sexta-feira, 30 de maio de 2008

Madonna - 4 Minutes (2008)

Senhoras e senhores, curei-me de um otoverme, contraí outro.

Trata-se de 4 Minutes, o single de apresentação para Hard Candy, de Madonna. Não sou grande fã desta senhora, embora Madonna seja talvez a artista pop mais bem sucedida de sempre. E com mérito. À custa da sua faceta quase camaleónica, tem somado sucessos atrás de sucessos, desde os idos de 80. Muda de estilo como quem muda de toilet. Já a vimos nos mais variados registos, mais pop, mais rock, mais instrospectiva, mais sensual, mais dance.

Ainda não ouvi o álbum todo, nem está na minha lista das prioridades musicais, mas parece-me que agora, com a ajuda de Timbaland, Madonna assumiu a sua faceta mais hip-hop.
Para além do produtor mais badalado do momento, este 4 Minutes conta ainda com a participação de Justin Timberlake. E acho que é a conjugação deste trio que torna o single um otoverme dos mais resistentes que pululam por estes dias as rádios.

Há aquele ritmo típico de Timbaland, e o diálogo entre Madonna e Timberlake a entranhar-se no ouvido. O que, mais uma vez, nem é bom nem é mau. É assim-assim.

Devo dizer que, para mim, esta é a face menos interessante de Madonna. Mas isso é a minha opinião de não-fã.

Os fãs, esses, devem estar radiantes. A Sticky & Sweet Tour vai incluir Portugal. Os bilhetes começam a ser vendidos amanhã.

4 Minutes, Madonna com Justin Timberlake.

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"If you want it
You already got it,
If you thought it
It better be what you want"

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Guns N' Roses - Patience (1988)

Decididamente ando com bastante vontade de regressar ao hard rock nos últimos tempos.
Guns N' Roses, Whitesnake, Van Halen... Apetece-me ir de novo às origens do rock.

Por isso é que hoje proponho aqui Patience, uma balada puramente rock, da banda de Axl Rose. Uma das minhas preferidas de sempre. Do álbum GN'R Lies, bastante polémico à época, sai esta canção de amor em forma de lição de vida.

A provar que os tipos durões também sabem escrever coisas bonitas quando querem, sem destruir o espírito rock, aqui fica um doce assobio.

Ao bom estilo old school, Patience, os Guns N' Roses.

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"Sometimes I get so tense
But I can't speed up the time
But you know, love
There's one more thing to consider

Said,Woman, take it slow
And things will be just fine
You and I'll just use a little patience

Said, sugar, take the time
'Cause the lights are shining bright
You and I've got what it takes to make it,
We won't fake it,
I'll never break it
'Cause I can't take it..."

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Moonspell - Vampiria (1995)

Ainda não tive a oportunidade de ouvir com atenção Night Eternal, o novíssimo álbum dos portugueses Moonspell. Tenho lido as críticas que, valendo o que valem, não são assim tão positivas quanto isso.

Também, depois de The Antidote, que teve até uma colaboração especial de José Luís Peixoto - esse metaleiro da literatura - a fasquia estava bem lá em cima.

Hoje proponho Vampiria, do primeiro álbum da banda, Wolfheart. Não é dos meus temas preferidos dos Moonspell - talvez seja demasiado gótico para os meus gostos - mas há nele uma linha de guitarra que não me sai da cabeça. Vampiria é aquilo que Miguel Esteves Cardoso chamaria de otoverme. O que não é bom nem é mau. É assim-assim.

Para além das guitarras, está lá o pleno exercício da voz cava de Fernando Ribeiro e uma cadência muito interessante de bateria.
A letra é como sempre de um inequívoco teor literário, ou não fosse o compositor um homem das letras e da Filosofia.

(Ah, a despropósito, Fernando Ribeiro cresceu na Brandoa, sítio onde agora assentei arraiais.)

Bem, e como o único remédio para os otovermes é, segundo MEC, ouvir o tema em questão uma e outra vez, até dela não restarem vestígios, já sei o que me espera mais logo a caminho de casa.

Vampiria, Moonspell, mais uma vez.

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"Vampiria, fly Vampiria
In your eye burn, defying
All those who in silence sleep
In a city once named desire"

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Amália Rodrigues - O Senhor Extraterrestre (1981)

"Vou contar-vos uma história

que não me sai da memória

foi p'ra mim uma vitória

nesta era espacial.

Noutro dia estremeci

quando abri a porta e vi

um grandessíssimo ovni

pousado no meu quintal."


A minha visita de sábado a esse templo de coisas usadas que é a Cashland rendeu-me, nada mais nada menos, que a grande pérola da discografia de Amália: um 45 rotações de O Senhor Extraterrestre.

