segunda-feira, 30 de junho de 2008

David Bowie - Rebel Rebel (1974)

Ontem a minha tarde encheu-se de glam-rock. Descobri Best Of Bowie, o DVD, a um preço convidativo, uma óptima oportunidade para vaguear pela carreira singular de um dos grandes ícones da música mundial.

Organizado cronologicamente, o DVD mostra as diferentes facetas de David Bowie, os seus alter-egos e estilos. Apesar de não ser um objecto de culto (o DVD mostra apenas vídeos e, aqui e ali, uma ou outra aparição em programas de televisão), Best Of Bowie é um bom documento para conhecer esta figura tão bizarra quanto incontornável.

O mais interessante destas quase cinco horas de música e imagem, é ver a evolução ao longo do tempo. E se David Bowie marcou a história da música, prinicpalmente a partir da década de 70, é curioso como, anos e anos depois, a sua música, a actual, soe ainda tão inovadora, agora mais no campo da electrónica.

Rebel Rebel, a minha proposta para hoje, marca o fim da era glam (a minha preferida) e a entrada definitiva de Bowie na história da música. Single para Diamond Dogs, Rebel Rebel apresenta um dos riffs mais orelhudos de todos os tempos, rivalizando com Satisfaction, dos Stones.

O fato justo, vermelho, e a pala no olho compõem a figura do ícone.

Rebel Rebel, David Bowie.

____

"And I love your dress
You're a juvenile success
Because your face is a mess
So how could they know?
I said, how could they know? "

terça-feira, 24 de junho de 2008

Ella Fitzgerald - (I Love You) For Sentimental Reasons (1947)

Já andava para falar em (I Love You) For Sentimental Reasons há algum tempo. Hoje proponho aqui a versão de Ella Fitzgerald, que tenho muito bem embalada no volume dedicado à "First Lady Of Song" da colecção BD Jazz.

Este conjunto de mini-livros de BD com CDs, lançado pela editora francesa Nocturne, é uma boa forma de apresentar os grandes nomes do jazz, através de uma pequena biografia em banda-desenhada e de dois discos com gravações mais ou menos reconhecidas. Infelizmente, já não apanhei quase nada da colecção, que a FNAC foi recuperando de tempos a tempos, mas sempre incompleta. Fiquei com os volumes de Ray Charles e Ella Fitzgerald.

O de Fitzgerald é o que roda mais no meu rádio. O CD1 com temas mais scat, mais enérgicos, com algumas parcerias. O CD2 é o meu disco de eleição para ouvir quando o sol já se pôs, em noites de insónia ou quando a rádio teima em passar, ao sábado à noite, música de discoteca de trazer por casa. É lá que se escondem os temas mais clássicos, as baladas acompanhadas de big band, como este (I Love You) For Sentimental Reasons.

Este tema da tradição jazz, popularizado por Nat King Cole, é uma canção simples, serena, que sabe muito bem ouvir pela noite fora, até que a manhã entre pela janela. Na versão de Ella, o coro masculino no final abre caminho à sua improvisação única: I really love you, really, I do.

Para ouvir, e sonhar, (I Love You) For Sentimental Reasons, na voz de Ella Fitzgerald.

____

"I think of you every morning
Dream of you every night
Darling, I'm never lonely
Whenever you are in sight"

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Clã - Eu Ninguém (2005)

"Eu ninguém comigo só
posso ser
travesti de quem quiser
Manequim de bazar,
ou rainha do lar
Madame Butterfly
Barbie, Suzie, dolly, Polly Pocket"


Manuela Azevedo poderia ter sido advogada. Conhecida apenas por aqueles que contratariam os seus serviços jurídicos. Com escritório num qualquer prédio podre das grandes cidades, nas caves, nas ruas estreitas de calçada. Ou poderia ter sido outra coisa qualquer. Para o nosso bem, Manuela Azevedo deixou-se de advocacias e entregou-se à música nos Clã.

Esta sexta-feira encontrei uma verdadeira pechincha nas lojas Valentim de Carvalho. Entre outros títulos, pude levar para casa Gordo Segredo, o concerto de apresentação de Rosa Carne no Olga Cadaval, por dois euros e noventa e nove. Como me dizia alguém, até custa dar tão pouco por um trabalho tão bem conseguido como este. Talvez nunca, como hoje, se veja arte tão acessível.

Este Gordo Segredo, para além de ser o melhor disco da carreira dos Clã ao vivo, é uma peça especialmente interessante pela maneira como foi filmada. Realizado por Pedro Cruz, não vemos neste DVD, um típico concerto. A escolha das luzes, dos planos, a opção pelo preto e branco quase até ao final, mostra uma outra noite no Olga Cadaval. Uma noite de pormenores que passaram despercebidos àqueles que por lá estiveram efectivamente.

