segunda-feira, 31 de março de 2008

Alice In Chains - Rooster (1992)

O movimento grunge deu ao mundo bandas muito particulares e distintas. E os Alice In Chains foram talvez a mais particular de todas elas.

Com uma sonoridade muito mais voltada para o heavy-metal e para o glam-rock, o grupo do malogrado Layne Staley distinguiu-se da restante cena musical de Seattle por não beber tanto das influências punk. As guitarras são muito mais agressivas e as temáticas abordadas bem mais pesadas e depressivas.

Em 1996, os Alice in Chains seguiram o exemplo dos Nirvana e aceitaram o convite da MTV para um concerto Unplugged. Chegava a hora de trocar os riffs poderosos por guitarras acústicas, o ritmo estonteante das canções por momentos mais intimistas. Não foi fácil para os Alice In Chains actuar num registo completamente afastado daquilo que eram habitualmente em palco.
E não foi fácil principalmente porque o estado de saúde de Staley assim o ditou.

Ao palco da MTV subiu uma figura magra, pálida, de negro e óculos escuros. Encolhido no banco, Layne Staley cantou o que pôde, sempre imóvel, sempre com a mesma expressão. Quando finalmente tirou os óculos, podemos ver: cantou sempre de olhos fechados.

Muitas vezes não cantou. Deixou essa tarefa para Jerry Cantrell, que estava à guitarra. Enganou-se. Praguejou e recomeçou.

Para quem, como eu, tinha descoberto os Alice in Chains poucos anos antes, a notícia de 20 de Abril de 2002 foi como um balde de gelo: Layne Staley morria de overdose no apartamento de Seattle de onde já pouco saía. Passei o dia com o rádio ligado a ouvir uma emissão especial sobre os Alice in Chains. Nem queria acreditar.

Ontem, enquanto via o MTV Unplugged em DVD, a morte pareceu-me óbvia e expectável. Como conseguiu viver Staley tanto tempo?

Escolhi Rooster, do segundo álbum da banda, Dirt. É das minhas preferidas.

Alice in Chains, Rooster. You know he ain't gonna die.

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"Got my pills against mosquito death
My buddy's breathin' his dyin' breath
Oh God please, won't you help me make it through"

sexta-feira, 28 de março de 2008

Chauffeur Navarrus - A12 (Corte de Cabelo) (2008)

Penso em blues e a imagem que me vem à cabeça é dos solos áridos americanos, dos clubes nocturnos, dos homens sentados em pequenos banquinhos de madeira com os seus chapéus, guitarra apoiada numa perna, as botas a imitar o ritmo no chão encardido, harmónica no suporte para o pescoço, depois a passar pelos lábios. Vêm-me à cabeça as vozes daqueles mestres negros, aquela cadência tão particular, a repetição dos versos que obedece àquele velho esquema. Vêm-me à cabeça aquelas histórias corriqueiras, dos amores, dos desamores, da tristeza, histórias simples de pessoas simples. Pessoas que trabalham duro, vão à Igreja, bebem uns copos na tasca e pedem liberdade.

Os blues nasceram das angústias da comunidade afro-americana em Terras do Tio Sam, no início do século passado. Mas neste século também se fazem blues. E dos bons.

O Chauffeur Navarrus não é negro nem trabalha nos campos junto ao Mississipi. O Chaffeur Navarrus é o típico português, ganha a vida ao volante do seu táxi mas também sabe cantar os blues. Na língua de Camões.

Personagem criada por João Navarro (voz, composição e letras) para dar sentido ao projecto musical que pretendia criar, o Chauffeur Navarrus viaja pelas sonoridades do jazz e dos blues, muito graças à formação dos músicos que lhe dão vida. João Navarro esteve sempre ligado aos blues, António Silva (piano) e o mítico baterista Paleka vêm dessa catedral do jazz que é o Hot Clube. A eles junta-se Guilherme Marinho (baixo e guitarra), com formação mais clássica e as vozes de Sónia, Sara e Carla que fazem um coro muito engraçado e simplesmente delicioso.

O disco de estreia do Chauffeur, Estradas Locais, está prestes a circular por esse país fora. Até lá proponho uma viagem pela A12 (Corte de Cabelo), uma das 11 faixas do primeiro álbum da banda.

Para mim, sem qualquer dúvida, um dos lançamentos do ano. Das melhores coisas que me foram dadas a ouvir em português nos últimos tempos.

A toda a velocidade em direcção ao fim-de-semana, pela A12 (Corte de Cabelo), no cadillac do Chauffeur Navarrus.

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"Dá-me boleia fora das estradas locais..."

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Para viajar no banco de trás deste táxi...


Amanhã Chauffeur Navarrus ao vivo Toda a Tarde no Rádio Clube Português depois das 16h e pela noite dentro no Casino de Lisboa.