Achados destes não acontecem todos os dias. Nos cestos de discos de vinil usados amontoam-se muitas coisas sem qualquer interesse: os típicos discos de conjuntos da música popular portuguesa, muita música romântica francesa e brasileira, best of radiofónicos, ente outros. Mas há dias em que a sorte está connosco. As dores nos joelhos, de vasculhar os cestos no chão, já me valeram coisas bem interessantes: Breakfast in America, dos Supertramp, a poucos cêntimos, capa muito velhinha, mas o vinil, em muitíssimo bom estado, ainda rodou muitas vezes no gira-discos dos meus pais; um 45 rotações dos Bon Jovi, que fez as delícias do meu irmão mais novo; um álbum duplo dos Simple Minds ao vivo, mais carote; dois discos dos Kajagoogoo; um dos Police, The Century, Rod Stewart e, meus senhores, a pérola das pérolas, este O Senhor Extraterrestre de que hoje vos falo. Com este 45 rotações de Amália, rivaliza O Feitiço de Ney Matogrosso, a melhor capa que já vi até hoje.

Agarrei-me logo à capa colorida d' O Senhor Extraterrestre porque, desde que tive conhecimento desta bizarra composição no Há Vida em Markl, nunca pensei que fosse possível encontrá-lo assim, num cesto da Cashland entre Roberto Leal e Art Sulivan. Aliás, O Senhor Extraterrestre podia bem ser um mito. Nunca ter existido.

Mas existe. Uma grande rodela de vinil amarelo-transparente. Agora orgulhosamente em exposição na minha sala. Quero agradecer publicamente à antiga proprietária pelo facto de O Senhor Extraterrestre ter pousado agora o seu ovní na minha alegre casinha. Dona Adelaide, os meus obrigados.



Passo a explicar o porquê de tanta euforia em torno desta composição de Carlos Paião para Amália Rodrigues. O Senhor Extraterrestre é, nada mais nada menos, a prova de que o fado não tem que ser uma canção necessariamente triste. Nem sequer séria. Já sabíamos que há certo fado mais alegre, gozão, até. Mas ouvir a grande Amália contar a história do seu encontro com um tipo verde é qualquer coisa.

Lia ontem um crítico da Time Out dizer, a propósito do novo álbum dos Moonspell, que o que falta ao metal em geral, e à banda portuguesa em particular, é a capacidade de fazer humor. Dizia ele que Fernando Ribeiro deveria cantar mais temas como Abram Alas Para o Noddy.
Não discordo.
A música é um meio de expressão, e ninguém está sempre feliz ou sempre deprimido. Os bons álbuns e os bons músicos são capazes de mostrar esses altos e baixos da vida com coerência.

E se me perguntarem se é coerente os Moonspell cantarem o tema do Noddy e Alma Mater, direi que sim. E se me perguntarem se é coerente Amália cantar Povo que Lavas no Rio e O Senhor Extraterrestre, direi que sim. Porque a vida é mesmo assim.

E na vida surpreendentes encontros acontecem.
Como este, entre Amália Rodrigues e O Senhor Extraterrestre.

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"Já está de chaves na mão?


Vai voltar p'ro avião?


Espere, já ali estão


umas sandes p'ra viagem


E o Senhor Extraterrestre


Viu-se um pouco atrapalhado


quis falar mais disse pi


estava mal sintonizado


mexeu lá no botãozinho


só p'ra dizer: Deus lhe pague.


Eu dei-lhe um copo de vinho


e lá foi no seu caminho


que era um pouco em ziguezague."

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Ugly Kid Joe - Panhandlin' Prince (1992)

Is this some sort of hip music that I don't understand?!
Na abertura de Everyting About You, o grande single que catapultou os Ugly Kid Joe, a banda introduz-nos no seu mundo do humor satírico e do hard rock. Aquelas primeiras palavras fazem-nos visualizar o próprio do puto feio, Joe.
Durante muito tempo, sempre que a voz suja de Whitfield Crane soava no meu rádio - no tempo do saudoso City Rock da ainda Rádio Cidade - naquele último grito de ódio entre aspas, o volume subia imperioso. Parava tudo, ouvia aquilo, arrepiava-me e voltava ao que estava a fazer, sentada à escrivaninha, a maior parte das vezes.
Neste últimos dias voltei aos Ugly Kid, nem sei bem porquê, apeteciam-me sons mais metal, hard, sem serem depressivos. Nada melhor que o humor destes californianos. E dei por mim a ficar viciada noutros temas, um deles este Panhandlin' Prince que vos proponho.
É a história de um tipo que sofre de todos aqueles males urbanos que todos conhecemos. Mas está-se nas tintas. Fuma o seu cigarro e isso é que importa.
Musicalmente, estão lá as guitarras densas, um ritmo de bater o pé, e, é claro, a voz suja.
Não sendo uma banda histórica, os Ugly Kid Joe, que se separaram há mais de 10 anos, são bons companheiros de viagem. Bem dispostos e competentes.
No próximo autocarro que apanhar, experimente Panhandlin' Prince, dos Ugly Kid Joe.
Are you the guys on the beach who hate everything?! uurghhh...
São eles mesmo, em pessoa.
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"As I start drinkin' and I start thinkin'
That death is on my side
If my heart stopped beatin', the street kept reekin'
Thats suicide... thats right!"