E depois temos o carisma transbordante de Manuela Azevedo. E é de cabelo curto, de cara limpa, que apresenta o mais feminino e sensual álbum da carreira dos Clã. Soberba. A energia, a expressividade com que desfia canções dramáticas, fortes, por vezes dolorosas e outras, alegres, contagiantes no ritmo.

Em Gordo Segredo os convidados são também parte essencial. Arnaldo Antunes, o músico brasileiro responsável por algumas das letras de Rosa Carne, junta a sua voz à de Manuela Azevedo nalguns dos temas. Também ele com uma presença muito carismática e peculiar em palco. Mas o convidado mistério da noite era Paulo Furtado, a.k.a The Legendary Tiger Man, que faz a sua aparição em Topo de Gama, envolto em fumo. Um dos momentos mais alucinantes da noite. Sem dúvida, a escolha acertada.

O DVD tem alguns mimos interessantes, como o documentário Aqui Ninguém Nos Ouve e a opção de concerto comentado.

De uma noite cheia de boas canções, escolhi este Eu Ninguém, com letra de Arnaldo Antunes.
A razão? Sei lá, sei lá.

Os Clã, Eu Ninguém.

____

"Tudo bem
Mas eu posso ser também
Emanuelle
Lady, miss, mademoiselle,
Num harém, meretriz
Ou apenas actriz
O espelho me diz
Gueixa, Vénus, Eva, dama, virgem, mãe"

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Skunk Anansie - Good Things Don't Always Come To You (1999)

Parece que regressei, talvez pela primeira vez em anos, aos tempos da minha adolescência.
Voltei a ouvir Americana, o álbum dos Offspring que marcou a minha entrada nesse mundo complexo. Nessa altura os discos marcavam definitivamente uma pessoa. Parece que agora a nossa "condição adulta" teima em intelectualizar demasiado a música que ouvimos. Isto soa àquilo, esta composição é assim, esta linha de guitarra ou baixo é assado... As bandas-sonoras das vidas compõem-se na adolescência, está visto. A partir daí, a música ganha toda uma outra dimensão.

Nesta maré de regressos ao passado, descobri, já muito gasto e com a caixa meia partida, Post Orgasmic Chill, o último álbum de uma das grandes bandas da minha adolescência. Os Skunk Anansie foram para mim uma das descobertas mais importantes à época, um som completamente novo, ousado, transgressor. Mas foram também um dos meus maiores desgostos musicais. Quando o meu quarto de adolescente (que continua intacto desde essa altura) começou a encher-se de posters devotos à banda de Skin, eis que os Skunk Anansie decidem separar-se.
O álbum de Lately e Secretly tinha sido o derradeiro.

Post Orgasmic Chill enchia-me as medidas. Era um rock muito criativo e denso. Tanto era politicamente interventivo (On My Hotel TV; We Don't Need Who You Think You Are) como sentimental (I'm Not Afraid, Secretly, Tracy's Flaw). Depois tínhamos ritmos alucinantes de tão rápidos (And This Is Nothing That I Thought I Had), mais pop (Lately) ou mais contidos, como este Good Things Don't Always Come To You. E a voz de Skin... uma das melhores de sempre. Versátil, poderosa, única.

Escolhi este tema, de entre todos, porque era, precisamente, o tema que menos me agradou ao início. Muito melancólico, de sentimentos contidos. Com o tempo, Good Things... revelou-se e entranhou-se, como diria o poeta. É um tema que se mostra denso no final, com boas guitarras e vocalizações. Grande performance de Skin.

Deborah Dyer, de seu nome, continuou a solo, dois anos depois da separação, num registo francamente mais pop. Pop de qualidade, é certo, no entanto, Skin pertencia aos Skunk Anansie e lá é que pôde dar azo a todas as suas qualidades.

Para recordar, Good Things Don't Always Come To You, os Skunk Anansie.

____

"Some things, don't go as you want them to,
good things, they don't always come to you."

segunda-feira, 16 de junho de 2008

GNR & Isabel Silvestre - Pronúncia do Norte (1992)

Correndo o risco de me tornar repetitiva, volto a dizer que as parcerias são sempre interessantes experiências musicais. Há algumas que resultam em cheio, e uma dessas é a que se ouve em Pronúncia do Norte, tema de Rock in Rio Douro que junta os GNR à cantora de música tradicional portuguesa Isabel Silvestre.

