segunda-feira, 19 de maio de 2008

Xutos & Pontapés - O Que Foi Não Volta a Ser (1992)

Assistir a concertos já não é o que era. Digo-o com a tristeza de quem gosta de música e esteve na noite de sábado na Semana Académica do Algarve para ver os Xutos & Pontapés. Mas não vou falar aqui de Tim, Kalú, Gui, Cabeleira e Zé Pedro. Esses cumpriram o seu papel com a competência que lhes conhecemos.
Vou falar do público que lá estava. Uma horda de miúdos embriagados e drogados, pouco interessados em música - nada mesmo -, saltavam, empurravam-se, gritavam. Dos Xutos poucos ou nada sabiam ou queriam saber. Estavam ali para beber e fumar ganzas. Ter ou não ter palco e bandas para o pisar, era indiferente para a grande maioria que enchia o recinto.

Quand vi os Xutos pela primeira vez, quem lá estava estava pela música. Também se bebia e fumava. E muito. Também haviam empurrões e saltos, cerveja derramada e queimaduras de pontas de cigarro. Mas todos respeitavam aqueles que subiam ao palco. Respondiam positivamente, estavam em sintonia com o que ali se passava. Partilhavam a experiência da música.
No sábado, houve tudo menos partilha. Nunca vi um público tão alheado, mais preocupado com a rodinha de mosh que se formava a partir da terceira fila.
E depois haviam tipos como o de t-shirt amarela, mesmo por trás de mim que se divertia a vaiar e a chamar nomes à Instituição do rock nacional. Não gosta, não vai. E se vai, respeita.
Os pouco que ali estavam para, de facto, celebrar a música, tiveram que se sujeitar e levar com toda aquela imbecilidade.

O público é parte integrante de um espectáculo. Ou deveria ser. No Sábado, os Xutos sentiram que ali não havia público. E por isso tocaram o alinhamento de enfiada. Nem se pode dizer que houve encore.

Os Xutos não mereceram aquilo. Os amantes de música ao vivo, fãs ou não, não mereceram aquilo.

Mas a comunhão na música é apenas uma das coisas que foram e não vão voltar a ser. Pelo menos não da mesma maneira.


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"O que foi não volta a ser
mesmo que muito se queira,
e querer muito é poder...
O que foi não volta a ser."

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