quarta-feira, 14 de maio de 2008

Jorge Palma - Deixa-me Rir (1985)

Hesitei muito em escrever aqui sobre a noite de Domingo. Estava em casa, a escrever, música em modo aleatório e a tv de quatro canais apenas a servir de companhia. Tive a (in)felicidade de parar o meu curto zapping na SIC. Estavam a transmitir a cerimónia dos Globos de Ouro.
E parei, sentei-me no sofá, porque estavam a anunciar os vencedores na categoria de Música.

Ao título de melhor intérprete individual concorriam David Fonseca, Ana Moura, José Cid e Jorge Palma. Dividi-me entre Fonseca e Palma. Rapidamente me decidi pelo ex-Silence 4, apesar de Jorge Palma ser dos meus músicos preferidos de sempre, porque em 2007 David Fonseca se destacou mais com Dreams in Color.

Ganhou Jorge Palma. Não fiquei desiludida, o cantor/compositor merece. Mas Palma estava literalmente do outro lado da noite. A tv não lhe fica bem, o globo dourado não lhe fica bem. Jorge Palma é um homem das ruas, das esplanadas de Paris, das grandes e pequenas salas. Não é um homem de galardões e medalhas. Ainda que os mereça.

Ao palco da SIC e da Caras, subiu um tipo alcoolizado, como sempre. Herman José elevou a situação ao ridículo. Não fosse ele, e embora embriagado, Palma não teria caído ao chão.
Ao piano, todos achamos graça à dificuldade que Jorge Palma tem em dizer frases com início, meio e fim. E ao cabelo, agora esbranquiçado, sempre desgrenhado. Palma é assim. Não é um tipo sóbrio. Nunca foi, nunca será. Mas vê-lo assim, naquele mundo que não é o dele, custa.

Palma é um génio da composição em português. E como tal não precisa de noites de gala, nem de objectos dourados, nem de orquestra.

Pois é, pois é.

Escolhi para hoje Deixa-me Rir, do Lado Errado da Noite, álbum de 1985. Hesitei entre este tema e Frágil e O meu Amor Existe e tantos tantos outros.

Porque Jorge Palma é o homem dos discos e não o dos Globos de Ouro, Deixa-me Rir.

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"Pois é, pois é
Há quem viva escondido a vida inteira
Domingo sabe de cor
O que vai dizer Segunda-Feira"

1 comentário:

Fátima disse...

O Jorge Palma é, sem dúvida, o meu artista preferido de todos os tempos. A seguir vem Bob Dylan. Adoro as músicas do Palma, são daquelas que me fazem acenar a cabeça por me identificar ou concordar, ou quando comecei a ouvir, ficar espantada e um pouco nua ler tão bem um pouco de nós. Palma inspira-me ao mesmo tempo que me inibe de escrever? Porquê? porque me sinto uma amadora reles ao pé dele, apesar do meu género ser prosa, não poesia. faz-me sentir mal, e prefiro ficar a contemplar os seus versos à procura de luz. E sim, Jorge Palma não é um exibicionista como aqueles todos dos globos de ouro... é apenas a arte, e o seu lugar é ao pé das músicas, não das tolices e dos vestidos prateados...