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Xutos & Pontapés - O Que Foi Não Volta a Ser (1992)

Assistir a concertos já não é o que era. Digo-o com a tristeza de quem gosta de música e esteve na noite de sábado na Semana Académica do Algarve para ver os Xutos & Pontapés. Mas não vou falar aqui de Tim, Kalú, Gui, Cabeleira e Zé Pedro. Esses cumpriram o seu papel com a competência que lhes conhecemos.
Vou falar do público que lá estava. Uma horda de miúdos embriagados e drogados, pouco interessados em música - nada mesmo -, saltavam, empurravam-se, gritavam. Dos Xutos poucos ou nada sabiam ou queriam saber. Estavam ali para beber e fumar ganzas. Ter ou não ter palco e bandas para o pisar, era indiferente para a grande maioria que enchia o recinto.

Quand vi os Xutos pela primeira vez, quem lá estava estava pela música. Também se bebia e fumava. E muito. Também haviam empurrões e saltos, cerveja derramada e queimaduras de pontas de cigarro. Mas todos respeitavam aqueles que subiam ao palco. Respondiam positivamente, estavam em sintonia com o que ali se passava. Partilhavam a experiência da música.
No sábado, houve tudo menos partilha. Nunca vi um público tão alheado, mais preocupado com a rodinha de mosh que se formava a partir da terceira fila.
E depois haviam tipos como o de t-shirt amarela, mesmo por trás de mim que se divertia a vaiar e a chamar nomes à Instituição do rock nacional. Não gosta, não vai. E se vai, respeita.
Os pouco que ali estavam para, de facto, celebrar a música, tiveram que se sujeitar e levar com toda aquela imbecilidade.

O público é parte integrante de um espectáculo. Ou deveria ser. No Sábado, os Xutos sentiram que ali não havia público. E por isso tocaram o alinhamento de enfiada. Nem se pode dizer que houve encore.

Os Xutos não mereceram aquilo. Os amantes de música ao vivo, fãs ou não, não mereceram aquilo.

Mas a comunhão na música é apenas uma das coisas que foram e não vão voltar a ser. Pelo menos não da mesma maneira.


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"O que foi não volta a ser
mesmo que muito se queira,
e querer muito é poder...
O que foi não volta a ser."

quinta-feira, 15 de maio de 2008

The Offspring - Hammerhead (2008)

Esqueceu-se de tomar esta dose musical?
Tome-a assim que se lembre, mesmo que isso signifique tomar duas ao mesmo tempo.
Porque uma música por dia, ou duas, nem sabe o que que lhe fazia!

Os Offspring estão de regresso ao seu melhor estilo punk. Hammerhead, o primeiro avanço para o novíssimo Rise and Fall, Rage and Grace, recupera a sonoridade de outros tempos. Nada tem a ver com o primeiro single de Conspiracy Of One, o último álbum de originais. É um tema, posso dizê-lo, à séria.

Hammerhead começa com um interessante solo de guitarra, seguido da entrada da bateria, para depois continuar num registo poderoso e acelerado. A linha de baixo parece ter sido importada directamente de outros temas da banda, mas isso é um mal menor. Hammerhead protagoniza um regresso em grande.

A letra é um cenário de guerra. Ou não fossem os Offpring americanos. Não vou dizer que isto é música pós-11 de Setembro. Mas duvido que uma composição destas seja alheia ao que acontece desde então no Iraque. A música é um sinal dos tempos.

O single, penso, ainda está disponível no site oficial da banda para download legal gratuito. Passe por lá e tire as suas próprias conclusões.

Agora venha daí o albúm, pela nossa saúde!

O regresso dos Offspring previsto para Junho, aqui com o primeiro avanço, Hammerhead.