Boa viagem.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Klaxons - Golden Skans (2007)

O crescente revivalismo punk tem muito que se lhe diga. Há quem goste, há quem critique, há quem acuse as novas bandas de mero plágio. Muito se falou de hype quando uma explosão de grupos, na sua maioria britânicos, trouxeram os anos 80 de volta às nossas vidas. Os anos 80 e os cabelos em pé, as sapatilhas All Stars e as calças justas.

E o punk. Como grande adepta dos 80's que sou, agradam-me as sonoridades dos Kaiser Chiefs, dos Editors e dos Klaxons. Já não vou tanto para o lado dos Arctic Monkeys, mas a sensação que este surto de novas bandas punk deixa em mim é a de descomprometimento. De quem faz música pelo gozo que dá ir para a garagem do pai ou do vizinho, pegar numas guitarras, numas palavras e... fazer música. Não há nada de errado nisso. Muito pelo contrário. Há quem fale num esvaziamento do sentido das letras. Sinceramente, não me parece.

Mas confesso que ouvir os Shout Out Louds em Tonight We Have to Leave It me faz alguma confusão. Tudo no tema é Robert Smith e The Cure. Nada mais. E penso para comigo: essa semelhança escancarada deve por si só tirar todo o mérito à canção?

Não sei.

Proponho para hoje Golden Skans, de Myths Of The Near Future, o álbum de estreia dos britânicos Klaxons.

Para além da sonoridade, que vai do punk ao dance-punk, passando pela pop e rock progressivo, os Klaxons distinguem-se pelas temáticas e ambientes inspirados na ficção científica.


Golden Skans, os Klaxons.

Se os livros amarelados da colecção Argonauta tivessem som, soariam assim.

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"A hall of records, or numbers, or spaces still undone.
Ruins, or relics, disciples and the young."

quarta-feira, 26 de março de 2008

Wordsong - Les Mots (2002)

Musicar grandes poetas é sempre uma operação de alto risco. E foi este o meu primeiro pensamento ao ouvir (Brave) Save My Soul, single de apresentação para Pessoa, segundo álbum do projecto Wordsong.

Constituído por algumas das mais míticas figuras do panorama musical português - Pedro D'Orey (Mler If Dada), Alexandre Cortez (Rádio Macau), entre outros - este projecto multimédia revisita a poesia de Al Berto, no primeiro álbum (2002) e de Fernando Pessoa no segundo (2006).

Curiosamente a cronologia parece estar trocada: Pessoa introduziu-me no mundo Wordsong e só depois descobri o primeiro trabalho.

Ora, dizia eu que musicar poemas clássicos é perigoso. Não que os Wordsong não o tenham feito com competência. Não é isso. É que há um quê de quase sagrado nas palavras escritas que lemos nos livros da escola e da biblioteca da terra. E é estranho ver aquelas palavras imaculadas na boca de um tipo magro que gesticula e dança por entre luzes, figuras e sons estranhos.

(Brave) Save My Soul, com excertos de Pessoa, soube-me a pouco, quando a ouvi na rádio pela primeira vez. É preciso ver Wordsong ao vivo para que a verdadeira essência do projecto se revele e nos conquiste. Os registos de estúdio ficam muito aquém do espectáculo em palco, muito por culpa dos efeitos visuais a cargo de Nuno Franco no primeiro álbum e de Rita Sá no segundo. Mas também por culpa do carisma emanente da voz e presença de Pedro D'Orey.

Ao vivo, os Wordsong respiram e transpiram mesmo poesia. Há um envolvimento inexplicável daqueles homens em palco com as palavras e os sons.

Proponho para hoje Les Mots, excertos do poema Le Plus Grand Calligraphe, de Al Berto. Uma canção que se entranha, de ritmo irresistível, ou não fosse mesmo assim a cadência da poesia de Al Berto.

Sem mais palavras, para ouvir e saborear, Les Mots, Wordsong.


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"les mots,
les mots fruits,
les mots jus,
les mots à mordre, les mots"

terça-feira, 25 de março de 2008

Moby - The Sky is Broken (1999)

Numa altura em que Moby se prepara para lançar Last Night, o seu novo trabalho de estúdio, regresso a Play, álbum que não tendo sido o primeiro, pôs o músico definitivamente no mapa da pop electrónica.

Play foi bem recebido pela crítica, apesar de a utilizaçao de samples de velhas músicas blues ter sido polémica. A Rolling Stone chegou mesmo a considerá-lo um dos 500 melhores álbuns de todos os tempos. Nenhum outro trabalho de Moby teria tanto impacto.

E o mais curioso é que todas as canções do álbum de 1999 foram compostas e tocadas por Moby. Até a remistura das faixas ficou a seu cargo, com excepção para Honey e Natural Blues.

Robert Melville Hall, de seu nome, é um artista completo. Para além da música, de texturas ambiente e electrónica cruzadas por vezes com o house e os blues, Moby faz também fotografia e desenhos que serviram depois para a produção dos seus videoclips.

