terça-feira, 21 de abril de 2009

O Maquinista - O Silêncio é o Paraíso (2009)

O Sérgio Godinho tem razão. Isto anda tudo ligado.

Tenho andado cada vez mais embrenhada no mundo do spoken word. Que género fascinante! Está lá tudo, música, literatura, imagem, performace. Uma mistura que, quando bem feita, arrepia mesmo.
A palavra dita acompanhada por música e a chamada slam poetry não é coisa de hoje. Desde o final da década de 20 que muitos o fazem.
Lá fora os torneios espontâneos de slam enchem os clubes. Os espaços nocturnos enchem-se de poesia. Por cá, as coisas têm o seu tempo. E a seu tempo também a poesia vai invadir os clubes. O caminho já tem sido (bem) trilhado por alguns nomes de referência como Adolfo Luxúria Canibal, Wordsong, Rodrigo Leão, Tiago Gomes e Tó Trips ou, mais recentemente, João Branco Kyron, O Maquinista.

Ambientes musicais densos, uma voz quase sussurrada, cansada e poemas estonteantes. É assim o álbum anónimo d' O Maquinista. Inspirado em nomes como Kerouac ou Burroughs, João Kyron dá ênfase às palavras, envolve-as em música, transpira poesia.

É bom saber que ainda há gente que não tem medo das palavras, de as explorar até às últimas consequências.

(Mal posso esperar pelo silêncio de Junho... Acho que Lisboa não vai ser a mesma depois disto... Não depois de tanta poesia, de tanta palavra, de tanta música...)

Numa piscadela de olho ao que aí vem, O Silêncio é o Paraíso, O Maquinista.

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Eu queria ouvir as palavras entorpecidas pela fúria acumulada durante a minha longa ausência,
Mas ela só me olhava olhos nos olhos.
E o silêncio que havia sido o paraíso,
O silêncio era o abismo.

Eu só queria ouvir novamente o bálsamo contido na sua voz suave,
Mesmo sabendo que a ausência fora longa demais.
Mas ela imóvel olhava-me nos olhos.
E o silêncio que havia sido o paraíso,
O silêncio era o abismo.


O silêncio é o paraíso.

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