Assim de repente não imagino melhor parceira para a voz de reininho neste tema que ela. Silvestre tem a típica voz das mulheres do Norte que trocam os cestos e as enxadas pelo coro da Igreja da Aldeia, ou pelas cantorias durante a apanha do milho. É aquela voz imperfeita, a voz do canto tradicional. E, claro está, a voz com pronúncia. Do Norte.

Uma ilha mais tradicional no meio do mar pop-rock / pós-punk dos GNR, este Pronúncia do Norte é um tema forte, épico, lírico. Um grande momento de inspiração.

Aqui fica a sugestão, Pronúncia do Norte, o Grupo Novo Rock com Isabel Silvestre.


____

"E as teias que vidram nas janelas
esperam um barco parecido com elas
Não tenho barqueiro nem hei-de remar
Procuro caminhos novos para andar"

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Clã & Sérgio Godinho - Espectáculo (2001)

Afinidades é um daqueles projectos que deveria ser repetido, ano após ano.
Já aqui falei no movimento UPA, Unidos para Ajudar, que vai buscar um pouco da filosofia de juntar músicos diferentes em palco.

Em 1998, por alturas da Expo, os Clã juntaram-se a Sérgio Godinho numa série de espectáculos que revisitava temas da banda de Manuela Azevedo e do compositor. Dois anos mais tarde, a experiência perpetuou-se no disco, gravado ao vivo, Afinidades.

São grandes canções, cantadas a dois, com arranjos novos. O espírito Clã, as composições, a musicalidade, casa perfeitamente com o espírito Godinho. E a alegria com que partilham as palavras, é de louvar.

Um dos temas mais radiofónicos de Afinidades é este Espectáculo, originalmente presente em Campolide, álbum de Sérgio Godinho.
Uma composição tão actual que faz parecer impossível a data de lançamento: 1979. Dono de uma frescura e alegria, sem nunca esquecer algum tom crítico, como poucos, este tema é a minha proposta para todo o fim-de-semana. Vamos descer a escada e deitarmo-nos na grama. Como gente que se ama.

Sérgio Godinho com os Clã. Espectáculo!

___

"E quando
à minha casa fores dar
vem devagar
e apaga-me a luz
que a luz destrouta ribalta
às vezes não me seduz
às vezes não me faz falta"

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Pearl Jam - Even Flow (1991)

Hoje decidi voltar ao início da década de 90, ao início do movimento grunge.
Em 1991 nascia Ten, o primeiro álbum dos Pearl Jam, a banda que, tantos anos passados, continua fiel à sua ideologia.

Uma banda que tem marcado o mundo pelo seu envolvimento em questões políticas, ambientais e sociais. Uma banda que tem apoiado iniciativas importantes sem nunca chamar a si o protagonismo.

Para mim, a banda de Eddie Vedder é uma das mais marcantes. A todos os níveis. Composições sempre inspiradas, excelentes histórias a contar. Sinceridade. Honestidade. Feeling.

Superaram a tragédia de 2000 na Dinamarca. Após a morte de nove fãs durante o espectáculo de apresentação de Binaural, retiraram-se dos grandes palcos. Recusaram as tiranias das grandes empresas e, sempre voltados para os fãs, mantêm até hoje um discreto, mas sólido sucesso.

Por tudo isto, Even Flow, os Pearl Jam.

____

"Even flow, thoughts arrive like butterflies
Oh, he don't know, so he chases them away
Oh, someday yet, he'll begin his life again..."

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Metallica - Sad But True (1991)

Não podia deixar de falar na edição deste ano do Rock In Rio Lisboa, o mais urbano dos festivais que por aqui passam.

O mais urbano, e também o menos coerente na escolha do cartaz. Amy Winehouse ficou entalada no primeiro dia com músicos tão díspares como Ivete Sangalo, Lenny Kravitz e Paulo Gonzo. Bon Jovi e Alejandro Sanz partilharam o segundo dia; o dia da criança levou à Cidade do Rock os ídolos dos mais pequenos e, depois, para agradar um bocadinho a alguns papás, lá tivemos Rod Stewart, os Xutos e Joss Stone para as irmãs mais velhas.

Quinta-feira, dia 5, foi o único dia verdadeiramente coerente. Um dia dedicado ao metal. O último dia também não esteve mal, embora o hip-hop latino dos Orishas estivesse um pouco perdido entre o nu-metal dos Linkin Park e dos Muse e o punk dos Offspring e dos Kaiser Chiefs.

Os festivais são sempre grandes oportunidades de viver a música em comunhão, de ver grandes nomes e vários estilos. A variedade é importante num festival. Mas a criação de "dias temáticos" é talvez a melhor estratégia. Não digo que não seja interessante ter metal, soul, pop, hip-hop tudo misturado. No entanto, quer queiramos quer não, a divisão por estilos traz uma coesão diferente ao evento em causa.