Play é mais que um disco de pop electrónica.Moby não se preocupou apenas em criar ambientes sonoros. Também fez poesia. Porcelain, um dos singles, tem dos melhores versos de abertura que uma canção pode ter.

E depois há The Sky Is Broken, a minha proposta para hoje. Poesia declamada envolta em electrónica.


The Sky Is Broken, Moby.


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"I watch it lift up to the sky,
I watch it crush me,
And then I die."

segunda-feira, 24 de março de 2008

Pearl Jam - Dirty Frank (1992)

Pearl Jam é sinónimo de grunge. É para muitos, aliás, a única sobrevivente do movimento oriundo de Seattle nos anos 90.

Mas Pearl Jam pode ser sinónimo de muitas outras coisas. E a prova disso é Lost Dogs , o álbum duplo de raridades e lados B lançado em 2003.

Em Lost Dogs a banda de Eddie Vedder não veste apenas camisas de flanela. Estão lá os Pearl Jam das canções de Natal, muitas vezes minimalistas, os calções de banho e as pranchas de surf, está lá também a consciência ambiental e política, está o country, o rock, a sensualidade suja de Wash, guitarras em potência e guitarras nuas. Há a inocência de Bee Girl e a dor solitária da faixa escondida, em memória ao amigo morto. Há histórias verdadeiras como esta e há histórias inventadas. Há sempre boas histórias.

E há o funk de Dirty Frank. Para quem ainda duvidava da versatilidade dos Pearl Jam.

Lost Dogs é uma caixinha de surpresas. Abri-a e escolhi ao acaso esta história (das meio-verdade-meio ficção) de um motorista de autocarro que também é um serial-killer canibal.

Este Dirty Frank vai beber à musicalidade dos companheiros de tournée altura, os Red Hot Chili Peppers. É só atentar nas guitarras funky e as semelhanças saltam à vista.

É esta a minha proposta para hoje: uma viagem de autocarro com o mais louco dos motoristas. Dirty Frank, os Pearl Jam. E ninguém sai daqui vivo.


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"The band all knows, we're too afraid to mention,
Don't want to be part of Frank's luncheon!
Lose weight, be safe!
Where's Mike McCready? My god he's been ate!"

quarta-feira, 19 de março de 2008

Loopless - Raining Down (2003)

Há sons que se enquadram bem nestes dias cinzentões.

A música dos Loopless é um desses sons. O disco de estreia do duo português, homónimo, brinda-nos com excelentes canções chill out. Com um pé no jazz, outro no funk e com o espírito na música soul. E uma pitada de electrónica suave. É assim com Educated Fools e com este Raining Down, a minha sugestão para hoje.

A excelente voz soul de Kika Santos já a conhecia dos Blackout. A dupla que faz com Hugo Novo nos Loopless é que foi uma verdadeira lufada de ar bem fresco. E com a ajuda de vários músicos que com eles colaboram, este é um dos projectos mais estimulantes neste género musical em Portugal. Kalaf é um dos colaboradores frequentes. E é dele um outro projecto que vale mesmo a pena descobrir também: o One Week Project explora os mesmos ambientes funk, soul e nu-jazz.

Inspiração não falta no underground musical português. É preciso é resgatá-la, incólume, um bocadinho mais para a superfície.


Este estaminé vai de férias, que também merece. A música está de volta na segunda-feira. Até lá, e porque os próximos dias se adivinham tão chuvosos e cinzentos como este, Raining Down, Loopless.


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"It's raining all over again..."

terça-feira, 18 de março de 2008

Eric Clapton - Cocaïne (1977)

As relações entre o mundo da droga e o mundo da música são estreitas e conhecidas. Todos o sabemos.

É comum fazer-se música sob o efeito das mais variadas drogas. Ou sobre elas.

Eric Clapton não foi o único. A cocaína não mente.
Os Velvet Underground também escreveram sobre a sua esposa, a sua vida. A heroína.
Por cá, os Lulu Blind de Tó Trips tratavam-na por doce amante, meio bichinho, meio elefante.
Os Xutos & Pontapés, no álbum de estreia, tinham Medo. Medo do hematoma, medo d'agulha romba.

Outros tempos. Não que hoje não haja droga na música, nem música sobre droga. Há, e muita.
O que não havia em 1982, e que fazia Tim ter medo da picada aguda, era droga em forma de música.

É isso que promete a tecnologia I-Doser: um método que, através do som, controla as ondas cerebrais provocando no ouvinte os mesmos efeitos que algumas drogas como o álcool, a cocaína, a heroína ou a marijuana - de forma segura, garantem. Binaural brainwave doses for every imaginable mood, é o lema. São doses sonoras para levar no Mp3 ou ouvir no computador que podem deixar um tipo alegre, sonolento ou ébrio. Ou com alucinações.

No site oficial do I-Doser partilham-se experiências: parece que aquilo resulta mesmo.


Mas vamos voltar à música. Àquela que consumida todos os dias faz mesmo bem à saúde.

