quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Romi Anauel - Waiting For You (2008)

Romi Anauel é uma das grandes revelações do ano. A voz dos Terrakota lançou-se agora numa deliciosa carreira a solo que deve culminar no início de 2009 com o primeiro álbum em nome próprio.

Enquanto que nos Terrakota assume um registo marcadamente reggae e afro-beat, mais festivo, mais interventivo - arriscaria mesmo, a solo Romi revela toda a sua sensualidade na voz ao mesmo tempo forte e delicada. Aqui a cadência reggae dá lugar a um down-tempo, ao nu-jazz, à soul. Romi não esquece as raízes africanas, e regressa a elas a cada tema. Dos Terrakota importa esse desejo de regresso e os ritmos bebidos aos quatro cantos do mundo

Dos temas disponíveis no MySpace, escolhi este Waiting For You, o mais jazzy de todos, diria mesmo que passa pelo nu-jazz a roçar os ambientes trip-hop. Criado com a cumplicidade do colega de banda Mó Francesco, Waiting For You revela uma maturidade interpretativa impressionante. Não que Romi fosse uma novata nestas coisas de fazer boa música. Afinal, basta ouvir os 3 álbuns dos Terrakota e comprovar.

Um projecto que promete.

Romi Anauel a solo, Waiting For You.

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"Waiting for you I found the truth..."

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Guns N' Roses - Welcome To The Jungle (1987)

Nos dias que correm, eu deveria estar aqui a falar de Chinese Democracy, o álbum que já era mítico antes de existir, o álbum que os fãs dos Guns N' Roses esperaram 14 anos para ouvir (com algumas escapadelas ilegais pelo meio...).

Quando soube que a banda de Axl Rose disponibilizaria o álbum na íntegra no MySpace antes de este sair para os escaparates fui a correr. Desde sempre que ouço falar em Chinese Democracy e, se me permitem o desvio, é com tristeza que constanto que 14 anos depois a ironia do título ainda faz todo sentido e ainda incomoda o país em questão.

Também é com alguma tristeza que passo os ouvidos (mais uma vez) pelos temas do disco. Não consigo ouvir os Guns ali. Em nenhum dos temas. Se eu não soubesse que aquelas eram canções de Rose e companhia (sem Slash), até diria que são canções rock competentes. Não são inovadoras, não são estonteantes, são temas razoáveis. Mas tratando-se dos Guns 'N Roses... o caso muda inevitavelmente de figura. Não reconheço em Chinese Democracy nenhuma das duas fases dos Guns. Nem a banda hard rock deste Welcome To The Jungle, nem a banda baladeira de November Rain.

É bom? É mau?

Nem uma nem outra, como convém. A verdade é que senti vontade de voltar a 1987, à selva descrita pelos Guns N' Roses no álbum de estreia Appetite For Destruction. O riff inicial começa tímido, intermitente, mas quando é agarrado não pára. Axl está na sua melhor forma, voz solta para brincar ("Watch it bring you to your shun n,n,n,n,n,n,n,n,n,n,n,n knees, knees"). Sem dúvida um dos temas emblemáticos da história dos Guns e do rock em geral.

Fico feliz por ver Chinese Democracy finalmente nas ruas, mas a sensação que fica é a de um prato insonso. Será falta de Slash?

Welcome To The Jungle, os Guns N' Roses.

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"You know where you are
You're in the jungle baby
You're gonna die
In the jungle
Welcome to the jungle
Watch it bring you to your shu n,n,n,n,n,n,n,n,n,n,n,n,n knees, knees"

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Dapunksportif - Teenage Headbanger (2008)

Acabo de "descobrir" os Dapunksportif.
Uma banda de Peniche, já com 2 álbuns de originais, o último deles Electro Tube Riot, lançado este ano. Não posso dizer que a dupla traga uma sonoridade inovadora, mas traz com certeza um rock musculado e visceral, com duas guitarras muito interessantes, e um estilo que vai beber ao punk, ao stonerock, e ao próprio rock 'n' roll. As disponíveis no MySpace são boas canções rock, muito competentes. Estou curiosa para vê-los ao vivo, estou certa de que a força dos Dapunksportif se mostra é ali, em cima de um palco. Gosto da atitude, da voz, e da preponderência das guitarras. Ao vivo, os Dapunksportif convidam músicos de luxo, como Kalú, Filipe Valentim ou Pedro Gonçalves.