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"Smoke and dust
Enemies are crushed
Nothing left
Where a man once stood"

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Jorge Palma - Deixa-me Rir (1985)

Hesitei muito em escrever aqui sobre a noite de Domingo. Estava em casa, a escrever, música em modo aleatório e a tv de quatro canais apenas a servir de companhia. Tive a (in)felicidade de parar o meu curto zapping na SIC. Estavam a transmitir a cerimónia dos Globos de Ouro.
E parei, sentei-me no sofá, porque estavam a anunciar os vencedores na categoria de Música.

Ao título de melhor intérprete individual concorriam David Fonseca, Ana Moura, José Cid e Jorge Palma. Dividi-me entre Fonseca e Palma. Rapidamente me decidi pelo ex-Silence 4, apesar de Jorge Palma ser dos meus músicos preferidos de sempre, porque em 2007 David Fonseca se destacou mais com Dreams in Color.

Ganhou Jorge Palma. Não fiquei desiludida, o cantor/compositor merece. Mas Palma estava literalmente do outro lado da noite. A tv não lhe fica bem, o globo dourado não lhe fica bem. Jorge Palma é um homem das ruas, das esplanadas de Paris, das grandes e pequenas salas. Não é um homem de galardões e medalhas. Ainda que os mereça.

Ao palco da SIC e da Caras, subiu um tipo alcoolizado, como sempre. Herman José elevou a situação ao ridículo. Não fosse ele, e embora embriagado, Palma não teria caído ao chão.
Ao piano, todos achamos graça à dificuldade que Jorge Palma tem em dizer frases com início, meio e fim. E ao cabelo, agora esbranquiçado, sempre desgrenhado. Palma é assim. Não é um tipo sóbrio. Nunca foi, nunca será. Mas vê-lo assim, naquele mundo que não é o dele, custa.

Palma é um génio da composição em português. E como tal não precisa de noites de gala, nem de objectos dourados, nem de orquestra.

Pois é, pois é.

Escolhi para hoje Deixa-me Rir, do Lado Errado da Noite, álbum de 1985. Hesitei entre este tema e Frágil e O meu Amor Existe e tantos tantos outros.

Porque Jorge Palma é o homem dos discos e não o dos Globos de Ouro, Deixa-me Rir.

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"Pois é, pois é
Há quem viva escondido a vida inteira
Domingo sabe de cor
O que vai dizer Segunda-Feira"

terça-feira, 13 de maio de 2008

Buena Vista Social Club - Amor Verdadero

Em 2005 morria Ibrahim Ferrer e só aí conheci o Buena Vista Social Club. Um mundo tão vasto como é o da música tem sempre cantos recônditos e os ritmos cubanos, para mim, eram um desses sítios.

Amor Verdadero conquistou-me principalmente pela voz de Ferrer. Voz suja, como gosto de lhe chamar. A forma como esta história trágica é contada também me despertou interesse. É como uma conversa de amigos. Uma traição levou o homem ao álcool e à droga, depois à prisão. Só um amor, de entre todos ficou.

Mas os melhores momentos da longa faixa são sem dúvida os solos, mais ou menos a meio da composição. Y Al piano, Don Rúben González. E lá começam as virtuosas teclas do grande músico do Buena Vista Social Club. Logo a seguir Oiga Compay, mira quien viene por allí, Compay barbarito Torres... Special. Como se de facto um amigo que não se vê há muito tempo entrasse pelo bar adentro.

E mesmo para quem como eu não tem particular afeição à musicalidade latina, digo-vos, Amor Verdadero é contagiante.

Ibrahim Ferrer, Compay Segundo, Rúben González e outros, o Buena Vista Social Club com Amor Verdadero.

Caramba!

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"Amigo pida otra copa, caramba
Que este cantor le convida,
Que aunque a ustedes no le importa,
Voy a hacerles la historia de mi vida

Amé mucho a una mujer,
De mi alma la más querida,
Me traicionó la perdida, caramba,
Que ingrato y mal proceder

Ella me hizo beber,
Ella me hizo un perdido,
A la droga me tiré, amigo mío,
Y a la cárcel fui llevado"

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Louis Armstrong - When It's Sleepy Time Down South (1942)

Quando chegar a casa, cansado do trabalho que se prolongou mais do que o que seria natural, desligue as luzes, telvisão e computador, deixe-se estar à luz de uma vela ou da lua que entra pela janela e ligue o rádio. Ouça When It's Sleepy Time Down South, Louis Armstrong.

É que Satchmo, como era também conhecido, sabia bem como cantar os este wonderfull world, em várias canções.

E porque todos temos os nossos lugares, onde a noite cai suavemente e sem fanatsmas, When it's Sleepy Time Down South, Louis Armstrong.