Cocaïne, de Slowhand (1977), o disco que deu a alcunha a Eric Clapton, é a minha sugestão para esta terça-feira.

Exímio guitarrista, homem dos blues e de grandes hits, mas também de polémicas, das drogas e do álcool, da tragédia de ver os colegas de banda e o filho morrerem no mesmo ano.

É Eric Clapton de Layla, My Father's Eyes e de Tears In Heaven. E de Riding With The King, num descapotável com B. B. King.

E de Cocaïne, uma canção que não sendo puro blues, tem uma cadência viciante.

Hoje Clapton tem um ar cansado. São muitos discos, muitos anos.


Desde Cocaïne, Mr. Slowhand.

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"If you wanna hang out you've got to take her out, cocaine.


If you wanna get down, down on the ground, cocaine."


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A censura existe.


Em 2008 os britânicos James não vão poder publicitar o novo álbum em outdoors. Tudo porque Hey Ma exibe um bebé e uma arma na capa e as autoridades reguladoras da publicidade não gostaram.






Em 1978, Ney Matogrosso lançava Feitiço. Na parte interior da capa do disco, uma ousadia para a época que me fez não resistir a comprá-lo em segunda mão.




segunda-feira, 17 de março de 2008

Deolinda - Contado Ninguém Acredita (2007)

A Deolinda, lisboeta de gema, partilha o seu rés-do-chão com dois gatos e um peixe. Ouve os discos da avó e faz as suas canções à janela, por onde espreita os vizinhos. A sua idade é uma incógnita. Sabe-se apenas que tem idade suficiente para conhecer o que a vida lhe reserva. Romântica e vivida, a Deolinda canta o fado como ninguém.

A Deolinda é a voz da Ana Bacalhau, o contrabaixo de José Pedro Leitão e a guitarra clássica de Luís e Pedro Martins.

Com formações muito distintas, os músicos que compõem este excelente projecto, inspiraram-se na música popular portuguesa e no fado para as suas criações originais.

São pequenas histórias de vida, de amores e desamores, as que conta Deolinda em Canção ao Lado, o álbum de estreia, nos escaparates a meados do mês que vem.

Contado Ninguém Acredita integrou - e com mérito - a compilação Novos Talentos Fnac 2007 e é a minha proposta para hoje. Uma canção fadisteira, alegre e popular como se quer. Fica no ouvido.

E quando Ana põe o xaile pelos ombros, mão na anca, tiques de fadista na voz e na expressão, as cordas pelos dedos de José, Luís e Pedro... a Deolinda ganha vida. É ver e ouvir para crer.

É que Contado Ninguém Acredita. A Deolinda.


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"Ó mas ainda não sou Deus
Para reinar aos olhos teus
Que só olham o divino"

sexta-feira, 14 de março de 2008

GNR - Efectivamente (1986)

Efectivamente tem mais de 20 anos, reparo agora.

É aquela canção simples, perspicaz, de Psicopátria. Também pode ser uma canção irónica.

E que faz Rui Reininho, o excêntrico vocalista do Grupo Novo Rock, na esplanada de um bar? A ouvir as conversas dos outros, a observar, claro está.

Os GNR são dos melhores exemplos de longevidade da colheita rock dos anos 80. Desde Independança (1982), LP de estreia recentemente editado em CD, que a banda tem cimentado uma carreira, umas vezes mais para o lado do rock, outras mais para o lado da pop. Os GNR fazem o que querem e fazem-no bem.

Em 2006 alguns nomes do hip-hop nacional juntaram-se em homenagem aos 25 anos dos GNR no álbum Revistados. Foi uma boa surpresa ver estilos musicais tão distintos a comunicar. Algumas faixas estão bem conseguidas, outras nem tanto, como tudo na vida. A versão de NBC para Bem Vindo ao Passado é um dos bons exemplos.

E se isto foi surpreendente, então o que dizer da notícia ontem avançada pelo gratuito Metro?
Os GNR vão tocar com... a GNR.
Algum dia teria de acontecer: a Guarda Nacional Republicana convidou e o Grupo Novo Rock aceitou. É já dia 18 de Abril que a Orquestra Sinfónica da GNR e a banda de Reininho se encontram no Pavilhão Atlântico.
E porque a coisa não é para menos, os arranjos estão nas mãos de músicos como Mário Laginha e Filipe Melo.


Parece que o fim-de-semana não vai estar grande coisa para deambular pelo campo e pelos jardins. Mas para ouvir as conversas dos outros (sem moralizar) também não é preciso tanto.

Efectivamente, concordam os GNR.

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"Adoro as pulgas dos cães
E todos os bichos do mato,
O riso das crianças dos outros,
Cágados de pernas para o ar"

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quinta-feira, 13 de março de 2008

The Soaked Lamb - Color Blues (2007)

Interessante a proposta de hoje da edição dos Heróis do Ar, rubrica da reponsabilidade de Tiago Santos na Rádio Oxigénio.

