terça-feira, 4 de março de 2008

David Fonseca - Kiss Me, oh, Kiss Me (2007)

Em 1998 os Silence 4 marcavam a minha geração. Silence Becomes It apresentou o quarteto de Leiria e tornou-se um dos discos mais vendidos nesse ano. A música acústica e a poesia, maioritariamente cantada em inglês, vinha de encontro às expectativas adolescentes. Havia Borrow, muito orelhudo; My Friends, mais poderoso; Angel Song, a balada. E havia o sussurro de Eu Não Sei Dizer. E havia Sérgio Godinho em Sextos Sentidos. Mas também havia o sabor a transgressão de Sex Freak, a faixa escondida.

A então banda de David Fonseca entrou para a banda sonora da minha vida e em Junho de 2000, não cabia em mim de excitação com o lançamento de Only Pain is Real. Grande disco, ainda hoje. Muito mais maduro que o disco de estreia, também muito mais denso. Ninguém crescia o suficiente em 2 anos para ouvir aquele disco sem estranheza adolescente. E que bem que sabia isso.

Vi os Silence 4 pela primeira vez ao vivo pouco mais de um mês depois do lançamento de Only Pain Is Real. E a estranheza do público na sua maioria (muito) jovem era evidente. Se Silence Becomes It tinha sido "consumido" como cerejas, Only Pain is Real era muito mais difícil de digerir. Eu delirei.

Depois veio a notícia: não haveria mais discos dos Silence 4. A banda tinha-se separado.

Cada um dos músicos seguiu a sua carreira a solo ou noutros projectos, mas foi David Fonseca quem mais deu que falar. Em 2003 regressa, em nome próprio, com Sing Me Something New.

O primeiro avanço, The 80's, surpreendeu-me. Ouvi-o na rádio ainda antes do lançamento do álbum. Aquilo soava mesmo aos anos 80. Mas não era uma cover, era um original. De David Fonseca.

O segundo single, Someone That Cannot Love, desiludiu-me. Ainda hoje acho a canção chata.
E The 80's não salvou o álbum. Não para mim.

Só em Outubro de 2005 me "reconciliei" com David Fonseca. Our Hearts Will Beat As One, o single, chegava às rádios, o disco com o mesmo nome às lojas. Na noite do lançamento lá fui eu à Fnac, verificar se Our Hearts Will Beat As One, o álbum, fazia justiça ao primeiro avanço.

E não é que fazia? Comprovei-o nos postos de escuta apinhados e depois no showcase.

Dreams in Colour, o último registo de David Fonseca, consolidou a "reconciliação".
O ex-Silence 4 está rodeado de bons músicos, tem um pé no passado e outro no futuro. O álbum de 2007 está recheado de boas canções e o DVD de edição limitada é uma boa surpresa.

Kiss Me, oh, Kiss Me, é um bom exemplo. De tudo. Temos o piano pelas mãos de Rita Redshoes, uma canção que tem tanto de clássico na melodia, como de discretamente inovador. É como uma lufada de ar fresco. Fresca não é a letra, sobre lutas perdidas, exaustão e expectativas goradas. Mas ainda assim fresca.

A versão presente no DVD é um espectáculo "virtual" de uma one man band: David Fonseca toca cada instrumento separadamente e depois a edição faz o resto.

Um efeito engraçado, para Kiss Me, oh, Kiss Me, David Fonseca.

E a história continua.

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"And the cracks in the pavement
Yeah, we've all fell there before"

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Não posso deixar passar a oportunidade

de chamar a atenção para o novo álbum da Rita Redshoes, prestes a chegar.
Ainda aqui vou falar dela e do novíssimo Golden Era.

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