Escolhi para hoje este Teenage Headbanger, talvez a canção mais easy do álbum. Não se deixem enganar pelo título, este não é propriamente um tema teen, é mais um flash de memória de um jovem melómano. Daqueles em que todos nós nos revemos.

Não é um mau cartão de visita.

Vale a pena descobrir, Teenage Headbanger, os Dapunksportif.

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"Do you remember when
we used to bang our heads
And play the air-guitar
Spending hours listening
To our favourite bands..."

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Rednex - Cotton-Eye Joe (1994)

Eu e o Tiago temos um casal amigo com quem sair é uma experiência alucinante.

Ontem lá fomos, rumo ao restaurante japonês. Entrámos todos no carro e é aí que tudo começa. Entrar naquele Alfa Romeo é como entrar numa máquina do tempo que nos teletransporta de imediato para uma década mais ou menos longínqua. Geralmente lá vamos nós a caminho dos anos 80, via Whitesnake ou Extreme. Somos todos uns grandes fãs da cultura dos 80's. Música, filmes... tudo. Mas ontem a viagem (musical) foi mais longa e fomos atrás no tempo até aos anos 50, com direito a interpretações efusivas e tudo. Em menos de nada passámos em revista 4 décadas. 60's, os 70's dos Bee Gees e as suas dentaduras impecavelmente brancas, a inevitável década de 80 e... pela primeira vez desde que nos conhecemos, chegámos aos anos 90. Mas não aos anos 90 do grunge, mas à década da pop-carrinho-de-choque.

Nos anos em que Kurt Cobain e companhia andavam a revolucionar, a partir de Seattle, a história do rock mundial, uma verdadeira explosão de música pop altamente viciante e dançável acontecia. Saturday Night, de Whigfield; Cotton Eye Joe, dos Rednex; All That She Wants, dos Ace Of Base; The Rythm Of The Night, de Corona; What is Love, dos Haddaway; Scatman, do Scatman John, mais tarde o Blue, dos Eiffel 65 e tantos tantos outros... enchiam as compilações Dance Power e afins.

Todos nós que íamos naquele carro ontem, aos pulinhos, a imitar as coreografias dos 90's, a acertar em quase todas as letras, a fazer os sons de feira característicos, todos nós crescemos a ouvir isto.

De um acervo de centenas de hits dos anos 90, escolhi este Cotton-Eye Joe, na versão da banda sueca de techno-country (!) Rednex.

É que os guilty pleasures devem soltar-se de vez em quando. Tenho que confessar que soube bem, mas que já voltei ao normal durante o dia de hoje (o meu emprego afinal, ainda não está em risco...).

Para consumir com moderação, Cotton-Eye Joe, Rednex.

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"If I hadn't been for Cotton-Eye Joe
I'd been married long time ago.
Where did you come from,
Where did you go,
Where did you come from, Cotton-Eye Joe?"

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à Diana, ao Milton, ao Oliveira e ao meu amor...
Para onde vai ser a viagem da próxima vez? ;)

domingo, 16 de novembro de 2008

AC/DC - Thunderstruck (1990)

O meu irmão mais novo, de17 anos, anda a ouvir essa grande instituição do hard rock que são os AC/DC. Houve tempos em que temi pelo gosto musical dele, os "miúdos" ouvem cada coisa... Mas já não há perigo e posso dormir descansada.
Não sei se foi assim ou não, mas, no meu íntimo orgulho de irmã mais velha, gostaria que a minha melomania tivesse sido a influência, a razão pela qual o meu irmão não sucumbiu à geração D'zrt.