Chamam-se The Soaked Lamb e, apesar de figurarem na lista dos melhores de 2007 da Blitz, eu ainda não tinha despertado para eles. Hoje sintonizei música para respirar e lá estavam eles. Ou não fosse esta uma banda bastante arejada: vão beber ao country, aos blues, ao jazz. Mesmo como eu gosto, logo pela manhã.

A voz de serviço é feminina e bastante competente. No entanto parece-me que Mariana Lima tem muito por onde crescer, podia talvez melhorar o swing.

Este Color Blues é um bom cartão de visita para Handmade Blues, disco de estreia.
Vou ficar atenta.

Uma proposta de uma proposta, Color Blues, The Soaked Lamb.


Música azul-colorida.
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"I see such colors in my dreams
Such creatures, oh I do"
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quarta-feira, 12 de março de 2008

The Velvet Undeground & Nico - I'll Be Your Mirror (1967)

Não queria voltar a falar dos Velvet Underground. Mas é inevitável: não tenho ouvido outra coisa.

Já tinha lido sobre Nico, a cantora alemã que dá voz a alguns dos temas dos Velvet Underground e que, devido a tensões internas, nunca foi considerada parte integrante da banda. Também já tinha visto fotos. Uma mulher muito bonita, foi modelo, e antes de ingressar na carreira musical, fez também alguns filmes.

Nico é Christa Päffgen e ela foi, para muitos, ícone da geração hippie de 60.

I'll Be Your Mirror, a canção que Lou Reed escreveu propositadamente para Nico, é a minha proposta para hoje. Uma melodia suave que contrasta, talvez, com a voz que lhe deu corpo. Não que Nico não tenha uma voz suave. Tem. É talvez a pronúncia alemã, o inglês atrapalhado. Estranhei ouvi-la pela primeira vez. Não podia ser que aquelas palavras pertencessem à rapariga de cabelo muito liso e muito loiro, de fino traço, que eu sabia ser a Nico dos Velvet Underground.

Mas é ela. E o que começa por se estranhar, logo se entranha, já dizia o poeta.
A verdade é que Nico canta com graça.

I'll Be Your Mirror, Nico, com os Velvet Underground.


E agora já posso procurar mais discografia nova. Nova como quem diz...


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"I'll be your mirror, reflect what you are,
In case you don't know
I'll be the wind, the rain and the sunset,
the light on your door to show that you're home"

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terça-feira, 11 de março de 2008

Nirvana - Sliver (1992)

este estaminé prolongou o fim-de-semana e ontem por estes lados não houve música.
Voltamos hoje, porque uma música por dia, nem sabe o bem que lhe fazia!
Live! Tonight! Sold Out! é um documento fundamental na estante de qualquer fã dos Nirvana ou de quem quer perceber os anos 90.

Pensado e maioritariamente editado por Kurt Cobain, este documentário que reúne vários vídeos caseiros das actuações e entrevistas dos Nirvana foi lançado originalmente em VHS em 1994, já depois da sua morte. A cassete tornou-se uma lenda e em 2006, para consolo de fãs como eu, é lançada a versão em DVD.

Está lá tudo. A mítica aparição da banda no programa Top Of The Pops, onde era suposto interpretarem Smells Like Teen Spirit numa espécie de quase-playback: os Nirvana deveriam fingir estar a tocar ao vivo e Kurt Cobain deveria cantar por cima da gravação insrumental.Mas estamos a falar dos Nirvana. E como não poderia deixar de ser, as intenções da produção do programa foram completamente desmanteladas: ninguém fingiu tocar, e Cobain cantou o grande hit num registo muito lento, quase gregoriano.

Também lá está Kurt Cobain a entrar em palco de cadeira de rodas e bata branca. E lá está a cena em que um tipo espanca Cobain durante um stage diving, em Love Buzz. E estão lá as entrevistas, as aparições televisivas e os vídeos caseiros.
E o melhor de tudo, é que cada faixa é um conjunto de fragmentos, de vários concertos, de diferentes entrevistas. Tudo depois composto por um excelente trabalho de edição.

Imprescindível.

De Seattle para o mundo, os Nirvana marcaram toda a década de 90.

Em 1996, já Cobain tinha sido encontrado morto, e na escola onde eu entrava pela primeira vez, ainda os rapazes mais velhos vestiam camisas de flanela e deixavam o cabelo crescer ao estilo grunge. Ouviam Nirvana e drogavam-se ao fundo do recinto, onde estava um inútil campo de futebol e mais tarde, um pavilhão desportivo.

Depois tudo isso passou. A escola esforçou-se por erradicar aquele pessoal todo.

O grunge já não estava na moda quando apresentei Sliver numa aula de Inglês. Tinha de melhorar a nota com uma prova oral e a música - sempre ela - foi o tema escolhido. Levei a minha bandeira dos Nirvana, fotos e até a suposta carta de suicídio de Cobain. E levei Sliver, de Incesticide (1992).

