segunda-feira, 23 de junho de 2008

Clã - Eu Ninguém (2005)

"Eu ninguém comigo só
posso ser
travesti de quem quiser
Manequim de bazar,
ou rainha do lar
Madame Butterfly
Barbie, Suzie, dolly, Polly Pocket"


Manuela Azevedo poderia ter sido advogada. Conhecida apenas por aqueles que contratariam os seus serviços jurídicos. Com escritório num qualquer prédio podre das grandes cidades, nas caves, nas ruas estreitas de calçada. Ou poderia ter sido outra coisa qualquer. Para o nosso bem, Manuela Azevedo deixou-se de advocacias e entregou-se à música nos Clã.

Esta sexta-feira encontrei uma verdadeira pechincha nas lojas Valentim de Carvalho. Entre outros títulos, pude levar para casa Gordo Segredo, o concerto de apresentação de Rosa Carne no Olga Cadaval, por dois euros e noventa e nove. Como me dizia alguém, até custa dar tão pouco por um trabalho tão bem conseguido como este. Talvez nunca, como hoje, se veja arte tão acessível.

Este Gordo Segredo, para além de ser o melhor disco da carreira dos Clã ao vivo, é uma peça especialmente interessante pela maneira como foi filmada. Realizado por Pedro Cruz, não vemos neste DVD, um típico concerto. A escolha das luzes, dos planos, a opção pelo preto e branco quase até ao final, mostra uma outra noite no Olga Cadaval. Uma noite de pormenores que passaram despercebidos àqueles que por lá estiveram efectivamente.

E depois temos o carisma transbordante de Manuela Azevedo. E é de cabelo curto, de cara limpa, que apresenta o mais feminino e sensual álbum da carreira dos Clã. Soberba. A energia, a expressividade com que desfia canções dramáticas, fortes, por vezes dolorosas e outras, alegres, contagiantes no ritmo.

Em Gordo Segredo os convidados são também parte essencial. Arnaldo Antunes, o músico brasileiro responsável por algumas das letras de Rosa Carne, junta a sua voz à de Manuela Azevedo nalguns dos temas. Também ele com uma presença muito carismática e peculiar em palco. Mas o convidado mistério da noite era Paulo Furtado, a.k.a The Legendary Tiger Man, que faz a sua aparição em Topo de Gama, envolto em fumo. Um dos momentos mais alucinantes da noite. Sem dúvida, a escolha acertada.

O DVD tem alguns mimos interessantes, como o documentário Aqui Ninguém Nos Ouve e a opção de concerto comentado.

De uma noite cheia de boas canções, escolhi este Eu Ninguém, com letra de Arnaldo Antunes.
A razão? Sei lá, sei lá.

Os Clã, Eu Ninguém.

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"Tudo bem
Mas eu posso ser também
Emanuelle
Lady, miss, mademoiselle,
Num harém, meretriz
Ou apenas actriz
O espelho me diz
Gueixa, Vénus, Eva, dama, virgem, mãe"

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