segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Charles Wright & The Watts 103rd Street Rythm Band - Express Yourself (1971)

No final dos anos 60, e em plena década de 70, depois dos hippies, a mensagem de liberdade veio da voz e do suor da comunidade afro-americana. Talvez não tenha sido uma revolução tão política, como foi a dos hippies, mas o funk fez a revolução do corpo. Tanto por explorar ritmos que se infiltram nos corpos e os fazem dançar de todas as maneiras e feitos, como pelas mensagens que passa: faz aquilo que tens que fazer. Aquilo que gostas. Solta-te.

Para mim, toda a essência da mensagem funk está neste Express Yourself, embora não seja o mais efusivo dos clássicos do género. É que está lá tudo. O assumir de uma sexualidade que faz bem, o reconhecimento (e mais que isso...) do corpo, a liberdade de se ser quem é e de o dizer sem preconceitos. É um hino à tua liberdade mais íntima, àquela que, nestes tempos tão modernos, parece ficar esquecida, relegada para segundo plano. Somos livres, democraticamente livres, legalmente livres, mas nem todos conseguimos o prodígio de sermos livres connosco próprios. O funk é isso.

Também é ritmo, também é dançar até que os pés doam e o suor escorra pela cara e pelas costas abaixo, também é libertação do corpo e da mente. Também, também...

Express Yourself, de Charles Wright, não é um pedido. É uma ordem.

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"Some people have everything, and other people don't.
But everything don’t mean a thing if it ain´t the thing you want.
Express yourself!"

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Não podia deixar de lembrar aqui a perda que foi a morte inesperada de António Sérgio. Foi também por causa dele e da sua Hora do Lobo que me apaixonei pela rádio, que me apaixonei cada vez mais por música e pela divulgação. Talvez a única forma verdadeiramente digna de se lhe prestar homenagem, para além de todas as palavras, é continuarmos todos a ouvir e a apoiar a boa música que se faz, aqui e ali.

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