Quando a linha de baixo começa, ainda está tudo tranquilo naquela sala. O desconforto surge quando guitarra e bateria se misturam com gritos e as palavras adquirem outros significados. Houve quem quisesse sair da sala.

Mas Sliver é, no fundo, uma canção inocente. Sobre uma criança e as suas birras. Sobre querer ir para casa e estar sozinho.

Os tempos já tinham mudado.

Sliver, Nirvana.

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"Mom and Dad went to a show,
dropped me off at Grandpa Joe's,
I kicked and screamed,
said 'please don't go'"


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Quis o acaso

que este domingo à noite eu visse o Festival da Canção, na RTP1. É tão pouca a televisão que vejo que nem sabia o porquê da mudança de programação. Mas uma voz conhecida fez-me parar ali. Era a Joana Melo, que agora integra o excelente projecto Lisboa Não Sejas Francesa, com alguns músicos dos Donna Maria.
Porto de Encontro era, de longe, o melhor tema da noite. O projecto que lhe deu vida é dos mais empolgantes no panorâma nacional, com músicos de grande qualidade. Conjugam o tradicional com novas sonoridades e não se limitam a exaltar os temas típicos da música portuguesa, como o faz a vencedora, Vânia Fernandes, em Senhora do Mar.

Vânia tem seguramente uma boa voz, mas isso não deveria, por si só, chegar.

Lisboa Não Sejas Francesa não chegou sequer aos três primeiros lugares.

Não estarão na Sérvia, mas aqui e ali, uma alternativa nas noites lisboetas.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Violent Femmes - Gone Daddy Gone (1982)

Já tenho um disco da banana. Uma edição simplezinha, remasterizada, de The Velvet Underground & Nico, que o ordenado a recibos verdes não dá para a edição Deluxe.

Ando, por isso, cheia de psicadelismo musical no leitor de mp3, no computador, no rádio do quarto.

E algumas canções fizeram-me lembrar dos Violent Femmes. Daquela cassete regravável que foi passando de geração em geração, gravada a partir de um disco de vinil (ouvia-se ainda a agulha no plástico preto! Delicioso!), e que chegou até mim pelas mãos da Cristina. Era uma mixtape que incluia este Gone Daddy Gone, do primeiro e homónimo álbum dos Violent Femmes.

Os Violent Femmes são folk, são punk, são country. E às vezes donos de um psicadelismo aterrador, como neste tema de 1982. Parecem sons de jardim zoológico - lembro-me vagamente de uma espécie de som de tromba de elefante e de guinchos de macaco - parecem pratos a partir, copos, latas... Como se todos os elementos da banda estivessem em concurso, onde o objectivo é fazer o barulho mais estranho possível.

Ao ouvir Violent Femmes, ninguém diria que Gordon Gano, carismático vocalista da banda, é profundamente religioso. Mas o Gordon Gano que pergunta em Add it Up (1982) "Why can't I get just one fuck?" é o mesmo que, dois anos mais tarde, canta alegremente "Jesus walking on the water, sweet Jesus walking in the sky" (Jesus Walking on The Water, do álbum Hallowed Ground).

Religiosismos à parte, os Violent Femmes são das bandas mais excitantes que me foram dadas a conhecer. Gordon Gano tem um timbre de voz muito particular e a sonoridade às vezes folk, às vezes punk são sempre agradáveis descobertas.

Muito interessante é também a participação - em português! - de Gano em Capitão Romance, do álbum O Monstro Precisa de Amigos (1999), dos Ornatos Violeta. As vozes de Gordon Gano e Manuel Cruz não podiam estar mais em sintonia. Uma faixa de audição obrigatória.

Permitam-me dizer isto:

Hoje, a música do dia é para a Cristina.
Para a Cristina que está hoje, doente, em Katmandu, nas montanhas do Nepal.
E não está de férias.

Espero que consiga voltar a ligar-se à net e ouvir aqui Gone Daddy Gone, dos Violent Femmes. Como se estivessemos outra vez no Fiesta branco a ouvir aquela velhinha cassete regravável.


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"When I see you
Eyes will turn blue
When I see you
A thousand eyes turning blue"

quinta-feira, 6 de março de 2008

Balla - A Meu Favor (2003)

Na capa de Le Jeu (2003), Armando Teixeira aparece no seu melhor estilo retro: as rosas vermelhas, o cabelo, os óculos de massa e até a forma como segura o cigarro.

Em palco, é uma personagem discreta. Tanto podia ser o mentor de alguns dos projectos mais interessantes da música portuguesa como podia ser um qualquer empregado de escritório.

Quando vi os Balla ao vivo, algures em 2004, Armando Teixeira nem sequer ocupava o lugar de maior destaque no palco. E é nessa discrição que reside todo o carisma e charme de um dos mais interessantes compositores, produtores e músicos portugueses.