Está lá tudo. Os álbuns que fizeram dos AC/DC a mítica banda que hoje é. Estão lá, arrumadinhos numa pasta no pc, os ficheiros Mp3 de You Shook Me All Night Long, It's a Long Way To The Top If You Wanna Rock 'n'Roll, Highway To Hell, Back in Black, este arrepiante Thunderstruck e muitos mais.

A explicação aqui está: um gajo lá da turma que também ouve estas cenas! A T.N.T é demais e se fores ao YouTube, está lá o Thunderstruck, o gajo com aquela roupinha - fatinho de calções e chapéu - e os dedos dele, na guitarra... espectacular!

O gajo do fatinho é Angus, um dos irmãos Young, a dupla fundadora dos AC/DC. Baixinho, magro, mas sempre irrequieto, é um dos grandes guitarristas de todos os tempos. A voz é de Brian Johnson, uma das vozes mais sujas da história do rock.

Que diria Angus Young, a quem o fenómeno do download de músicas ainda faz impressão, deste interesse de miúdos da idade do meu irmão (e da minha também, que nasci um ano depois de os AC/DC lançarem o seu... 11º álbum...)? Não se ralaria muito. It's only rock 'n'roll and we love it. (conferir a entrevista de Angus à Blitz deste mês).

A minha sugestão para hoje faz-me lembrar aquele programa da velhinha Rádio Cidade, o City Rock, lembram-se? Ia para o ar aos fins-de-semana à tarde, se bem me lembro, e passava as grandes malhas do hard rock. Nesse tempo a Rádio Cidade não era a extensão radiofónica dos Morangos Com Açúcar. Era uma rádio comercial, é certo, mas que me encantava por ter programas tão diversos como o madrugador Naftalina (sim, com os grandes êxitos dos 70's e 80's...), o City Rock e o Cidade By Night.

Voltando a Thunderstruck... Um dos temas que marcou a carreira dos AC/DC, e que hoje arrepia qualquer um que goste de uma boa malha hard rock. Basta começar a ouvir o riff inicial, e o coro mais arrepiante da história do rock faz o resto.

A banda dos irmãos Young está aí com álbum novo. Na verdade, Black Ice é a prova que o rock 'n'roll não morreu, que há ainda quem faça boas canções rock, sem pretensiosismos, just to have some fun.

É o que a crítica tem dito e é aquilo que vou comprovar nos próximos dias, quando ouvir o álbum na íntegra.

Até lá, Thunderstruck, os AC/DC.

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"I was caught
In the middle of a railroad track (Thunder)
I looked 'round,
And I knew there was no turning back (Thunder)
My mind raced
And I thought what could I do? (Thunder)
And I knew
There was no help, no help from you (Thunder)

Sound of the drums
Beatin' in my heart
The thunder of guns!
Tore me apart
You've been... thunderstruck!"

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Rui Maia - Go (2008)

Ando às voltas com isto e não consigo largar.

A aventura a solo do homem por detrás das teclas e de toda a maquinaria dos X-Wife é simplesmente viciante. Dá vontade de rumar até ao Porto, ao Armazém do Chá, para ouvir um set deste passador de discos.

Acabadinho de chegar, pela mão da britânica Untracked Records, o EP Cantonese Man mostra um produtor de mão cheia, um punhado de originais e a versão para Cantonese Man, de Hot Coin.

Confesso que só agora estou a entrar nestas areias movediças da electrónica. Sons sintéticos raras vezes me atraem... Mas no últimos tempos tenho encontrado algumas coisas deveras interessantes.

Uma delas, Rui Maia, daquelas pessoas que não imaginaria num projecto deste tipo, muito menos a passar música em sítios tão distintos como o Lux ou o Plano B. Maia recupera um certo estilo vintage, e quem o vê, discreto nas teclas e programações dos X-Wife, firme na sua estética retro, jamais despertaria estas atenções.

A discrição faz mesmo parte do trabalho de Rui Maia, na banda e a solo. Pouco se sabe sobre ele e o projecto Cantonese Man. Na sua página do MySpace, há ainda outro véu por levantar: Social Disco Club & Maia - The Way You Move 12".