Dos cabeças-de-cartaz do dia mais coerente do Rock in Rio Lisboa, Sad But True.

O disco homónimo dos Metallica, The Black Album, como também é conhecido, deu ao mundo grandes malhas. Uma delas é esta minha proposta para hoje.

___

"I’m your dream, make you real
I’m your eyes when you must steal
I’m your pain when you can’t feel
Sad but true"

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Amy Winehouse - Rehab (2007)

Hoje, no trabalho, alguém se lembrou de pôr música. Coisa rara, aqui pouca música se ouve e quando acontece, são hits radiofónicos repetidos até à exaustão.

Hoje ouviu-se Amy Winehouse. Pretexto mais que perfeito para escrever aqui sobre a Voz de 2007. Muito se diz, muito se ouve sobre as tropelias da menina da soul. Drogas, álcool, obsessões várias.

O que me interessa a mim é aquele talento. Um brutal talento. Espírito soul, a lembrar divas de outros tempos, vozeirão sujo, histórias duras. E custa-me pensar que alguém já lhe adivinhe a morte... para 2009. As probabilidades são altas, infelizmente.

No primeiro dia do Rock In Rio Lisboa 2008, a degradação tomou conta de Winehouse. Sem voz, sem postura, sem espírito. Salvou-a (?) a excelente trupe de músicos que a acompanha.

Na música morre-se cedo. Mas também há quem contrarie tendências: Keith Richards ainda cá está para o provar.

Seguirá Winehouse a tendência? Certeza tenho uma: aconteça o que acontecer, Back in Black vai ficar.

Rehab, Amy Winehouse.

___

"And it's not just my pride
It's just 'til these tears have dried"

terça-feira, 3 de junho de 2008

Aerosmith - I Don't Want To Miss a Thing (1998)

A tarde do passado sábado passei-a em frente à VH1, esse grande canal de oldies. Para além de ser o Red Hot Chili Peppers weekend, começava o Best of Ballads.

Que eu sou grande fã da música dos anos 80, todos por aqui sabem. Agora juntem as melhores baladas da década, baladas rock à séria, a uma tarde de descanso e à companhia certa e... Isto sim, é qualidade de vida!

Durante várias horas desfilaram canções de amor emblemáticas como Is This Love?, dos grandes Whitesnake. Os clips são deliciosos. Por um lado temos a figura máscula das grandes estrelas rock - calças de cabedal justas, gabardines e cabelos compridos - por outro, as beldades de enchumaços nos ombros e saias curtas. O erotismo sempre presente. Mas não é um erotismo como o dos dias de hoje. Hoje há menos roupa e corpos mais esculturais. Nos anos 80, o erotismo é, por assim dizer, mais natural. Há peitos descaídos e roupa interior da avózinha, para ajudar a construir a imagem.

Como não poderia deixar de ser, lá estava na tabela das melhores baladas de sempre Wicked Game, de Chris Isaak. No meu top pessoal leva dois galardões: o de clip mais ousado e de balada mais sensual de sempre. Não se deixem enganar: a versão dos pseudo-metaleiros HIM para Wicked Game não lhe faz justiça nem um bocadinho.

Bonnie Tyler e Total Eclipse of the Heart não faltaram à chamada. É engraçado ver também os efeitos especiais da época. Turnaroud, bright eyes... e é ver os olhos dos dançarinos literalmente a brilhar como se se tratasse de duas lanternas.

Kayleigh, dos Marillion, também lá estava. Do you remember... chalk hearts melting on a playground wall... Quem não se lembra? Um dos versos mais emblemáticos das baladas rock.

Há dias propus aqui Patience, uma das muitas boas baladas originas dos Guns N' Roses. A VH1 não tem a mesma opinião e marca a presença da banda de Axl Rose com... a versão para Knockin' on Heaven's Door, de Bob Dylan. Mas uma desilusão não destrói uma tarde.

Aproximava-se o número 1 e faziam-se apostas. Alguém me dizia que o primeiro lugar deste Best of Ballads pertencia a Steven Tyler e companhia. E não é que tem sempre razão? Lá estava o meteorito de I Don't Want To Miss a Thing, a canção que os Aerosmith compuseram para o filme de 1998, Armageddon.

Não é dos 80's, mas é uma balada especial. Muito especial.

As baladas, meus amigos, não são algo de que devamos envergonhar-nos, como dizia um radialista da nossa praça.

Assim, aqui fica(m) a(s) sugestão(ões).

I Don't Want to Miss a Thing, os Aerosmith.

___

"'Cause even when I dream of you
The sweetest dream will never do
Id still miss you, baby
And I don't want to miss a thing"