Armando Teixeira é sinónimo de Balla e de Bullet. E foi também parte dos Bizarra Locomotiva e dos Da Weasel.

Tão discreto, que foi preciso chegarmos ao terceiro registo dos Balla para que Armando Teixeira cantasse todos os temas de um disco seu. É desta fibra que são feitos os grandes artistas.

Numa altura em que se prepara o lançamento de Resumo 2000-2008, compilação de 13 dos mais emblemáticos temas dos Balla, com direito a 5 remisturas para download e um inédito, recuo até à pop de charme de Le Jeu.

A Meu Favor, que conta com a voz feminina de Lili (Legendary Tiger Man, Ballerina), - se não estou em erro são dela os deliciosos apontamentos vocais neste tema - vagueia por cabarets e ruas sinuosas. Faz paragens no erotismo da pop e da electrónica, e com a ajuda de um VJ, os espectáculos ao vivo são verdadeiras experiências de sedução.

O Fim da Luta, primeiro single para A Grande Mentira (2006), último registo de Armando Teixeira com os Balla, não me conquistou à primeira como A Meu Favor, mas aquilo que me surpreende desde o início na sonoridade da banda continua lá.

A Meu Favor, os Balla de Armando Teixeira. Delicioso.

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"A brisa que vem de ti está a meu favor - o tal favor...
O tal favor..."

quarta-feira, 5 de março de 2008

The Velvet Underground - Venus in Furs (1967)

Há uma imagem particularmente forte em Last Days, de Gus Van Sant.

O grupo de amigos (?) de Blake (o Kurt Cobain de Van Sant) chega a casa no estado pouco sóbrio que caracteriza todo o filme. Enquanto três deles se envolvem aleatoriamente, o outro dirige-se ao gira-discos e põe um vinil a tocar. Senta-se, alheio ao envolvimento por trás dele, tira o gorro de lã e, inerte, começa a cantar. Severin, Severin...

A canção é Venus in Furs, dos Velvet Undergound.

A banda liderada por Lou Reed e subsidiada por Andy Warhol marcou a música de forma muito particular. Quando em 1967 lançam The Velvet Underground & Nico, o disco "da banana", ninguém sonhou - muito menos os membros da banda - a influência que teria em músicos como David Bowie ou Iggy Pop.

Os Velvet Underground levaram à letra a sua designação, e nunca tiveram grande sucesso comercial. Nem o quiseram. A sonoridade e o experimentalismo com que faziam música estavam décadas bem à frente do seu tempo.

Os conflitos internos eram notórios. Nico (voz) nunca foi considerada parte integrante da banda, daí o título dado ao primeiro disco. Andy Warhol seria "despedido" em 1968.

Venus in Furs não é uma canção "fácil", ainda hoje. Como, de resto, toda a discografia dos Velvet Underground. A sonoridade da banda é de um psicadelismo bastante denso e as letras abordam temas difíceis de "ingerir", mesmo nos dias que correm.

A minha proposta para hoje tem como tema mais imediato o sadomasoquismo, mas parece-me ir muito além disso. E em Last Days, Venus in Furs intensifica ainda mais a cena. Lou Reed, como já disse aqui, canta como se falasse consigo mesmo, às vezes arrasta as palavras. Dá-lhes estranhas entoações, sem se preocupar com um estilo. Os outros músicos também. Tocam como se tocassem para o seu próprio umbigo. Parece que nada importa.

Assim é também o espírito da(s) personagem(s) de Gus Van Sant. Ali sentado, gorro de lã entre as mãos, imóvel, acompanha Lou Reed com a mesma leveza. Às vezes franze o rosto, mas só quando diz(em) que está cansado, que poderia dormir mil anos seguidos. Nada importa. Lá atrás, o roçar de corpos, despreocupado. E com a mesma despreocupação se levanta, vai até à cozinha, diz uma série de disparates, para depois voltar, à mesma posição. Severin, Severin...

E depois engana-se no verso, com a mesma serenidade apática. ... speak so sweetly...


Venus in Furs, The Velvet Underground. Arrepiante.


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"I am tired, I am weary,
I could sleep for a thousand years,
A thousand dreams that would awake me,
Different colors made of tears"

terça-feira, 4 de março de 2008

David Fonseca - Kiss Me, oh, Kiss Me (2007)

Em 1998 os Silence 4 marcavam a minha geração. Silence Becomes It apresentou o quarteto de Leiria e tornou-se um dos discos mais vendidos nesse ano. A música acústica e a poesia, maioritariamente cantada em inglês, vinha de encontro às expectativas adolescentes. Havia Borrow, muito orelhudo; My Friends, mais poderoso; Angel Song, a balada. E havia o sussurro de Eu Não Sei Dizer. E havia Sérgio Godinho em Sextos Sentidos. Mas também havia o sabor a transgressão de Sex Freak, a faixa escondida.

