sexta-feira, 18 de abril de 2008

Pearl Jam - 4/20/02 (2003)

Abril é o mês do luto para o grunge.

Em 1994, a 5 deste mês fatídico, Kurt Cobain era encontrado morto na sua casa em Seattle. Muita tinta correu, suicídio ou homicídio, não havia consenso. A nota de despedida encontrada ao lado do carismático líder dos Nirvana levou a melhor, e a versão suicídio foi oficializada.

O homem morreu, a obra ficou e o mito nasceu naquela dia.

7 anos depois, a 20 de Abril, o corpo de Layne Staley era encontrado já em avançado estado de decomposição. Não houve bilhetes nem armas, a causa da morte era clara como água: uma dose letal de heroína combinada com cocaína. Ironias, coincidências, acasos, as perícias mostraram que o vocalista dos Alice in Chains morreu por volta do dia 5 de Abril, tal como Cobain.

Já aqui falei de Lost Dogs, o disco de raridades e lados B, que é uma pérola na discografia dos Pearl Jam. O álbum de 2003 incluía 4/20/02, a faixa escondida no disco 2. Quem deixar correr Bee Girl vai encontrar, algures aos 6 minutos, a canção que Eddie Vedder gravou no dia em que soube da morte do amigo Staley.

É um tema arrepiante, não só por ser uma homenagem póstuma, mas sobretudo pela forma como é interpretado. É Vedder, sozinho com a sua dor e raiva, à guitarra. Às cordas imprime um tom às vezes triste, às vezes enraivecido. As palavras são duras. Eddie Vedder faz acusações, recrimina o uso prolongado de drogas, fala directamente a Layne Staley, livra-o de culpas (afinal poderia ser qualquer um de nós), sente-se ofendido.

É de uma brutalidade desmedida ouvir 4/20/02. Arrepia e não é pouco, a quem é fã do grunge e a quem não é. Durante algum tempo - confesso - não consegui pôr a faixa escondida de Lost Dogs a tocar.

4/20/02, os Pearl Jam em homenagem a Layne Staley.

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"lonesome friend, we all knew
always hoped you'd pull through
no blame, no blame
no blame, it could be you
using, you can't grow old using"

2 comentários:

Fátima disse...

Sobre o Kurt, lembrei-me de um filme. «The Last Days» de Gus Van Sant. Podia ser giro para te aconselhar mas infelizmente não gostei, demonstra tanto a angústica que ele viveu nos «últimos dias» que é demasiado seca... além disso nunca achei o protagonista (michael pitt) muito interessante nem brilhante ao nível da representação...

Patrícia Raimundo disse...

Obrigada mais uma vez pelo comentário.

Também partiho da tua opinião sobre o "Last Days". Gus Van Sant quis retratar Kurt Cobain sem retratá-lo verdadeiramente. Quis que Blake fosse e não fosse Kurt Cobain. No geral o filme não está muito bem conseguido. Há cenas verdadeiramente aborrecidas e que nem têm muito a ver com o mundo de Cobain, sequer com o mundo de um músico.

No entanto há algumas cenas em "Last Days" que não o tornam na perfeita desilusão. No post de 5 de Março, falei aqui de uma delas, a propósito da música "Venus in Furs", dos Velvet Underground. Na verdade, para mim, as melhores cenas são as que estão directamente ligadas à música (e que estranhamente são poucas), como aquela em que Blake toca furiosamente os instrumentos e que é filmada de fora, de longe.

"Last Days" não é um filme para os fãs do grunge. Também não sei se o será para os cinéfilos. Como dizes os diálogos, quando existem, são pobres e Michael Pitt deixa muito a desejar.