quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Lulu Blind - Foge de Ti (2001)

Foi em 2001 que conheci Tó Trips.
Foge de Ti, primeiro single para o álbum com o mesmo nome, chegava às rádios e eu chegava aos Lulu Blind.
Era rock do bom, puro e duro. A voz arranhada de Trips, temas difíceis, ambientes áridos, letras improváveis.
Foge de Ti, o álbum, era um objecto estranho na minha estante adolescente.
Donuts no céu...
Coisa feia esta de citar-me a mim mesma. Mas o motivo é mais que justo. Não sei há quanto tempo não me dava tanto gozo pôr um disco a tocar.
Em Abril falava do meu "reencontro" com Trips, a propósito de Lusitânia Playboys, o último trabalho dos Dead Combo. Hoje, voltei a cruzar-me com o guitarrista. Magro, blusão de cabedal, de preto da cabeça aos pés, cabelo desgrenhado, atravessou o escritório sempre naquele passo acelerado, de quem está só de passagem. A pressa não o faz deixar de dizer um afável mas distraído bom dia e um adeus, sempre em andamento.
Por mais anos que passem, por mais projectos em que o veja, aquela voz rouca inconfundível vai fazer-me sempre lembrar de Foge de Ti, o tal álbum branco do anjo astronauta, o terceiro e último na carreira dos Lulu Blind.
Sorri, voltei à minha peça no computador e estava assim encontrada a música do dia. A música não. As músicas do dia. Porque hoje quero propor um álbum inteiro. Vou regressar àqueles dias em que Foge de Ti passava na rádio que deixava sintonizada para adormecer.
Na altura a Internet não era recorrente nas nossas vidas. Ouvia aquele tema tão marcante na rádio e pensava que um dia, fosse como fosse, haveria de conseguir saber onde comprar aquele álbum. E aconteceu. Na secção de música de um impessoal hipermercado. Perdido no meio de compilações e música comercial, reluzia a brancura de Foge de Ti. Não pensei duas vezes e trouxe-o comigo.
Aqueles temas áridos não eram de fácil digestão para ouvidos tão verdes. Talvez tenha sido por isso que posso apontar Foge de Ti como um dos álbuns que mais significado tiveram para mim.
Soube-o hoje, quando o fui resgatar à estante, lhe limpei o pó e o pus de novo a rodar.
Políticas a metro, homem com cabeça de insecto, democracias gastas no tempo..., assim começa Eles. Politicamente incorrecto, aquilo que sou fã e acredito..., e continuava.
E depois havia aquele tema completamente surrealista, a faixa escondida, uma versão de Susto. Ouvia-a vezes sem conta, vezes seguidas, e imaginava filmes e histórias ocultas naquela canção que ainda hoje me arrepia. Baseada nela, escrevi um pequeno guião para uma curt(íssim)a-metragem sobre um tipo que se suicidava num velho barracão abandonado na estrada que dava para a escola. (tenho de ver onde pára isso...).
Se bem me lembro, Atirar-te ao Ar também chegou a ser single. Eu por ti sempre fui assim. Vou A Marte, até ao fim... Delicioso.
Depois havia a doce amante Heroína, que era meio bichinho, meio elefante. Os donuts no céu, de Foge de Ti. A sensualidade delirante de Vento (talvez um dos melhores temas do álbum). A fantástica história do Johnny que acordou de manhã, deu um beijo à mamã e fez-se ao mundo. A urgência de Hoje e tantas outras histórias... Tantas.
É mais que provável que nada disto faça sentido para si, que está a ler este blog. Não se preocupe por isso.
Para além do encontro fortuito de hoje, tenho me encontrado muitas outras vezes com Tó Trips. Para além dos Dead Combo, no fantástico projecto Reservoir Dogs, que revisita a banda-sonora dos filmes de Tarantino, nas ilustrações que assina (já em Foge de Ti o fazia!) como MacKintóxico, e nesta coisa simplesmente brutal que é On The Road, um espectáculo que Trips partilha com o multifacetado Tiago Gomes, em torno do livro com o mesmo nomes de Jack Kerouac, o pai da geração beatnik.
Por tudo isto (e desculpem qualquer coisinha), a música (e o álbum do dia) é Foge de Ti, dos Lulu Blind.
______
"Corre
Foge de ti.
Donuts no céu.
Tu e eu"

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