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"Pale moon shining on the fields below
Folks are crooning songs soft and low
Needn't tell me so because I know
It's sleepy time down south

Soft winds blowing through the pinewood trees
Folks down there like a life of ease
When old mammy falls upon her knees
It's sleepy time down south

Steamboats on the river a coming or a going
Splashing the night away
Hear those banjos ringing, the people are singing
They dance 'till the break of day, hey

Dear old southland with his dreamy songs
Takes me back there where I belong
How I'd love to be in my mammy's arms

When it's sleepy time way down south"

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Ornatos Violeta - Letra S (1997)

Os Ornatos Violeta foram das melhores coisas que se fizeram no seio do rock alternativo português. Uma originalidade inesgotável, a de Manel Cruz. E isso nota-se mesmo nos projectos pós-Ornatos.

Não são só letras (fabulosas, do que melhor se faz em Portugal), são ambientes, são mundos. E pronúncia do Norte. Fusões de todos os estilos, criatividade ao melhor nível.

Em Letra S, do álbum de estreia Cão, Cruz faz dueto com outra grande voz do Norte, Manuela Azevedo.

Soberbo.

Letra S, os eternos Ornatos Violeta, aqui com Manuela Azevedo.

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"Sorrir
Não é pêra doce
Diz-me quem eu sou como se o não fosse

Matei o monstro da monogamia
e a minha vida parou na letra S"

terça-feira, 6 de maio de 2008

Xutos & Pontapés - Privacidade (2001)

Para uma fã dos Xutos & Pontapés como eu, vê-los em concerto pelo menos uma vez por ano é uma necessidade. Há uma altura do ano em que penso: tenho de ir vê-los. Seja onde for, quando for. E então vasculho as agendas de concertos até descobrir uma data e um local.

Muitos dizem que ao vivo os Xutos são sempre a mesma coisa. São e não são, digo eu. É claro que o que leva multidões aos concertos são os mesmos hinos, é a vontade de rever ideais e partilhá-los, uma vez mais. Mas há algo que torna cada actuação única. Não sei o que há, mas há. É como aqueles encontros anuais de amigos de longa data. É isso. A magia do reencontro. Relembram-se os velhos tempos e contam-se as novidades.

Privacidade, a minha proposta para hoje, está para a discografia dos Xutos como a notícia de um casamento ou gravidez está para os encontros de velhos amigos. Passamos de preocupações como o desemprego, a emigração, a CEE, para as preocupações modernas da super-vigilância.
É como se o amigo de infância, que só queria saber de copos, se preparasse agora para ser pai.

Este tema, do pouco consensual XIII, é um dos meus preferidos do álbum de 2001. É actual, é pertinente, é bem escrito e bem composto. É crítico. Deveria ter sido single.


E se 1984, o livro, tivesse banda-sonora, talvez pudesse ser esta.

Privacidade, os Xutos & Pontapés.

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"Quem vive, quem morre,
quem come e quem passam fome,
passa tudo pela minha mão,
Agradece ao Grande Irmão"

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Cool Hipnoise - Dantes (1999)

A falta de tempo tem sido o grande motivo desta minha ausência prolongada. Ando com trabalhos extra e o dia, esse, continua com as mesmas 24 horas.
Ainda não ouvi novamente Violet Hill, como tinha prometido. Mas vou ouvir.

A propósito do tempo, e da falta dele, lembro-me sempre dos Xutos & Pontapés. O tempo, é difícil controlar o tempo, faz tempo que não penso muito em mim, dizem eles em Queimando Tempo. E, como em tudo na música desta Instituição do rock português, é verdade.

Depois temos Dantes, do primeiríssimo álbum 78/82. Uma grande canção.
A versão que proponho hoje aqui pertence a XX Anos XX Bandas, de 1999, álbum comemorativo dos 20 anos de carreira dos Xutos & Pontapés. Nele, grandes nomes da música nacional revisitaram os temas a banda de Tim e companhia, muitos deles com roupagens verdadeiramente surpreendentes.
É o caso de Dantes, re-arranjado pelos Cool Hipnoise: o punk-rock característico da versão original deu lugar a uma doce bossa-nova, a voz seca de Tim, a uma voz doce e melodiosa.
E é esta contradição que faz de Dantes uma das faixas mais surpreendentes do álbum de tributo.

Falar do tempo, da falta de tempo, da passagem do tempo, da dolorosa passagem do tempo, com uma suavidade inacreditável.

6 estrelas.

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"Dantes, o tempo corria lento, meu
Dantes, matava-se o tempo, meu.
Mas tudo isso passou,
foi o tempo que me matou."