Go, a minha proposta para hoje, tem um ritmo contagiante, faz qualquer um, no mínimo, ensaiar uma mini-dança com o pé direito ou com a cabeça. Confiram. É uma excelente versão, mais dançável, da canção de 1984 dos Tones On Tail, projecto paralelo de Daniel Ash dos Bauhaus.

Ah, e já não acredito quando Rui Maia diz que é um mero passador de discos.

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"Living it up. It's a big kick
It's good for you
Watch the big freeze slip
Crack the jackpot, get out of control
If you put yourself down
You'll never win, get out of that hole
Keep your mind open, your head up
You'll never ever get old"

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Elis Regina - Como Nossos Pais (1976)

Este sábado ouvi pela primeira vez Como Nossos Pais, de Elis Regina. Fora a bossa nova, a música brasileira não me tem atraído, mas como em tudo, há sempre um momento, um momento decisivo que nos introduz neste ou naquele estilo, na obra deste ou daquele músico.

Ouvi o tema de Falso Brilhante pela primeira vez na voz da Luanda Cozetti. Posso dizê-lo agora, um animal de palco tão grande e tão forte quanto a própria Elis. De improviso, acompanhada apenas ao piano, quase sem ensaio, a parte feminina dos Couple Coffee brilhou numa noite já de si especial. Outra coisa não seria de esperar.

Uma interpretação tão intensa que me fez querer ouvir o original, a letra, de Belchior, é de arrepiar. Como Nossos Pais é MPB, com a força dos melhores temas rock, guitarras e, sobretudo, um sentimento que se sente na voz, na expressão, em tudo.

A mensagem, essa, é uma tomada de consciência. Daquelas que marcam a passagem de uma fase da vida para outra, mais madura talvez. É uma mensagem tão bela quanto dolorosa. Cabe a cada um interpretá-la. E rever-se ou não nela.

Quem ainda não ouviu, que ouça. Apesar de ser dura, é obrigatória.

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"Não quero lhe falar,
Meu grande amor,
Das coisas que aprendi
Nos discos...
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
[...]

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais..."

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Nouvelle Vague - I Melt With You (2005)

Pode uma banda de covers cheirar a novo a cada tema, a cada palavra, a cada acorde, com a frescura de quem acabou de inventar melodias e sons completamente novos?
Os Nouvelle Vague podem.

A banda francesa pegou em temas punk e new wave dos anos 70 e 80, deu-lhes a todas roupagens de bossa nova, uma cadência quase inexprimível, uma naturalidade fresca e luminosa. Regressou ao Brasil dos anos 60, às sonoridades jazz da mesma década e da seguinte, e o resultado é uma coisa deliciosa.

As melodias às vezes são tão suaves como brisas, como neste I Melt With You, outras vezes inclivelmente samba, como na versão para Too Drunk Too Fuck, dos Dead Kennedys. O clássico Dancing With Myself ganha às mãos desta Nouvelle Vague contornos de jazz cantados em bicos de pés, e com estalares de dedinhos.

Não sei como pude estar alheada deste mundo novo por tanto tempo. Agora, a pretexto da vinda da banda a Portugal para dois concertos, decidi passar pelo Myspace e ouvir o que por lá havia. Amanhã tenho de sair da Baixa com um disco na mala. Dê por onde der.

A minha proposta para hoje é um doce nestas noites que começam a ser frias. Uma voz tão engraçada de desajeitada, como por vezes tão certinha, uma voz que se arrasta em algumas palavras, de tão deliciosamente inocente. Às vezes lembra-me Nico. Algumas melodias, as mais minimalistas, os próprios Velvet Underground.

Seja como for, está na lista das coisas obrigatórias de ouvir.

I Melt With You, Nouvelle Vague.

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"The future’s open wide
I’ll stop the world and melt with you
You’ve seen the difference and it’s getting better all the time
There’s nothing you and I won’t do
I’ll stop the world and melt with you"