A então banda de David Fonseca entrou para a banda sonora da minha vida e em Junho de 2000, não cabia em mim de excitação com o lançamento de Only Pain is Real. Grande disco, ainda hoje. Muito mais maduro que o disco de estreia, também muito mais denso. Ninguém crescia o suficiente em 2 anos para ouvir aquele disco sem estranheza adolescente. E que bem que sabia isso.

Vi os Silence 4 pela primeira vez ao vivo pouco mais de um mês depois do lançamento de Only Pain Is Real. E a estranheza do público na sua maioria (muito) jovem era evidente. Se Silence Becomes It tinha sido "consumido" como cerejas, Only Pain is Real era muito mais difícil de digerir. Eu delirei.

Depois veio a notícia: não haveria mais discos dos Silence 4. A banda tinha-se separado.

Cada um dos músicos seguiu a sua carreira a solo ou noutros projectos, mas foi David Fonseca quem mais deu que falar. Em 2003 regressa, em nome próprio, com Sing Me Something New.

O primeiro avanço, The 80's, surpreendeu-me. Ouvi-o na rádio ainda antes do lançamento do álbum. Aquilo soava mesmo aos anos 80. Mas não era uma cover, era um original. De David Fonseca.

O segundo single, Someone That Cannot Love, desiludiu-me. Ainda hoje acho a canção chata.
E The 80's não salvou o álbum. Não para mim.

Só em Outubro de 2005 me "reconciliei" com David Fonseca. Our Hearts Will Beat As One, o single, chegava às rádios, o disco com o mesmo nome às lojas. Na noite do lançamento lá fui eu à Fnac, verificar se Our Hearts Will Beat As One, o álbum, fazia justiça ao primeiro avanço.

E não é que fazia? Comprovei-o nos postos de escuta apinhados e depois no showcase.

Dreams in Colour, o último registo de David Fonseca, consolidou a "reconciliação".
O ex-Silence 4 está rodeado de bons músicos, tem um pé no passado e outro no futuro. O álbum de 2007 está recheado de boas canções e o DVD de edição limitada é uma boa surpresa.

Kiss Me, oh, Kiss Me, é um bom exemplo. De tudo. Temos o piano pelas mãos de Rita Redshoes, uma canção que tem tanto de clássico na melodia, como de discretamente inovador. É como uma lufada de ar fresco. Fresca não é a letra, sobre lutas perdidas, exaustão e expectativas goradas. Mas ainda assim fresca.

A versão presente no DVD é um espectáculo "virtual" de uma one man band: David Fonseca toca cada instrumento separadamente e depois a edição faz o resto.

Um efeito engraçado, para Kiss Me, oh, Kiss Me, David Fonseca.

E a história continua.

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"And the cracks in the pavement
Yeah, we've all fell there before"

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Não posso deixar passar a oportunidade

de chamar a atenção para o novo álbum da Rita Redshoes, prestes a chegar.
Ainda aqui vou falar dela e do novíssimo Golden Era.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Lou Reed - Modern Dance (2000)

No vídeo de Modern Dance, Lou Reed sobe ao palco vestido de galinha.

Corria o ano de 2000, Ecstasy chegava aos escaparates, e aquela imagem ficou.

E é assim, vestido de galinha, que Reed conversa consigo mesmo, divaga, sobre o melhor destino a dar à sua vida.

Há uma altura na vida de um homem em que, inevitavelmente, ele quer estar em todo o lado, menos onde está. Já o dizia Variações, diz também o ex-Velvet Underground, dizemos todos nós, mais tarde ou mais cedo.

É isto que sempre me impressionou na música de Lou Reed e, de certa forma, também nos Velvet Underground: a forma desprendida como se vão desfiando palavras, tecendo considerações. Como se de facto se tratasse de um monólogo. Como se se tratasse de uma conversa para os seus botões. Ninguém mais está a ouvir.

É esta a sensação que se tem ao ouvir Modern Dance.

Talvez Reed deva mudar-se para Amesterdão.
Ou comprar uma quinta no Sul de França e apaixonar-se.
Mas talvez ela não queira ser sua mulher.
Talvez a vida da cidade não tenha sido feita para ele.
Talvez seja melhor partir para a Índia e estudar cânticos.
(Não é vida ser-se mulher de alguém.)

O que interessa é fugir, não se sabe bem de quê. Se da roda-viva da cidade, se da solidão.

É que nas danças modernas, nunca sabemos com quem dançamos.
E quem nunca quis ser, apenas e só, mais um anónimo?


Modern Dance, Lou Reed, a minha proposta para hoje.


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"Maybe I should move to Rotterdam, maybe move to Amsterdam...
I should move to Ireland, Italy, Spain, Afghanistan where there is no rain...
Or maybe I should just learn a modern dance..."

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Para apontar na agenda...

Lou Reed ao vivo em Loulé, dia 20 de Julho. Um concerto para revisitar o álbum Berlin, de 1973. A não perder.