel TV; We Don't Need Who You Think You Are) como sentimental (I'm Not Afraid, Secretly, Tracy's Flaw). Depois tínhamos ritmos alucinantes de tão rápidos (And This Is Nothing That I Thought I Had), mais pop (Lately) ou mais contidos, como este Good Things Don't Always Come To You. E a voz de Skin... uma das melhores de sempre. Versátil, poderosa, única.

Escolhi este tema, de entre todos, porque era, precisamente, o tema que menos me agradou ao início. Muito melancólico, de sentimentos contidos. Com o tempo, Good Things... revelou-se e entranhou-se, como diria o poeta. É um tema que se mostra denso no final, com boas guitarras e vocalizações. Grande performance de Skin.

Deborah Dyer, de seu nome, continuou a solo, dois anos depois da separação, num registo francamente mais pop. Pop de qualidade, é certo, no entanto, Skin pertencia aos Skunk Anansie e lá é que pôde dar azo a todas as suas qualidades.

Para recordar, Good Things Don't Always Come To You, os Skunk Anansie.

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"Some things, don't go as you want them to,
good things, they don't always come to you."