segunda-feira, 18 de maio de 2009

Bob Dylan - Life is Hard (2009)

Bob Dylan é um génio, e continua a sê-lo, sem tirar nem pôr, em 2009. Se alguma poeira de dúvida restasse, Together Through Life está aí para prová-lo.

Não foi fácil esscolher a música do dia, as 10 que compõem o novíssimo álbum de Dylan são irrepreensíveis. Tenho estado a ouvi-las sofregamente desde sexta-feira. Podia ter escolhido a agitada It's All Good, a guitarra viciante de Jolene, a mais rockeira Shake Shake Mama, a deliciosa e quase veraneante I Feel a Change Comin' On, a bluesy My Wife's Home Town, o acordeão de This Dream Of You, os grandes otovermes (no bom sentido) If You Ever Go To Houston e Forgetful Heart ou o single Beyond Here Lies Nothin'. Escolhi Life is Hard, a mais introspectiva das 10 canções, também pelo dedilhar arrepiante da guitarra no início, mas principalmente pelo poema. Quem escreve assim não é gago. É um génio. É que não é fácil - é duro mesmo - pôr em palavras o que a palavra amizade significa, e o quanto as ausências doem.

Por isso, deixo aqui o poema na íntegra. Agora vão procurar a música, porque as palavras ganham outra intensidade na voz rouca e suja de Bob Dylan.

Together Through Life é mais um disco obrigatório. Como todos os outros - sem excepção - de Dylan.

Life is Hard, Bob Dylan.

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"The evening winds are still
I've lost the way and will
Can’t tell you where they went
I just know what they meant
I’m always on my guard
Admitting life is hard
Without you near me

The friend you used to be,
So near and dear to me
You slipped so far away,
Where did we go astray
I passed the old school yard,
Admitting life is hard
Without you near me

Ever since the day,
The day you went away
I felt that emptiness so wide
I don’t know what's wrong or right
I just know I need strength to fight,
Strength to fight that world outside

Since we've been out of touch
I haven't felt that much
From day to barren day
My heart stays locked away
I walk the boulevard,
Admitting life is hard
Without you near me

The sun is sinking low
I guess it's time to go
I feel a chilly breeze
In place of memories
My dreams are locked and barred
Admitting life is hard
Without you near me"

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Jazzanova - Let Me Show Ya (2008)

E pronto. Descobri os Jazzanova.


Um colectivo alemão simplesmente delicioso, que vagueia pelo nu-jazz e pela soul. Que dá um pezinho de dança em África e na bossa-nova brasileira. É electrónica, é chill-out, é tropical.

A quantidade de participações e remixes que já fizeram até assusta! A verdade é que estes tipos não são nenhuns novatos nestas coisas.

Já me rendi a este Let Me Show Ya. Para além de ser quase uma pílula de boa disposição para ouvir logo pela manhã, depois do almoço, ao fim do dia, de madrugada... é um tema muito bem conseguido. Em todos os aspectos. Ritmo viciante, várias camadas para descobrir, um letra com uma mensagem interessante e uma excelente escolha para a voz, Paul Randolph.

Duas resoluções para hoje:
- vou procurar quanto antes Of All The Things, o álbum de 2008
- vou estar lá, no Cool Jazz, quando a banda vier a Portugal.

Let Me Show Ya, Jazzanova.

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"If you're through with love let me show ya
At least a thousand reasons why
You should take your time before you fall again
If you're through with love now's a good time
To wish upon a starry sky
Take your time
Trust that you will win"

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Tó Trips & Tiago Gomes - End Of An Endless Road (2009)

Não li Pela Estrada Fora aos 18 anos, como Tiago Gomes. Devia tê-lo feito. Não sei como é que Kerouac me escapou durante tanto tempo, mas sei que já me marcou. Para sempre.

Não cheguei a ver ao vivo On The Road, o projecto que junta a guitarra de Tó Trips às palavras de Tiago Gomes. Por essa e outras razões, fiquei contente quando que algumas canções tinham sido gravadas e dado origem ao Ep da colecção Optimus Discos Vi-os a Desaparecer na Noite.

Estou cada vez mais apaixonada pelo spokenword, pela forma inconfundível como Tó Trips toca guitarra, pela voz (que ao início me parecia monótona) desarmante de Tiago Gomes e por Kerouac. Para além de o ambiente criado pela dupla ser irrepreensível, o mais fiel que conseguiram ao imaginário de Pela Estrada Fora, a escolha dos excertos foi um tiro perfeito. Tirando uma ou outra canção, também eu teria escolhido aquelas passagens.

Em especial esta, que deu origem à faixa mais arrepiante de Vi-os Desaparecer na Noite. É que, logo aos primeiros acordes de End Of An Endless Road consigo ver Sal sentado no velho molhe por cima de New Jersey, também eu consigo ver Dean Moriarty no seu casaco andrajoso e comido pelas traças a subir para o comboio. Na guitarra de Trips e nas palavras resignadas e melancólicas de Tiago Gomes vejo tudo isto.

Mais um Ep obrigatório.

Tó Trips & Tiago Gomes, End Of An Endless Road.

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"Sem que ninguém, absolutamente ninguém,
Saiba o que vai suceder a ninguém,
Além dos desamparados farrapos do envelhecer,
Penso em Dean Moriarty.
Penso mesmo no velho Dean Moriarty,
O pai que nunca encontrámos.
Penso em...
'What's up, Dean?'"