quarta-feira, 26 de março de 2008

Wordsong - Les Mots (2002)

Musicar grandes poetas é sempre uma operação de alto risco. E foi este o meu primeiro pensamento ao ouvir (Brave) Save My Soul, single de apresentação para Pessoa, segundo álbum do projecto Wordsong.

Constituído por algumas das mais míticas figuras do panorama musical português - Pedro D'Orey (Mler If Dada), Alexandre Cortez (Rádio Macau), entre outros - este projecto multimédia revisita a poesia de Al Berto, no primeiro álbum (2002) e de Fernando Pessoa no segundo (2006).

Curiosamente a cronologia parece estar trocada: Pessoa introduziu-me no mundo Wordsong e só depois descobri o primeiro trabalho.

Ora, dizia eu que musicar poemas clássicos é perigoso. Não que os Wordsong não o tenham feito com competência. Não é isso. É que há um quê de quase sagrado nas palavras escritas que lemos nos livros da escola e da biblioteca da terra. E é estranho ver aquelas palavras imaculadas na boca de um tipo magro que gesticula e dança por entre luzes, figuras e sons estranhos.

(Brave) Save My Soul, com excertos de Pessoa, soube-me a pouco, quando a ouvi na rádio pela primeira vez. É preciso ver Wordsong ao vivo para que a verdadeira essência do projecto se revele e nos conquiste. Os registos de estúdio ficam muito aquém do espectáculo em palco, muito por culpa dos efeitos visuais a cargo de Nuno Franco no primeiro álbum e de Rita Sá no segundo. Mas também por culpa do carisma emanente da voz e presença de Pedro D'Orey.

Ao vivo, os Wordsong respiram e transpiram mesmo poesia. Há um envolvimento inexplicável daqueles homens em palco com as palavras e os sons.

Proponho para hoje Les Mots, excertos do poema Le Plus Grand Calligraphe, de Al Berto. Uma canção que se entranha, de ritmo irresistível, ou não fosse mesmo assim a cadência da poesia de Al Berto.

Sem mais palavras, para ouvir e saborear, Les Mots, Wordsong.


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"les mots,
les mots fruits,
les mots jus,
les mots à mordre, les mots"

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